66ª SEMINCI – Semana Internacional de Cinema de Valladolid
Depois de na edição de 2020 a SEMINCI ter levado de vencida todas as dificuldades – redução drástica de lugares disponíveis, redução do número de filmes, estado de emergência, recolher obrigatório, dificuldades nas deslocações, ausência quase total dos intervenientes dos filmes, conferências de imprensa pela internet, e muitas outras adversidades – na edição que terminou no passado sábado quase tudo voltou à normalidade. Quase tudo, porque se mantiveram restrições na ocupação de salas, embora menos gravosas, e o uso de máscara foi obviamente obrigatório (algo que provavelmente veio para ficar). De resto, verificou-se o regresso do público em número muito significativo, um acréscimo notável no número de acreditados (muitos deles vindos de longínquas paragens) e a presença de muitíssimos realizadores, produtores e actores. Com tudo isto, e embora a SEMINCI continue a ser um evento em que se pode participar com grande tranquilidade, houve coisas que, este ano, se tornaram mais difíceis. Por exemplo, o acesso aos restaurantes… Nota-se que as pessoas estão a procurar avidamente reatar os seus hábitos de convívio e se, em 2020, os poucos clientes eram ansiosamente esperados à porta dos restaurantes este ano, sem reserva antecipada, era muito complicado arranjar um sítio para almoçar… Mas voltemos ao Festival para dar notícia do palmarés e da entrega dos prémios que, desta vez, e ao contrário do ano passado, teve um Teatro Calderón com muito mais gente na plateia que no palco.
‘Espiga de Ouro’ para “Last Film Show” do indiano Pan Malin
O vencedor da “Espiga de Ouro”, prémio para o melhor filme, foi “Last Film Show” produção indo-francesa realizada por Pan Malin. Um filme sobre o cinema e o seu fascínio. Uma espécie de “Cinema Paraíso” indiano que conta a história de um rapaz que, pouco a pouco, vai entrando nos segredos do mundo do cinema e que, apesar da incompreensão do pai, encontra um aliado no projeccionista do cinema da localidade onde vive. Um olhar romântico sobre um mundo que, com a chegada dos suportes digitais, é apenas uma saudade. “Last Film Show” não figurava no grupo dos maiores favoritos entre os participantes no Festival mas há que reconhecer que se trata de um filme simpático e que toca particularmente quem viveu experiências parecidas com as do protagonista. Apenas como curiosidade refira-se que a presidente do júri internacional foi Deepa Metha, realizadora indiana radicada no Canadá.
‘Espiga de Prata’ para “Sis Dies Corrents” da catalã Neus Ballús
“Sis Dies Correntes” (Seis dias corridos), foi outro dos vencedores do festival. Mais um título que não era falado como candidato a um prémio, embora tivesse obtido distinções no Festival de Locarno. Entre elas a de melhor interpretação masculina, para dois dos seus actores. Neste seu trabalho que tem um registo que oscila entre o documentário e a ficção, a realizadora Neus Ballús socorreu-se de actores não-profissionais, autênticos biscateiros de pichelaria e electricidade (um deles um imigrante magrebino), que protagonizam uma semana de trabalho recheada de um sem número de situações, por vezes cómicas ou quase surreais. Uma história divertida mas em que também há lugar para situações mais dramáticas e para a importância do relacionamento entre as pessoas.
“Sis Dies Corrents” obteve também o Prémio do Público na secção oficial.
Outros prémios da secção oficial
O prémio para o melhor realizador foi atribuído ao Fred Baillif, antigo jogador internacional de basquetebol, trabalhador social e posteriormente cineasta. Premiado em Berlim, Fred Ballif usou muito da sua experiência de vida na realização de “La Fam” (A Família) um filme que relata a experiência quotidiana dos educadores e de um grupo de jovens raparigas (todas representadas por actrizes não-profissionais) que vivem num centro de acolhimento temporário de adolescentes.
Com “La Fam”, Fred Baillif conquistou também o Prémio ‘José Salcedo’ para a Melhor Montagem e a Menção Especial do Júri.
O Prémio Pilar Miró para o Melhor Novo Realizador distinguiu Behtash Sanaeeha e Maryam Moghaddam pelo excelente “Ballad of a White Cow” (O Perdão), a procura por uma reparação por parte de uma mulher cujo marido se verificou ser inocente do crime pelo qual foi condenado à morte e executado. Um libelo contra a pena de morte numa obra, por muitos apontada como podendo aspirar à ‘Espiga de Ouro’, que revela uma grande maturidade dos seus autores que estão no início das suas carreiras como cineastas. Uma presença muito interessante do cinema do Irão que teve aqui um outro favorito: “Ghahreman” (Um Herói) de Asghar Farhadi, que ficou totalmente à margem do palmarés.
Os prémios de interpretação distinguiram o russo Yuriy Borisov por “Compartment nº 6”, Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes, em que interpreta um mineiro que partilha um compartimento de uma carruagem cama com uma jovem finlandesa, numa longa viagem de comboio até ao Ártico e para a kosovar Yllka Gashi em “Hive” (Colmeia) que mostra a vida a uma mulher que procura encontrar o marido desaparecido durante a guerra do Kosovo ao mesmo tempo que estimula as suas companheiras a lutarem pelo seu trabalho e subsistência económica num meio dominado pelos homens. “Hive” recebeu ainda o Prémio Fundos, atribuído este ano pela primeira vez, que procura reconhecer o filme que melhor mostra o fenómeno da inovação social. Registe-se que na cerimónia de entrega dos prémios Yllka Gashi fez um apelo para que a Espanha reconheça a independência do Kosovo. Portugal fê-lo em 2008.
De referir ainda que o veterano Paul Schrader, com “The Card Counter”, um dos favoritos para a vitória no Festival, recebeu o Prémio ‘Miguel Delibes’ para o Melhor Guião e que a japonesa Akiko Ashisawa foi galardoada com o prémio para a Melhor Direcção de Fotografia em “Vengeance is mine, all others pay cash”, co-produção entre a Indonésia, Singapura e Alemanha.
Os prémios das curtas-metragens da secção oficial
“Affairs of the Art” de Joanna Quinn e Les Mils conquistou a ‘Espiga de Ouro’ e o prémio para a Melhor Curta Europeia e “Mi Última Aventura” de Ramiro Sonzini e Ezequiel Salinas obteve a ‘Espiga de Prata’.
Filme francês ‘Mes frères et moi’ venceu na secção ‘Punto de Encuentro’
Nesta secção expressamente dedicada aos novos realizadores o vencedor foi o francês Yohan Manca com “Mes frèrers et moi”. O filme recebeu também o Prémio do Público nesta secção.
“Mis Hermanos Sueñan Despiertos” da chilena Claudia Huaiquimilla recebeu uma Menção Especial.
As curtas estrangeiras distinguidas em ‘Punto de Encuentro’ foram “The Criminals” de Serhat Karaaslan “Stories Keep me Awake at Night” de Jérémy van der Haegen (esta com uma menção especial.
O Prémio ‘La Noche del Corto Español’ foi para “Las Infantas” de Andrea H. Catalá. Juan Manuel Montilla ‘Langui’ recebeu uma menção especial com “Intentando”.
Outros filmes do palmarés
O Primeiro Prémio da secção “Tiempo de Historia” foi, ‘ex-aequo’, para o excelente ”My Childhood, My Country – 20 Years in Afghanistan” de Phil Grabsky e Shoaib Sharifi e “Writing with Fire” de Sushmit Ghosh e Rintu Thomas.
O Segundo Prémio foi para “Corsini interpreta a Blomberg y Maciel”, do argentino Mariano Llinás, um originalíssimo trabalho que nos dá a conhecer Ignacio Corsini um enorme cantor da Buenos Aires do século XX. Quem só tiver conhecido Carlos Gardel vai ficar surpreendido ao ver este filme. Entretanto procurem as músicas no Youtube…
Prémios das curtas de ‘Tiempo de História’:
- Melhor curta – “When We Were Bullies” de Jay Rosenblatt;
- Menção Especial – “La gàbia” de Adán Aliaga.
O Prémio do Público de ‘Tiempo de História foi para “Las Luchadoras” de Paola Calvo e Patrick Jasim.
De referir ainda os prémios seguintes:
- Prémio FIPRESCI – “The Worst Person in the World” de Joachim Trier
- Secção ‘Doc. España’ – “El Vent que ens mou” (O vento que nos move) de Pere Puigbert
- Prémio Castilla y León em Corto – “El rey de las flores” de Alberto Velasco e menção especial para “Marinera de luces” de Pablo Quijano
- Espiga Verde – “Animal” de Cyril Dion e menção especial para “I’m so sorry” de Zhao Liang
- Espiga Arco-Iris – ”Sedimentos” de Adrián Silvestre
- Prémio ‘Blogos de Oro’ – “The Worst Person in the World” de Joachim Trier
- Prémios da Juventude – Na secção oficial, “The Worst Person in the World” de Joachim Trier e, em ‘Puento de Encuentro’, “Persona non grata” de Lisa Jespersen, com uma menção especial para “The Dorm” de Roman Vasyanov.