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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Bob Dylan e a esquerda

José Carlos Ruy, em São Paulo
José Carlos Ruy, em São Paulo
Jornalista e escritor.

Em homenagem aos 80 anos de Bob Dylan, republicamos do artigo do saudoso jornalista e escritor José Carlos Ruy, um fã do artista, publicado em 15 de outubro de 2016 por ocasião de sua condecoração com o Prêmio Nobel de Literatura.

Bob Dylan foi anunciado na quinta-feira (13) como o Nobel de Literatura de 2016. Ao mencioná-lo, Sara Danius, da Academia Sueca, referiu-se a dois ilustres e antigos autores de textos que podiam ter acompanhamento musical: os gregos Homero, que teria vivido no século 8 a.C, a quem é atribuída a autoria dos poemas épicos Iliada e Odisséia, e a poetisa Safo, que viveu no século 7 a.C.) e autora de poemas dos quais se conhecem, hoje, inúmeros fragmentos e apenas um completo.

Esta referência a autores cuja distância no tempo é medida por milênios deixou de lado outra, mais próxima de nós, que a Academia também poderia ter citado: os autores que em nosso tempo moram nas periferias das grandes cidades e se dedicam ao hip-hop, mas aí seria pedir demais para aquele ambiente tão seleto…

De todo modo, a Academia Sueca homenageou, ao escolher Bob Dylan, aqueles que unem poesia e música para contar os problemas que vivem (políticos, existenciais, amorosos etc, etc, etc.).

Ainda mais no caso de Bob Dylan, que despertou para a música ouvindo um cantor e compositor visceralmente ligado à luta dos trabalhadores – Woody Guthrie, o cantor que foi ligado aos socialistas e comunistas até o momento em que saiu da vida, em 1967. Que se declarou filiado ao Partido Comunista dos EUA e usou sua arte, sua escrita e sua música para denunciar as mazelas do capitalismo.

Foi o herói da juventude de Bob Dylan, que se tornou seu amigo em 1961 e acompanhou até o final da vida com a convicção de que seria como ele. Escolha que reconheceu a declarar: “Eu disse a mim que seria o maior discípulo de Guthrie”. Dylan se tornou de fato num grande continuador de Woody Guthrie, aquele em cuja guitarra estava escrito: “This machine kills fascists” (“Esta máquina mata fascistas”).

A Academia Sueca poderia ter lembrado também da grande amiga, e namorada na juventude, de Bob Dylan, a cantora Joan Baez, que usou sua voz para cantar e denunciar a violência da repressão capitalista contra os trabalhadores. Ela é a cantora da memorável Joe Hill, que recorda a violência contra o sindicalista, cantor e compositor condenado à morte nos EUA e executado em 1915.

Bob Dylan está vinculado a esta tradição de luta. Na década de 1960 o hino da campanha pelos direitos civis foi a canção de sua autoria, que ficou clássica, Blowin’in the Wind. Ele usa sua música para cantar a dignidade humana, a luta contra a guerra, a opressão, o preconceito, a barbárie.


Texto em português do Brasil

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