Diário
Director

Independente
João de Sousa

Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Série Ruptura: a alienação e seus descontentamentos

Você já pensou que seu emprego era sem sentido, entorpecente, até danoso para sua saúde mental? Você já notou como as pessoas tão frequentemente separam suas vidas de trabalho de suas vidas de não-trabalho? O que pode possivelmente ser o verdadeiro dano? É apenas um emprego, não algo que afeta o verdadeiro autovalor de alguém, ou molda sua vida inteira. Ou é?

Ruptura (Severance), a brilhante nova série na Apple TV que estreou em fevereiro, criada por Dan Erickson e dirigida por Ben Stiller e Aoife McArdle, se passa em um cenário ficcional abordando tais questões. É um thriller psicológico enraizado no aqui e agora ou uma ficção científica distópica cautelar? A série pega emprestado mais de Bradbury ou de Sartre – ou do maior filósofo político do Século XIX?

O principal protagonista, Mark Scout, é um Especialista em Refinamento de Macrodados da Lumon Industries. O ator Adam Scott, tão frequentemente escalado como um homem comum, entra perfeitamente nesse papel. Mark concordou em se sujeitar ao procedimento médico de separação (“Severance”, em inglês), que bifurca a vida dos funcionários, separando sua consciência do trabalho de sua pessoal, existência fora do trabalho. Funcionários “separados” não retêm memórias de sua vida de trabalho enquanto fora deste, e nenhuma memória de sua vida de casa enquanto no trabalho.

Mark parece se consolar com a estrutura de seu trabalho e regras detalhadas e autoritárias. Sua esposa Gemma morreu em um acidente. Seu melhor amigo Petey (Yul Vasquez) foi demitido pela Lumon Industries sob circunstâncias ameaçadoramente obscuras.

Os colegas de trabalho de Mark na Unidade de Macrodados expressam aspectos de danos à personalidade no local de trabalho. John Turturro está brilhantemente irritante como Irving Bailiff, que consagrou servilmente a política da empresa em um mantra das citações dos fundadores que moldam cada ação dele. Zach Cherry, como Dylan George, joga as regras rápido e solto, para aproveitar quaisquer vantagens que ele pode tirar do sistema. A chefe Patricia Arquette e o aplicador de regras Tramell Tillman estão apropriadamente sinistros.

As regras devem ser cumpridas na Lumon Industries. Mas, as vidas e as necessidades de seus trabalhadores colidem contra as regras arbitrárias. A substituta do demitido Petey, Helly Riggs (Britt Lower), é tão extremamente infeliz que ela desafia o status quo repetidamente. De todas as pessoas, o obsequioso Irving Bailiff acha sua atração pelo companheiro de trabalho Christopher Walken, perturbando as regras e emoções. O próprio Mark Scoutt vem a questionar as relações entre empregados e a natureza do trabalho dele.

A natureza do trabalho parece tão aleatória quanto a estrutura real dos escritórios é proposital. Os funcionários parecem engajados em uma tarefa que eles não compreendem, nem que parece produzir qualquer coisa de uso explicável. O prédio que abriga a Lumon é um brutal hulk branco e cinza, onde o local real de trabalho é acessado apenas através de segurança estrita, elevadores estreitos e um labirinto de corredores estéreis não rotulados. Os próprios trabalhadores não têm certeza da direção, confiando em mapas imperfeitos.

Pode o significado, a resolução, ou mesmo a satisfação serem achadas nesse ambiente, ou isso é apenas possível no mundo de fora? Os trabalhadores da Lumon vão quebrar suas correntes e ir na direção da luz?


por Michael Berkowitz (People’s World) | Texto em português do Brasil, com tradução de Luciana Cristina Ruy

Exclusivo Editorial Rádio Peão Brasil / Tornado

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -