Em Buenos Aires, discursando para uma multidão que o saudou aos gritos de “Vai voltar, Lula vai voltar”, o ex-presidente agradeceu o apoio que recebeu do povo argentino.
Encerrando o segundo dia de visita à Argentina, Lula participou, nesta sexta-feira (10), de uma imensa manifestação na Plaza de Mayo, em Buenos Aires, em celebração aos 38 anos de democracia no país vizinho, data que coincide com o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Discursando para uma multidão que o saudou aos gritos de “Vai voltar, vai voltar, Lula vai voltar”, o ex-presidente defendeu uma América do Sul unida e soberana, e agradeceu o apoio que recebeu do povo argentino quando esteve preso injustamente.
“Venho aqui, do fundo do coração, agradecer a cada homem e a cada mulher da Argentina que prestou solidariedade a mim quando fui preso no Brasil. Quero agradecer a cada sindicato, a cada mulher e a cada homem, a cada estudante, a cada companheiro dos partidos políticos, a cada deputado e senador que prestou solidariedade, que foi para a rua fazer manifestação”, discursou (assista no vídeo abaixo).
Lula, então, fez um agradecimento especial ao presidente Alberto Fernández, que, quando ainda participava das eleições, o visitou na sede da Polícia Federal em Curitiba. “O companheiro Alberto Fernández era candidato a presidente e teve coragem de ir na cadeia me visitar, mesmo eu pedindo para ele tomar cuidado, porque talvez não fosse prudente para um candidato. E Alberto disse: ‘Diga a Lula que vou visitá-lo com muito orgulho e que quero dar uma entrevista, depois que sair da prisão, para que todo o povo argentino saiba que, independentemente das eleições, eu sou humanista, defendo os direitos humanos e quero defender a liberdade do companheiro Lula, que está preso injustamente’”, lembrou.
O ex-presidente brasileiro recordou também que, quando governou, a América do Sul vivia um momento especial, com governos progressistas que transformaram o continente, como os de Cristina Kirchner, hoje vice-presidenta da Argentina, e Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, que também participou do grande ato. “Esses companheiros progressistas, socialistas, humanistas fizeram parte do melhor momento de democracia da nossa Pátria Grande, a nossa querida América Latina”, afirmou. “Nossa querida América do Sul viveu seu melhor período de 2000 a 2012, quando nós governamos democraticamente todos os países do continente, quando nós expulsamos a Alca e firmamos o Mercosul, criamos a Unasul e a Celac”, acrescentou.
Esse momento, no entanto, acabou interrompido com um ataque que veio em forma de perseguições jurídicas, como a que o manteve preso injustamente e a que, ainda hoje, persegue Cristina Kirchner, ressaltou Lula, que por fim, concluiu demonstrando todo o seu apoio ao governo de Alberto Fernández e saudando a democracia. “A democracia não é um pacto de silêncio, a democracia é a sociedade demonstrando a sua irreverência, a vontade de eleger e de tirar, de eleger e também participar. A democracia é o momento extraordinário em que nós nos manifestamos na construção de uma sociedade efetivamente justa, igualitária, humanista, fraterna, em que o ódio seja extirpado e o amor seja vencedor”, discursou.
“Cuidem da democracia”
Lula foi chamado para falar por Pepe Mujica, que, em uma fala breve, lembrou da necessidade de os povos sempre trabalharem para preservar a democracia. “A democracia não é perfeita. Não pode ser perfeita porque os humanos não são. Mas, até agora, não encontramos um sistema melhor. Então, cuidem dela”, disse o ex-preso da ditadura uruguaia que se tornou presidente de seu país em 2010 e se converteu em um dos líderes mais populares do mundo.
A vice-presidenta Cristina Kirchner também lembrou da necessidade de se defender constantemente a democracia, que, como mostra o que ocorreu com ela e com Lula, sofre constantes ameaças. “Dessa vez, não vieram com fardas militares, mas com togas de juízes e meios de comunicação hegemônicos para nos julgar primeiro na mídia e nos condenar depois na Justiça. Não era mais necessário desaparecer com as pessoas, agora agiam com tinta nos jornais e microfones nas televisões. Essas são as novas formas de perseguição. Mas não importa, aqui estamos outra vez. Porque o povo sempre encontra o caminho para voltar”, disse.
Encerrando o evento, que contou com apresentações musicais e a presença de integrantes do movimento contra a ditadura argentina Mães da Plaza de Mayo, o presidente Alberto Fernández também discurso em defesa da democracia e da liberdade. “A democracia, essencialmente, é a liberdade, é sermos livres, é respeitar a diversidade. E hoje, com o rótulo de liberais, aparecem os conservadores, os xenófobos, os negacionistas. Diante disso, nós não podemos ficar em silêncio, de braços cruzados, nem nos esquecer de que, na Argentina, houve um terrorismo de Estado que tirou a vida de milhares de pessoas.
E concluiu agradecendo a presença de Mujica e Lula, a quem dirigiu suas últimas palavras: “Quero agradecer você, meu querido Lula, que é um líder latino-americano imenso. Sempre que homem passar pelo que aconteceu com você, estarei ao lado desse homem. Porque nenhum homem merece a prisão injusta. Como estou do seu lado, Cristina, porque sei de sua inocência”.
Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado