Poema de Yvette Centeno
Acordar
Acordar é difícil,
à minha frente
não vejo um tempo novo
fecho os olhos mas é
um gesto fútil
porque não voltarei
já sei a adormecer.
Cumpro então um ritual:
espreitar o Facebook,
ver o que se passa por ali.
Tempo perdido,
mas se não faço sequer
o esforço de o perder
o que farei então de tanto tempo
que do dia me sobra
e de noite me ensombra
porque nada de novo fui fazer?
Definir o que é novo?
Na velhice adiantada
só o disfarce é novo
e tudo o mais é nada
me diria o poeta.
Impossível amar,
pois já se amou demais
e ainda menos lembrar
o que passou.
Assim vai indo o tempo
neste correr de vida.
Não foi desperdiçado,
mas é difícil viver
estando acordado.
(22 de Setembro, 2021)