“A Colômbia está de pé contra a política de extermínio e terrorismo de Iván Duque”, afirma Juan Pablo Tapiro, integrante do movimento Marcha Patriótica.
“O que estamos vendo desde 28 de abril nas gigantescas manifestações que tomam as ruas contra a reforma tributária de Iván Duque é que a Colômbia está de pé. Há uma conscientização e uma mobilização, principalmente da juventude, um repúdio massivo à política de extermínio praticada pelo governo fascista e neoliberal”.
A afirmação é do professor Juan Pablo Tapiro, integrante da equipe das Relações Internacionais da Marcha Patriótica – movimento social e político colombiano – direto de Cali, capital do departamento de Cauca, o epicentro dos protestos.
Vivendo na pele “a política de terrorismo de Estado”, que já deixou dezenas de mortos e centenas de presos e feridos nos últimos dias, o ativista relatou a dor do sangue correndo e de ter “ouvido helicópteros militares sobrevoarem os bairros e tiroteios, enquanto o governo Duque fortalece a repressão trazendo mais 700 policiais e 300 militares do Exército para Cali”. “Não há diálogo, o que temos são bombas, tiros e cassetetes. É o que pôde ser presenciado contra a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, que foi até ameaçada de morte. É o que pode ser visto contra quem se levanta nos protestos, nos pontos de bloqueio e panelaços para denunciar a fome, a pobreza extrema, o desemprego e a informalidade”, explicou.
“O resultado da ação criminosa de tropas que agem de forma covarde, confiando na impunidade contra os manifestantes, está evidenciado nas cifras da violência praticada nas últimas manifestações, tudo apurado e documentado pela Organização Não Governamental (ONG) Temblores”, frisou Tapiro. Os números checados são absurdos e não param de crescer: “são 37 vítimas fatais – 30 delas em Cali; 222 vítimas de violência física; 110 feridos por armas de fogo; 831 detenções arbitrárias; 312 intervenções violentas e 17 vítimas de agressões nos olhos”.
“Guerra contra o povo”
“A guerra contra o povo segue, não querem nos deixar construir uma paz com justiça social, democracia e soberania. Desde a assinatura dos Acordos de Paz, em novembro de 2019, foram assassinadas mais de mil lideranças do movimento social e popular, mais de 270 ex-guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Gente que depôs as armas para ser massacrada logo depois por milicianos. As mortes se multiplicam, a repressão permanece e há uma juventude rebelde que não aguenta mais”, acrescentou.
Diante de tantos e tamanhos atropelos aos direitos humanos, apontou Tapiro, há a necessidade urgente do desmonte do Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad), o temido “esquadrão da morte”, conhecido por torturas e desaparecimentos, e pelo fim da Doutrina de Segurança Nacional e do “inimigo interno”, o que implica uma reforma integral da Polícia e do Exército Nacional – sob hegemonia da ideologia estadunidense. “Em vez disso, o que temos visto é a ampliação dos gastos militares, a compra de aviões de guerra e equipamentos bélicos, isso em meio a mais de 70 mil mortos pelo coronavírus e a completa inoperância diante do alastramento da pandemia”, condenou.
A intensidade das mobilizações forçou o governo a retirar recentemente do Congresso o projeto de reforma tributária e levou à deposição do ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla. O recuo fez com que o ex-presidente Álvaro Uribe, sabotador dos Acordos de Paz, ultradireitista, mentor e padrinho político de Duque, propusesse uma ampliação da repressão, com carta branca a policiais e soldados para atirar contra o que considera “a ação criminosa do terrorismo vandálico”.
Reforma tributária na lona
Recém-derrotado, o achaque tributário pretendia jogar sobre as costas dos trabalhadores e da classe média uma brutal carga de impostos para pagar a dívida externa – que hoje equivale a 52% do Produto Interno Bruto (PIB). “Mas não é somente a reforma tributária, da saúde, trabalhista e da previdência que estão em xeque. Claro que cada uma que vai caindo é conquista da mobilização social, assim como as renúncias de cada miserável ministro – como o da Fazenda – até que caia Duque. Ou pelo menos que o uribismo fique tão fragilizado que efetivamente seja derrotado nas eleições de 2022”.
Para Juan Pablo Tapiro, a vibração e o crescimento da resistência interna, somada às mobilizações de solidariedade ao povo colombiano, como o simbolismo da Torre Eifel ficar coberta com as cores da sua pátria, são marcos. “São apoios fundamentais para somar e ampliar forças, pôr fim ao massacre e derrotar o governo reacionário e fascista. Fora Duque!”, concluiu.
por Leonardo Wexell Severo, Jornalista e analista internacional | Texto em português do Brasil
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