Poemas de Delmar Maia Gonçalves
I
“Jamusse”
Num modesto
bairro de caniço chuabo
nasceu um menino misto
que nem era branco
nem era negro.
Mas nunca pensara em raças ou cores
nem rejeitara os Zambezes do seu sangue
ou os seus glóbulos caucasóides
Jamusse
era um menino africano
abençoado pelos deuses
Por isso o amaldiçoaram
vezes sem conta os homens
Por isso vozes de ódio e raiva se levantaram
vozes de brancos e negros
vozes de raiva e ódio
Gritos coléricos surgiram
Vai-te embora misto aborrecido!
Vai-te embora misto sem bandeira!
Vai-te embora preto!
Vai para a tua terra!
Jamusse
nunca compreendeu a mensagem
nunca entendeu a linguagem
E ainda hoje se interroga
de que terra falavam?
de que bandeira?
de que cores?
de que raças?
II
“O meu Eu”
O meu eu
são vários eus
por isso
não falo por mim.
O meu eu
são vários eus
por isso
não penso por mim.
O meu eu
são vários eus
por isso
não escrevo por mim.
Falarei pelo meu eu
que é vários eus
Pensarei pelo meu eu
que é vários eus
Escreverei pelo meu eu
que é vários eus!
Mas a realidade
do meu eu
é tão minha
como o é
dos meus eus!
III
“Bastará estar vivo para se morrer.”
IV
“Pátria”
És o vesúvio estrelado
em chamas
que plantas meu extermínio.
V
Está reunido
o Conselho de Anciãos
Não cabem na roda da fogueira
Quizumbas,
Lobos,
Mambas,
Raposas,
Mabecos,
Abutres
e Corvos de mau agoiro
Cordeiros sorriem de gáudio
É a morte da morte anunciada!
VI
Esperarei
sempre o inesperado
para alcançar o esperado!
VII
Inconformado me quedarei
dando um valente estalo
no vazio do meu pranto.
VIII
Há silêncio
do silêncio
nas entranhas
do meu silêncio!
IX
“Emprestado”
Moro emprestado
na esfera do caos
incógnito e mascarado
permaneço!
X
“Mulher XXXI – rua direita”
Foi na rua direita
que me encontrei
quando te encontrei
Foi na rua direita
que me descobri
quando te descobri
Foi na rua direita
que me reencontrei
quando te encontrei!