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Sábado, Julho 27, 2024

O financiamento da Jihad pelas instituições europeias

Paulo Casaca, em Bruxelas
Paulo Casaca, em Bruxelas
Foi deputado no Parlamento Europeu de 1999 a 2009, na Assembleia da República em 1992-1993 e na Assembleia Regional dos Açores em 1990-1991. Foi professor convidado no ISEG 1995-1996, bem como no ISCAL. É autor de alguns livros em economia e relações internacionais.

Por que razão esses europeus se propõem a defender essa Jihad; por que razão as instituições europeias tão surdas à causa dos oprimidos pela Jihad são tão pródigas a financiar os apologistas da Jihad, são questões que eu penso nos deveriam preocupar a todos.

  1. Jihadi Cool

Como relembra, nas suas palavras de abertura, um relatório produzido por um grupo político do Parlamento Europeu sobre o financiamento europeu ao islamismo a ‘Irmandade Muçulmana’ tem como moto: ‘Alá é o nosso objetivo, o Profeta é o nosso líder, o Corão é a nossa constituição, a jihad é o nosso caminho, morrer no caminho de Alá é a nossa maior esperança.

O relatório, não rompendo com alguns dos equívocos que fazem escola na análise do Jihadismo, está, no entanto, distante do delírio dominante nas elites ocidentais sobre a realidade da Jihad, que tudo confunde quanto à sua essência, e que exorciza qualquer pensamento crítico sobre ela denominando-o de ‘islamofobia’.

A questão essencial que finalmente se vislumbra neste relatório é a de saber distinguir no que se denomina equivocamente por ‘muçulmano moderado’, o que é um muçulmano por fé, por cultura ou mesmo como visão social ou política, respeitador de princípios humanos, e o que é o disfarce da instrumentalização da religião por um projecto revolucionário, totalitário e global que é a Jihad moderna, que eu considero ter sido primeiramente definida por Maulana Maududi.

Um dos aspectos essenciais desta moderna Jihad – que casou princípios e práticas vindas do Islão tradicional com numerosas influências modernas – é o da sua duplicidade, isto é, a capacidade para se metamorfosear no inverso do que é para enganar o inimigo.

Sendo a moderna Jihad uma ideologia profundamente reacionária que tem na submissão da mulher um, se não o seu mais forte cunho, ela não hesita em se cobrir como ‘feminista’ e ‘cool’ quando assim considera necessário.

É o que na gíria antiterrorista se denomina de ‘Jihadi Cool’ e que é fielmente reproduzida na propaganda da mais antiga rede jihadista que é a ‘Irmandade Muçulmana’, propaganda financiada pela União Europeia, pelo Conselho da Europa ou pela cadeia pública de comunicação belga, RTBF.

Num take publicado no Facebook, dois dos mais conhecidos dirigentes da Irmandade Muçulmana na Bélgica aparecem em Palermo, no quadro de uma acção financiada pelo orçamento europeu que tem como óbvio objectivo propagandear o islamismo como postura hiper-cool, e com o selo europeu.

Na campanha financiada pelo Conselho da Europa e pela União Europeia, escalpelizada aqui pela ‘Marianne’ – das únicas publicações francesas situada à esquerda que não naufragou no pântano do ‘islamo-esquerdismo’ – pode-se ver como a obrigatoriedade do véu na mulher é apresentada como uma ‘escolha livre’ e a sua aceitação um acto de ‘tolerância’.

Cartaz da campanha organizada pelo Conselho da Europa (DR)

Na intensa campanha de propaganda da dirigente da ‘Irmandade Muçulmana’ que aparece no spot publicitário do Facebook a que fizemos referência, a RTBF faz a apologia da ‘Jihadi-cool’ como uma forma de feminismo.

A Comissária Europeia que abertamente propagandeia a ‘Irmandade Muçulmana’, Helena Dalli, é a mesma que alguns dias depois produz directrizes para cancelar o uso da expressão Natal que seria ofensiva para os muçulmanos, directrizes que acabaram por ser retiradas perante o protesto que originaram.

Na verdade, como aliás já aqui expliquei no Tornado no Natal de 2018, na Bélgica francófona, o Natal já foi cancelado há muito tempo (em 2013) e exactamente na mesma lógica defendida pela Comissária Dalli e, não tenho a mínima dúvida, na sequência da pressão da mesma ideologia jihadista.

E esta é uma boa maneira de fazermos a distinção entre os Muçulmanos (moderados num sentido real do termo) e os falsamente moderados; enquanto os primeiros me desejam ‘Feliz Natal’ com o mesmo respeito com que eu, quando em países maioritariamente muçulmanos, ou hindus, ou judaicos, faço o equivalente, o Jihadismo Cool faz crer que isso é ofensivo para os muçulmanos e ‘islamofóbico’ e que deve ser cancelado do calendário, naquilo que é uma guerra ideológica de conquista.

  1. Dos cofres europeus para a Jihad antieuropeia

O relatório do Parlamento Europeu aqui citado identificou na opaca malha dos financiamentos europeus, quarenta milhões de Euros doados à ‘Islamic Relief’, organização ligada à Irmandade Muçulmana, noutra vertente da Jihad, que é o seu estabelecimento como organização caritativa, entre muitos outros financiamentos ao jihadismo.

Pouco depois, um outro jornal francês com o sugestivo título ‘A Europa, sponsor dos islamistas’ que na versão electrónica recorre ao sugestivo ‘assalto à islamista’ que refere vários outros financiamentos a organizações que servem de camuflagem ao Jihadismo, como uma pretensa rede ‘antirracista’, presenteada com 22 milhões de euros.

Mas isto é apenas a ponta do icebergue, porque o ‘Jihadismo Cool’ já se infiltrou em inúmeras acções financiadas pelo orçamento europeu destinadas a promover a ‘educação para o diálogo’ ou os ‘valores europeus’ que aparecem na propaganda dos dirigentes da Irmandade Muçulmana, e que mostram como a doutrinação jihadista progride nos centros de ensino europeus financiada pelo orçamento europeu.

É certo que para disfarçar as circunstâncias, o orçamento europeu financia igualmente algumas acções de organizações cristãs, ou mesmo judaicas, o que entre outras coisas serve para fazer passar o jihadismo como mera opção religiosa equivalente à cristã ou à judaica.

Mas o essencial seria ver o orçamento europeu a financiar iniciativas muçulmanas anti-jihadistas, porque como é óbvio para qualquer observador independente e atento, o grande problema de verdadeira islamofobia com que a população muçulmana está confrontada é a perseguição que lhe é movida pelo jihadismo, nomeadamente, na obrigação de vestuário e comportamento das mulheres, para citar o que há aí de mais óbvio.

Porque a ‘Cool Jihad’ é um produto de exportação para as elites ocidentais ignorantes, enquanto para consumo interno, ou mesmo no interior das comunidades muçulmanas no Ocidente, a Jihad mostra a sua verdadeira face: extrema-direita, misógina, violenta e intolerante!

Por que razão não financia a União Europeia ou o Conselho da Europa nenhuma acção de defesa dos muçulmanos – e nomeadamente das mulheres muçulmanas – contra a perseguição que lhes é movida pelo Jihadismo?

Por que razão as mulheres muçulmanas na Europa – e muito em especial na Bélgica – vêm os seus direitos espezinhados pelo Jihadismo sem que as instituições europeias façam o que que quer que seja para as defender, numa lógica de discriminação das mulheres muçulmanas, ou seja, islamofobia, feita, exactamente, em nome do combate à islamofobia?

Cartaz da campanha organizada pelo Conselho da Europa (DR)

Por que razão as mulheres afegãs – para citar o mais gritante dos exemplos – que desesperadamente procuram apoio, que suplicam para que o imenso volume financeiro do apoio humanitário ao Afeganistão as tenha em conta, não têm qualquer resposta?

Ao longo das últimas duas décadas, como deputado europeu e como activista dos direitos humanos, tive a repetida oportunidade de verificar como as instituições europeias não querem ou são incapazes de entender o que são os valores europeus no contexto do mundo muçulmano e como na verdade trabalham contra eles.

  1. A Jihad hiper-cool

Aquilo que o relatório com que abri esta crónica não entende, e que a comunidade dedicada a esta matéria ainda não entendeu tão pouco, é o que eu chamaria de ‘Jihad hiper-cool’ (que eu saiba a expressão ainda não está consagrada em lado nenhum) e que é a propaganda islamista pseudo anti-islamofóbica feita por quem não tem qualquer ligação orgânica ou ideológica com a Irmandade Muçulmana ou com qualquer das outras redes islamistas mais ou menos independentes desta, como o seja a teocracia iraniana.

Nicolas Vanderbiest, fundador da agência de desinformação ‘EU DisinfoLab’ – vastamente financiada pelas instituições europeias – é quem defende os pontos de vista jihadistas da forma mais eficaz e duradoura.

Tendo tido a ideia de criar a agência – segundo o que ele mesmo afirma – na sequência do atentado de Nice de 14 de Julho de 2016, Vanderbiest está sempre presente com um enorme sucesso em todas as campanhas de influência pró-Jihad. Antes ainda de Nice, é ele que dá o toque ‘hiper-cool’ à campanha ‘Je ne suis pas Charlie’ (mesmo Ana Gomes, não conseguiu a mesma adesão nos media entre nós ao bater a mesma tecla) com que procura inverter a culpabilidade do massacre dos jihadistas para as suas vítimas.

Depois disso, é ele que mais se notabiliza no ataque às campanhas das autoridades quer belgas quer francesas contra o jihadismo, e é ele também que vai aparecer como o mais eficaz defensor dos pontos de vista jihadistas a propósito do abate ritual de animais (no chamado Alal) no véu ou no burkini, tema onde de resto vai aparecer ao lado da dirigente da Irmandade Muçulmana belga a que acima fizemos referência.

A Jihad hiper-cool – protagonizada por europeus que não têm qualquer ligação religiosa, étnica ou linguística com o Islão – é de longe mais eficaz que a protagonizada pela Jihad de quem é originário de um país muçulmano ou que se reclama da religião, por mais ‘cool’ que apareça.

Por que razão esses europeus se propõem a defender essa Jihad; por que razão as instituições europeias tão surdas à causa dos oprimidos pela Jihad são tão pródigas a financiar os apologistas da Jihad, são questões que eu penso nos deveriam preocupar a todos.

A ‘Nossa Europa’ não pode servir para isto!

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