Nesses tempos em que o “fator militar” domina o noticiário, é cada vez mais frequente ouvir comentaristas políticos enturmados gabando-se dos “em off” que recebem de generais moderados.
Referindo-se a eles como “militares moderados e legalistas”, interlocutores das conversas de bastidor afirmam que tanto quadros da ativa quanto da reserva estariam envergonhados diante do patético desfile. Ora, desnecessário ir a qualquer fonte para constatar o vexame já internacional. Mas consta que ninguém pediu demissão.
No campo da esquerda alguns defendem um gesto, uma mensagem, algo que restabeleça o diálogo com os militares para despertar um suposto nacionalismo adormecido. Muito se disse a respeito de uma tal carta que Lula escreveria. E a resposta do ex-Presidente foi certeira no sentido de assegurar que não há conversa especial com as Forças Armadas e que se quiserem fazer política devem renunciar ao cargo, tirar a farda e se candidatar.
No campo progressista há também os que compreendam e até defendam a necessidade de um “centrão moderado” como elemento estratégico para atuar na crise. Justificam a existência de caciques políticos palatáveis aos militares e que possam controlar os surtos de Bolsonaro, ainda que signifique enfraquecer a pressão parlamentar pelo impeachment.
E é nesse ritmo, de generais e parlamentares moderados, que assistimos à continuidade do grande acordo de liquidação nacional. Com jeitinho, o Presidente da Câmara se desembaraça da pressão que sofria pelo encaminhamento do superpedido de impeachment e passa a cumprir acordos feitos durante o recesso parlamentar.
Ao tempo em que administra o tamanho da derrota do governo na questão do voto impresso, colhe os frutos dos combinados de julho para colocar em pauta, com inaudita velocidade, diversos projetos de liquidação do patrimônio nacional e de destruição de direitos.
Logo na abertura das pautas do semestre a Câmara aprovou o projeto de lei que permite a privatização dos Correios. Hoje, a Comissão Especial da Câmara aprovou o texto base da PEC que institui o “distritão” com enorme perda de sentido político-partidário. No intervalo de espera para a votação do voto impresso, Lira viabilizou a aprovação da MP 1045/21, que renova a redução dos salários durante a pandemia. E, para a semana, garante pressa na aprovação do novo Bolsa Família, projeto que garantirá a popularidade de Bolsonaro rumo a 2022.
E alguém ainda acredita em impeachment? Com 229 deputados a favor do voto impresso, será que o recado não está claro?
por Carol Proner, Doutora em Direito, professora da UFRJ, diretora do Instituo Joaquín Herrera Flores – IJHF | Texto em português do Brasil
Fonte: Brasil247