No Brasil, infelizmente, a democracia várias vezes foi mutilada. Em 1964, a ditadura militar decretou o AI-5, fechou o Congresso Nacional, cassou mandatos de governadores, prefeitos, senadores e deputados. Prendeu, torturou e assassinou opositores, amordaçou a imprensa e infelicitou o Brasil por 21 anos.
A falta de democracia, de liberdade para fiscalizar e denunciar, resultou em mais abusos, desmandos, corrupção, desemprego, carestia e inflação sem controle.
Após uma prolongada resistência, da luta pela anistia ampla, geral e irrestrita, da campanha Diretas Já e mobilização nacional da Aliança Democrática, com Tancredo Neves à frente, a ditadura foi derrotada no Colégio Eleitoral e o povo brasileiro reconquistou a democracia e, em 1988, a Assembleia Nacional Constituinte elaborou uma nova Constituição.
Após 28 anos, novo golpe, através de um impeachment sem provas foi destituída uma presidente eleita. Um mandato ilegítimo sob o comando de Michel Temer pavimentou a eleição de Jair Bolsonaro, um político inexpressivo de conhecido perfil antidemocrático, useiro em homenagear milicianos, torturadores, admirador de ideias fascistas.
Na sua chapa à presidência Bolsonaro escolhe de vice um general. Eleito, estrutura seu governo com generais e outras patentes da ativa e da reserva nos cargos importantes, somando hoje cerca de sete mil militares.
Desde de o início do governo, desprezando o sistema democrático que garante a harmonia entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, entra em rota de colisão com o Congresso e com o STF.
O deputado Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara e ministros do Supremo Tribunal Federal que não se submeteram aos ditames de Bolsonaro, foram eleitos como inimigos e achincalhados por ele e seus eleitores insuflados pelas fake news fabricadas no gabinete do ódio.
Da ameaça constante, passa a articular abertamente um golpe com apoio de militares. Sem ser correspondido demite os três comandantes, do Exército, Marinha e Aeronáutica e nomeia aliados. Mesmo assim seu plano não obteve sucesso.
Sentindo crescer a insatisfação pelo seu governo e aumentar os pedidos de impeachment, resolve investir forte no Centrão, bloco numeroso e fisiológico do Congresso. Distribuindo verbas orçamentárias e inúmeros cargos consegue eleger o novo presidente da Câmara e do Senado e agora entrega de vez seu governo ao Centrão.
Mesmo sob seu controle o Congresso, continua dizendo que não consegue governar. Na verdade, é um engodo. A maioria da Nação já percebeu que Bolsonaro não governa por falta de competência.
Sem ter conseguido êxito para se tornar soberano mandatário, Bolsonaro, para tentar garantir a reeleição, implementa novo plano, o voto impresso.
O plano consiste em descaracterizar a urna eletrônica que impossibilita fraudes. Busca a volta do sistema antigo onde isso é possível, o retorno do voto de cabresto onde os patrões podem impor seu candidato aos empregados, os pastores aos seus fiéis, a milícia aos seus dominados.
Agora o maior inimigo de Bolsonaro é o TSE, que de forma unanime se posiciona em defesa do voto secreto, auditável, através da urna eletrônica, implementada nas eleições desde 1996, sem nunca ter havido registros de fraudes, e que serviu de modelo para 35 países que já adotam o mesmo sistema.
Antevendo nova derrota e diante da queda de sua popularidade nas últimas pesquisas, perde de vez a compostura, solta palavras de baixo calão, volta a ameaçar que sem voto impresso não haverá eleições em 2022.
A estratégia de Bolsonaro de se tornar um ditador não obtém êxito devido suas próprias e nefastas ações. O seu governo não apresenta nenhum saldo positivo, nenhuma obra expressiva e benéfica aos brasileiros.
A ação do seu governo diante da pandemia resultou na morte prematura de mais de 560 mil pessoas, por negar a ciência, impor medicamentos inadequados, protelar a compra de vacinas, atraso que segundo depoimentos na CPI do Senado, representantes do Ministério da Saúde estavam a negociar grossas propinas.
Bolsonaro está cada vez mais desmoralizado e isolado, até parte expressiva da elite que o apoiou, em recente manifesto já pede seu impeachment. Bolsonaro hoje é um cadáver político insepulto a espalhar sua pestilência.
por Aluísio Arruda, Jornalista, arquiteto e urbanista | Texto original em português do Brasil
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