Os meus objectos (7)
Sempre que olho para ele, lembro-me da pessoa que o fez, do seu amor e do gesto simples da sua oferta.
Há mais de 40 anos que construo uma pequena colecção de elefantes. Não elefantes verdadeiros mas pequenos objectos em que eles figuram: em madeira, em porcelana, em plástico ou em pano. Não sei explicar bem esta colecção. Sei que começou quando a minha avó Hermínia me ofereceu um pequenino elefante de prata. Foi numa férias em que estava em casa dela na Costa Nova. Pouco depois, influenciado por um programa de televisão que tinha visto sobre um coleccionador de mochos, decidi começar a minha própria colecção. E, com o tempo, continuei a comprar. Os amigos ofereceram-me. Hoje, a manada de elefantes existente em minha casa já atinge as muitas dezenas.
No entanto, há um que me acompanha há 30 anos e que me diz muito: um elefante de cortiça que foi feito à mão e de propósito para me ser oferecido. A verdade é que desde o dia (em 1983) em que me foi oferecido e o dia hoje, ele esteve sempre comigo e vejo-o diariamente. Há mais de 10 anos, para estar próximo e o sentir melhor, está em cima da minha secretária no escritório. Sempre que olho para ele, lembro-me da pessoa que o fez, do seu amor e do gesto simples da sua oferta. As nossas vidas, entretanto, deram muitas voltas. Mas, a verdade é que sempre senti que este elefante era o símbolo e a prova de que, quando gostamos de alguém, estamos sempre juntos, ainda que distantes. E, se distantes, nada melhor do que um elefante para nos transportar de regresso a casa. De regresso aos braços da pessoa que nos ama e nós amamos. Aqui estou.