Num primeiro momento, seu nome chegou a ter até 12% de intenções de votos a presidente. No entanto, a última pesquisa Datafolha apontava que apenas 8% dos brasileiros pretendiam votar no ex-juiz.
Sergio Moro tomou duas decisões nesta quinta-feira (31): trocar de partido – do Podemos para o União Brasil – e trocar de projeto eleitoral – de presidenciável a candidato a deputado federal. É o epílogo de uma farsa, sem final feliz para seu protagonista.
Vendido como herói nacional por sua atuação à frente da operação Lava Jato, o ex-juiz se associou a Jair Bolsonaro após a eleição presidencial de 2018. Vinte e dois anos depois de ingressar na magistratura, abriu mão da carreira e assumiu em 1º de janeiro de 2019 um superministério, que aliava Justiça e Segurança Pública.
Como ministro, não emplacou um feito sequer. Ao contrário: revelou debilidades políticas – sobretudo no diálogo com o Congresso – e jamais teve a “carta branca” que o presidente lhe prometera. Ainda no cargo, viu a credibilidade da Lava Jato ruir, seja com as revelações do site The Intercept Brasil sobre sua falta de parcialidade, seja com a libertação do ex-presidente Lula, cuja prisão injusta era uma espécie de troféu para Moro.
Em abril de 2020, deixou o governo Bolsonaro com críticas ao presidente. Àquela altura, porém, um já arranhara a imagem do outro. Detestado por apoiadores de Lula, passou a ser igualmente hostilizado por bolsonaristas. Fora do governo, foi para a iniciativa privada, envolvendo-se numa polêmica parceria com a consultoria Alvarez & Marsal.
Sua popularidade continuava em viés de baixa. Em março de 2021, o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), reconheceu a suspeição de Moro nos processos o contra ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além da incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba. A decisão de Fachin, posteriormente ratificada pelo plenário do Supremo, anulou as condenações de Lula e devolveu-lhe seus direitos políticos.
Ao se filiar ao Podemos, em novembro de 2021, Moro discursou como candidato, em ato no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. “Podemos construir juntos um Brasil justo. Não é um projeto pessoal”, afirmou. “Mas, se para tanto for necessário assumir a liderança, meu nome sempre estará à disposição.”
Num primeiro momento, seu nome chegou a ter até 12% de intenções de votos a presidente. No entanto, a última pesquisa Datafolha, divulgada em 24 de março, apontava que apenas 8% dos brasileiros pretendiam votar no ex-juiz. Para piorar, enquanto 78% dos eleitores de Lula e 80% dos eleitores de Bolsonaro se diziam certos do voto, o índice de Moro era de meros 37%.
A saga do incrível homem que encolheu tão velozmente na política pode ser sintetizada na nota assinada nesta quinta por membros da Comissão Instituidora do União Brasil. Em vez de saudar a chegada do novo filiado, o texto é mais um “chega-pra-lá” no ex-juiz: “O eventual ingresso de Moro não pode se dar na condição de pré-candidato à Presidência”, mas para “construir uma candidatura em São Paulo”.
É o que resta ao ex-juiz, ex-ministro e ex-herói.
por André Cintra, Jornalista | Texto em português do Brasil
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