O cenário do combate à Covid-19 e aos seus efeitos pelo governo Bolsonaro é cada vez mais sombrio. Nem suas previsões de vacinação estão no campo das possíveis realizações. A inépcia se agrava com as notícias de que a oferta de vacinas no mundo são cada mais escassas, tendo em vista as prioridades dos países produtores. A irresponsabilidade segue o ritmo de sempre; a negação do problema desde as primeiras notificações de casos em território nacional.
A sequência de descasos é bem conhecida. Entre outras, a título de exemplo cabe lembrar a rejeição da oferta da Pfizer, a ruptura do contrato com o Butantan – que ofereceria 46 milhões de doses – e os próprios ataques infames de Bolsonaro à vacina de um modo geral. Há ainda as seguidas cobranças do STF de um plano de vacinação, que sempre foi postergado e modificado.
O mundo da ciência e da medicina tem recomendado a vacinação – há exemplos de sucesso no mundo -, mas o Brasil sequer consegue viabilizar a aquisição. Enquanto isso, bate recordes seguidos de contágio e mortes. Por essas e outras, é possível, sim, dizer que o governo Bolsonaro – em especial o presidente da República – é o grande responsável por essa tragédia social de enormes proporções.
A grande interrogação é a forma de enfrentar essa situação calamitosa. Por óbvio, ela passa por conter os desatinos do bolsonarismo. Urge a formação de um campo político com forças suficientes para vencer o negacionismo e a irresponsabilidade do governo, a começar pelas medidas de distanciamento social, seguidamente sabotada por Bolsonaro. Delas decorrem outras, como o socorro às emergências para evitar que o povo – especialmente os trabalhadores – sigam se expondo à contaminação.
O dilema passa pelo conceito de administração dos recursos públicos, que, diante da urgência da situação, devem estar prioritariamente a serviço do combate à pandemia a seus efeitos. É preciso prospectar possibilidades e concentrar esforços para viabilizá-las, o que implica somar forças políticas para quebrar as barreiras impostas por uma orientação macroeconômica contracionista e a serviço de uma ciranda financeira que, sobretudo diante dessa situação de tragédia social, não faz sentido.
A administração orçamentária deve obedecer às prioridades, que nesse caso salta à vista. Os dogmas do ministro da Economia, Paulo Guedes, seguidos à risca pelo governo Bolsonaro, já estão suficientemente desmontados teoricamente. Com base nessa premissa, o desafio é transformar essa constatação em ação política capaz de vencer os parâmetros ultraliberal e neocolonial da agenda bolsonarista para que o país possa enfrentar a sua emergência principal.
O grande problema está exatamente nesse ponto: somar forças, formular políticas urgentes e ampliar o leque de possiblidades para que as medidas sabidamente necessárias e reconhecidas como eficientes sejam adotadas. Não há como esperar por outra saída. O governo Bolsonaro tem dado demonstrações sistematicamente de que não seguirá pelo caminho da ciência, do bom senso e da responsabilidade social.
O povo brasileiro precisa, sem mais demora, de perspectiva principalmente de vacinação. É preciso a busca intensa e urgente de fontes para essa necessidade. Sem isso, a perspectiva do bolsonarismo é a de continuidade dessa insana escalada de mortes e contaminação. Todos os empenhados na busca de meios para conter essa tragédia têm a responsabilidade de somar forças, de forma unitária, e agir com a urgência cobrada pelos números decorrentes da pandemia.
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado