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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Veto à Lei Paulo Gustavo é um sintoma do desprezo pela cultura

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro vetou a Lei Paulo Gustavo sob a alegação de “contrariedade ao interesse público”. Só não especificou interesse público de quem.

Evidentemente todas as pessoas envolvidas com o fazer cultura usarão de todas as suas forças para que o veto seja derrubado. Com recursos do superávit financeiro do Fundo Nacional de Cultura, essa lei pode repassar R$ 3,8 bilhões para o setor, entre os mais atingidos pela pandemia.

Mas precisamos entender como chegamos ao ponto de ter no cargo mais importante do país alguém que menospreza a cultura nacional. Quando o presidente golpista Michel Temer tentou extinguir o Ministério da Cultura, a reação do setor foi geral e com a participação de inúmeros artistas, Temer foi forçado a recuar.

Bolsonaro não só extinguiu o ministério, como tem à frente da Secretaria de Cultura, alguém tão incapaz e ignorante como Mário Frias. E como chegamos nisso?

Para não corrermos mais riscos desse porte, é necessário levar a mensagem da essencialidade da cultura para a massa. Essa massa manipulada por uma mídia torpe. E os setores mais progressistas da sociedade devem entender a importância da cultura na vida de uma nação e de um povo.

É exatamente essa falta de visão sobre a necessidade da cultura e da arte, que deixa essa área vital para a humanidade à deriva. É essencial entender que a cultura é tão importante como o ar que respiramos, a água que bebemos, faz parte do desenvolvimento civilizacional da humanidade.

É a cultura que nos humaniza, e pode representar a possibilidade de transformação do mundo, desde que não seja presa a conceitos elitistas ou opressores. Por isso, os fascistas odeiam o conceito de cultura e de arte como ferramentas da mudança, da libertação de corações e mentes.

Essa libertação pode vir pela política, mas se tiver a cultura e as artes como aliadas, as manifestações culturais podem, nesse contexto, levar a humanidade a novos patamares de desenvolvimento. Para a libertação e não para a sua prisão, como quer o capitalismo neoliberal. Política e cultura devem andar juntas para que a transformação seja completa e o mundo novo seja construído.

Não vivemos sem cultura, sem arte. Desde que a humanidade se pôs em dois pés e descobriu o movimento de pinça das mãos, a cultura fez parte da vida. Tanto para a comunicação, como para a reflexão.

O que seria de nós sem a música, o desenho, a pintura, o teatro, o cinema, o circo? O que seria da humanidade sem a teoria da relatividade de Einstein ou a evolução das espécies de Darwin ou sem o materialismo dialético de Marx e Engels, um divisor de águas da filosofia.

Para Luciana Santos, presidenta do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, essa “lei busca corrigir as distorções aprofundadas neste período e reforçar esse setor fundamental não só para a identidade, lazer e formação da nossa gente, mas também para a economia de estados e municípios”.

Além de tudo isso, é fundamental fortalecer o Sistema Nacional de Cultura para que atinja todo o território nacional. Esse sistema deve ser uma política de Estado, que não mude, portanto, ao sabor de governantes. Também necessitamos de políticas públicas que fomentem a cultura. E para isso é necessário que a política cultural zeja projeto estratégico da nação.

O veto à Lei Paulo Gustavo é um sintoma de uma visão torpe sobre a nossa civilização e mostra o desprezo de parcela da sociedade pela cultura e a necessidade de aproximação com as pessoas que vivem do trabalho e não têm acesso à cultura.

Muito importante o engajamento e a mobilização do setor cultural para o país voltar a viver ares democráticos. As artes, os artistas e a cultura têm papel crucial nessa mudança, como em toda e qualquer mudança que se queira para o bem da humanidade.


Texto em português do Brasil

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