Os meus pensamentos de tristeza são hoje dirigidos à esposa e aos familiares de Pedro Domingos Peterson, Professor Catedrático, PhD em Educação, um dos pedagogos angolanos mais notáveis com quem tive o prazer de trabalhar, conviver e aprender.
Natural de Maquela do Zombo (Uíge), com 81 anos, desapareceu um extraordinário intelectual, muito influenciado pela pedagogia francesa, e que marcou de forma indelével a história da educação em Angola dos últimos 50 anos, principalmente a partir de 1975.
Pedro Peterson, Chevalier e membro da Ordre des Palmes Académiques, foi professor do ensino primário e secundário, bem como Director do Magistério Primário na República Democrática do Congo. Em Angola, foi Consultor Sénior para a Educação na Delegação da Comissão Europeia, Director Nacional de Formação de Quadros de Ensino (DNFQE), Director do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento da Educação (INIDE) do Ministério da Educação, Director do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED) do Lubango (Huíla), Consultor na Comissão Educação, Cultura e Assuntos Religiosos na Assembleia Nacional do Povo e Coordenador da Comissão de Educação, Cultura, Saúde e Habitação do MPLA.
Palavras que as circunstâncias ditaram
Os momentos mais marcantes que me aproximaram de Pedro Peterson aconteceram no âmbito das reuniões da Comissão da Reforma do Ensino Superior (CRES) na Universidade Agostinho Neto, em 2007, e no Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda (ISCED de Luanda), na qualidade de professores desta instituição nos cursos de licenciatura de pedagogia e na Iª Edição do Curso de Mestrado em Ciências da Educação ministrado em Luanda.
Efectivamente, em 2011, no ISCED de Luanda, sob nossa coordenação, teve lugar a Iª Edição do Curso de Mestrado em Ciências da Educação, nas Especializações de Pedagogia do Ensino Superior e de Administração Educacional, um curso ministrado em parceria com o Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
No decorrer das muitas reuniões havidas no meu Gabinete do ISCED de Luanda e no escritório de sua casa, um imenso espaço recheado de livros e que transpirava saber, decorreram várias discussões, inéditas e muito interessantes, sobre o «Estado da Arte» da educação em Angola.
Nesse contexto de análise e diálogo educacional, onde me foram transmitidas muitas sábias palavras, o meu estimado amigo Pedro Peterson, no dia 21 de Dezembro de 2013, decidiu oferecer-me um exemplar da sua obra, denominada, “Palavras que as circunstâncias ditaram”, um documento que reúne muitas das suas pertinentes manifestações públicas sobre educação e formação de professores.
Pedro Peterson, ex-membro do Conselho Executivo da UNESCO, também foi Reitor da Universidade Jean Piaget de Angola, mas teve um papel mais notório e determinante no âmbito das políticas de formação de professores no ensino básico, cujas ideias centrais foram partilhadas no livro “Professor do ensino básico: perfil e formação”, e no quadro do ensino superior, onde experimentou toda a sua dimensão intelectual e experiência internacional.
De resto, a imponência intelectual e a simplicidade de Pedro Peterson, e o seu sonho de contribuir para uma Angola com níveis de literacia elevados, mais justa, com igualdade social, pode ser interpretada através da mensagem ilustrada na capa do livro “O professor do ensino básico: Perfil e Formação”, onde se pode observar, meninos a estudar por debaixo de um imbondeiro, uma árvore que, como acentuam Rui Ramos e Peixoto da Fonseca (1995), “só quem a viu é que a respeita e venera”.
Tal como o imbondeiro que se estende pelas florestas e regiões costeiras de Angola é considerado o “elefante do reino vegetal”, Pedro Peterson ficará para sempre na memória de todos nós como um eminente intelectual que procurou a excelência e equidade na educação.