Poemas de Delmar Maia Gonçalves
“O ilegal”
Meu irmão
semeou a morte
em território sagrado
Construi uma jangada de esperança
entreguei-me ao oceano
em busca de porto seguro
Mas escrito estava
em mar aberto
que havia uma linha
de fronteira entre a morte e a vida
O mar devolveu-me à morte
consentida por esse artifício
Mas a jangada essa…
pode passar a fronteira
e chegar ao destino
sem dono!
XXVII
Dai-me penas!
Penas!!!
Servi-me o néctar de Baco!
Se é infâmia ou fama
que sabeis vós disso, ignorantes?
Talvez apague meu país,
minha nação
tecto sagrado do meu mundo
e todos aqueles
a quem devo o que sou.
Talvez…!
XXVIII
De nada vale
chorar tua partidaDe nada vale
chorar tua ausência
definitiva e inútilDe nada vale
chorar uma notícia
antecipadamente anunciadaConsola-me enfim memorial
escutar tua voz
imortalmente amiga, eterna e infinitaSentir tua fraternal
amizade sem fronteiras
sentir tua genuína
simplicidade pulsar
sentir teu gesto
singular de inclusão
contra todas exclusões
sentir teu grito
silencioso e profético
de poesia para os poetasPoetarás mares
contra mares
para um reencontro fraterno
de mar aberto imortal
na solidão da morte
anunciada e para a eternidade das outras vidas!
XLV
Há palavras
que são como os seixos do caminho
há palavras
que são como o mar
E o mar companheiros
o mar chega ao infinito!
“Lágrimas”
As lágrimas secaram
no espectro da bala perfurante
e a palavra morreu
no exacto momento do parto.
III
Corvos de mau agoiro
Acordai!
Eis aqui o porvir anunciado.