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Domingo, Dezembro 22, 2024

Pela defesa da Saúde Pública e de outros direitos fundamentais das populações imigrantes de Odemira

Odemira tem sido notícia nos últimos dias por causa da pandemia COVID 19 e do seu impacto nesta região. É um dos concelhos que não pode progredir no confinamento e duas das suas freguesias encontram-se sob cerca sanitária. Para estas circunstância não são alheias as condições de vida dos trabalhadores imigrantes dos quais dependem, quase exclusivamente, as explorações agrícolas da região.

Transcrevemos na integra o Comunicado de Imprensa do SOS Racismo:

Odemira tem sido notícia nos últimos dias por causa da pandemia COVID 19 e do seu impacto nesta região. É um dos concelhos que não pode progredir no confinamento e duas das suas freguesias encontram-se sob cerca sanitária. Para estas circunstância não são alheias as condições de vida dos trabalhadores imigrantes dos quais dependem, quase exclusivamente, as explorações agrícolas da região.

O SOS Racismo tem alertado que a pandemia COVID 19 afeta de forma particular grupos de cidadãos vulneráveis, nomeadamente pessoas racializadas e a população mais pobre, nestes se incluindo parte significativa da população imigrante. A falta de condições de habitabilidade em que muitos destes imigrantes se encontram, com risco grave para a sua saúde e para a saúde pública, exige uma rápida resposta.

E a resposta não pode ser a estigmatização! Nem remediativa e circunstancial, apenas focada na superação das condições de risco sanitário! Pelo contrário, a resposta tem que combater ativamente os mecanismos que permitem e sustêm circunstâncias de vida e trabalho indignas e que violam os mais básicos direitos à habitação, saúde, integração social e autonomia. Exige-se que surja uma resposta de reação integrada, não só para o acesso à saúde, mas também para o acesso à habitação digna e a relações laborais que garantam a autonomia individual, incluindo a financeira. O aproveitamento das circunstâncias dramáticas de vida não pode servir os interesses da especulação imobiliária e da exploração abusiva de mão-de-obra.

Às condições de inabitabilidade que vêm sendo notícia estão associados preocupantes indícios de práticas verdadeiramente criminosas – desde o tráfico humano, ao abuso dos empregadores que confiscam documentos aos imigrantes, até à exploração desmedida destes com a sua pior concretização em práticas de verdadeira escravatura. Todos estes indícios não são novidade e o SOS Racismo, como muitas outras associações e entidades, têm vindo a denunciar os atropelos graves à Lei e aos Direitos Humanos que se verificam nesta zona do país. Estas histórias de abuso pelos senhorios e empregadores, bem como a sua relação a redes de tráfico humano, são conhecidas e não são aceitáveis, têm de ser explicitamente denunciadas, consequentemente investigadas e frontalmente combatidas. Exige-se às autoridades competentes o esclarecimento rápido destes casos e condenação que quem vive à custa da miséria e exploração de pessoas.

É com preocupação que o SOS Racismo assiste hoje ao elevar dos receios sobre o risco para a saúde pública associada às populações imigrantes. O risco de estigma é real. O risco para a saúde dos próprios é real. A saúde tem de ser protegida, o estigma tem de ser combatido e os indícios de práticas criminosas de exploração destas populações não pode encontrar respaldo da inércia e incúria das instituições.

Uma última nota para a posição assumida pelo Bastonário da Ordem dos Advogados, que não se mostrou preocupado com a violação dos direitos fundamentais à habitação, à proteção da saúde, ao trabalho ou à dignidade humana. Não se mostra preocupado com evidências de exploração laboral e tráfico humano. O que move verdadeiramente o Bastonário da Ordem dos Advogados é contestar uma requisição civil que se fundamenta em razões humanitárias e de saúde pública. E só isso faz com que corra para Odemira e percorra telejornais em horário nobre. Quanto à defesa de direitos humanos, o Bastonário da Ordem dos Advogados foi claro: a Ordem dos Advogados não está disponível para estar ao lado dos que sofrem e dos que vêem os seus direitos fundamentais violentados. Esperávamos mais de uma entidade que deveria ter como propósito defender os direitos humanos e a democracia.

Todo este cenário é revelador da cumplicidade entre o tecido empresarial, os interesses individuais e privados e as instituições legais e de governança e da tolerância que daqui decorre face à desumanização de grupos de pessoas racializadas e imigrantes.

4 de maio de 2021
SOS Racismo

 


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