Poemas de Delmar Maia Gonçalves
I
“Interpelação”
Sol que queimas
do lado das planícies
onde combate meu irmão
que “novas” me trazes?
E o sol em brasa responde:
O mensageiro traz-nos “novas” com cheiro de sangue e pólvora
e ainda o pó do lodaçal
seco que arrasto comigo!
II
Nos dias ácidos
que nos ofertam
adormeço-me
leprosamente solitário
fujo do rebanho
e todos me julgam!
III
“Pensamentos”
Meus pensamentos
não são imóveis
são como as ondas do mar
só não andam ao sabor do vento
vão e vêm
mas como um turbilhão de vendavais!
IV
“Céu invisível”
Quando meu amor chora
guardo suas lágrimas
num pedaço de céu invisível.
V
“Mestiçagem”
Somos resultado de uma adição
quando subtraímos esquecemo-nos que antes houve adição
Não nos podemos dividir mais
porque somos resultado da multiplicação
que resulta em humanidade
Feitas as contas
a adição só enriquece não empobrece.
VI
“Entre sonho e realidade”
Sonho
sonho permanentemente
desesperadamente
diariamente
utopicamente
mas vivo na realidade
Talvez se tivesse nascido
noutras épocas ou noutros espaços
tivesse conhecido Gandhi e King
Luthuli e Mandela
trocasse ideias
partilhasse ideais
fosse um herói de revoluções
concretizasse o sonho de muitos homens
e fizesse feliz a raça humana.
VII
“Mulher II”
Quero alcançar-te
ser-te fiel
algo me impede
sinto-o
talvez seja parte do meu ser
desconfiado e prudente
talvez te ame demasiado
para te querer
Prefiro estar só
Perdoa-me ser infame e maravilhoso.
VIII
“Impotência”
Nem a minha engenharia cerebral
pensadora e reflexiva
nem a minha mais humilde gramática chuabo
conseguem encontrar
resposta lógica e racional
para o miserável conformismo africano
no culto da mendicidade
Onde está o orgulho africano?
IX
Ventos do sul
por que me ofereces
uma pátria
podre nas entranhas?
X
Há palavras que são como os seixos do caminho
há palavras que são como o mar…
E o mar companheiros,
o mar chega ao infinito!!!