Contrariamente ao que a generalidade da população e, a própria classe profissional pensam, o exercício da atividade profissional de médico corre sérios riscos de continuidade tanto no número de profissionais em exercício como no da especialização setorial específica.
Desde logo porque a gestão financeira privada das unidades de saúde e, a capitulação dos serviços de saúde públicos perante o avanço dos interesses privados que já controlam uma grande maioria das valências com lucro fácil, apostam no mínimo de profissionais possível a quem exigem rendibilidade assegurada com objetivos definidos no tocante ao número de utentes e ao rácio de despesa média por utente assim como a gestão das faixas etárias prioritárias mais os índices de gravidade associada aos custos por utente.
Esta perspectiva económica e de gestão financeira onde os dividendos a distribuir pelos investidores são o objeto, vão condicionar no futuro a contratação e os critérios dessa mesma contratação assim como a diminuição significativa no número de profissionais em exercício tendo em conta o volume salarial bruto a despender; o investimento tecnológico; a manutenção das estruturas; as despesas correntes; outras despesas;
Ou seja; aquela que era uma profissão prestigiada com futuro assegurado, começará a ser uma profissão banal onde os índices de produtividade versus custos para atingir essa produtividade, passarão a ser a essência da gestão.
Nessa senda, sobrará para o Estado a despesa social corrente e extraordinária, assegurando a exigência constitucional do direito à saúde em moldes básicos e, elementares.
O País não conseguirá comportar os custos sociais adversos com a receita dos impostos gerados pelo consumo na justa medida em que, um País com a pobreza generalizada não gera consumo suficiente para municiar financeiramente o Orçamento Geral do Estado e, por essa via, assegurar os cuidados de saúde primários; secundários e outros; a que todos temos direito.
A classe é corporativa e por isso com um histórico de solidariedade entre os pares dúbia e de entrave às novas gerações de profissionais mais do que evidente.
A sua posição política e social sobre o desmembramento do Serviço Nacional de Saúde em proveito próprio é por demais evidente sempre que essa realidade vem à discussão pública, deixando a áurea do bom samaritano, a anos luz do conceito preconcebido nas populações rurais do célebre; João Semana retratado por Júlio Dinis no seu romance, As pupilas do Senhor Reitor.
E, como é óbvio, por evidente, assistimos ao aumento significativo da automação dos procedimentos e automatização dos meios, o que conduz à dispensa da manufatura. Conjunturas que já influem a economia e os seus agentes em geral e que, em consequência, dispensam a prestação do serviço Humano.
Em contra ciclo as Universidades formam em média milhar e meio de médicos por ano que especializam nas unidades públicas e depois, estes, por motivos diversos optam pelo setor privado “enganosamente” mais aliciante mas que, a médio prazo não darão emprego aos novos médicos tão só porque não necessitam deles para nada uma vez que a sua capacidade de absorção de prestadores de serviço nessa área está esgotada.
Que a saúde é o negócio do século todos o sabemos.
Aquilo que não queremos, independentemente da opinião que tenhamos sobre o tema, é ser acometidos por uma qualquer doença súbita ou azar, e não dispor nesse momento, dos avultados montantes exigidos para pagar a cura e, por causa disso, morrer sem a assistência devida.
Aos médicos acontecerá aquilo que já acontece numa outra atividade que sempre foi privada e agora se a associar: a advocacia.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90