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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Quem lucra com a guerra económica?

Eugénio Rosa
Eugénio Rosa
Licenciado em economia e doutorado pelo ISEG

A guerra económica em que meteram o país está a destruir a vida dos portugueses, e afinal a crise tem sido boa para muitas empresas cujos lucros já ultrapassam os de 2019

Neste estudo analiso a escalada de preços causada pela disrupções das cadeira de abastecimentos, pela guerra e sanções, que está atingir valores incomportáveis para a maioria dos portugueses, pois a inflação homóloga atingiu, em outubro de 2022, 10,2%, e a dos produtos alimentares, que tem um peso muito grande nos orçamentos familiares, 19,8%. Quem é que teve ou vai ter aumentos com esta dimensão no seu salário ou pensão em 2022 ou mesmo em 2023? E apesar da grave crise económica e social os lucros das empresas não financeiras já são muito superiores aos de 2019, antes da crise. É um milagre que beneficiou os empresários, nomeadamente os grupos económicos, à custa dos portugueses.

Estudo

A guerra económica em que meteram o país está a destruir a vida dos portugueses, e afinal a crise tem sido boa para muitas empresas cujos lucros já ultrapassam os de 2019

A escalada de preços causada pelo efeito ricochete da aplicação de sanções à Rússia, por esta ter invadido a Ucrânia, e a retaliação da Rússia aos países da U.E., associada à disrupção das cadeias de abastecimentos internacionais causadas agora pela guerra e sanções; ou seja, a guerra económica em que a população europeia foi envolvida pelos seus governos e pela Comissão Europeia, está a causar uma escalada de preços insuportável para os portugueses, principalmente os de mais baixos rendimentos que são a maioria da população. É preciso que se tenha coragem de falar a verdade aos portugueses mesmo correndo os riscos de ir contra o pensamento único dominante nos media. E não me venham com a treta que sou amigo do Putin. Eu sou amigo sim, mas é dos que mais sofrem com esta grave crise económica e social. E ela está a ser ainda mais grave devido à recusa ou insensibilidade do governo em tomar medidas efetivas para defender a população da degradação enorme das suas condições de vida, já que as medidas que tomou (aumentos de salários e pensões muitos inferiores à inflação, ajudas irrisórias e pontuais, etc.) são meros paliativos que nada resolvem.

 

A ESCALADA DOS PREÇOS QUE ESTÁ A TORNAR A VIDA DOS PORTUGUESES IMPOSSIVEL

O gráfico 1, com dados do INE sobre a inflação, dá uma ideia da situação insuportável que a crise está a criar.

Como mostra o gráfico 1, em outubro.2022 a inflação homologa (comparando com out.2021) aumentou em 10,2%, mas os preços dos produtos alimentares (têm um grande peso no orçamento das famílias médias e de baixos rendimentos) subiram, entre out.2021 e out.2022, em 18,9%, o que é inaceitável. Quem é que terá em 2022 ou mesmo em 2023 um aumento no seu salário ou pensão de 18,9% ou mesmo de 10,2%? Costa e Centeno têm afirmado que a inflação é temporária e vai abrandar. Mas os dados divulgados pelo INE provam que eles não falam verdade. Em jan.2023, com a proibição de importação de petróleo e gasóleo russo, que é um dos principais produtores mundiais, proibição imposta pela C.E. e aprovada pelos governos, e apoio de António Costa, a situação ainda se agravará mais. O que está a acontecer em relação ao gás, em que o governo afirmava que não haveria problemas pois a GALP tinha contratos firmados com a Nigéria e outros países que agora estão a falhar, é um exemplo que prova que não se pode acreditar nas afirmações dos governos que procuram iludir a população da gravidade da situação. Esta escalada de preços vai continuar enquanto a guerra e as sanções continuarem. E ela está para durar, pois nenhum governo revela interesse em se empenhar num esforço sério para encontrar um acordo que ponha fim à destruição da Ucrânia e dos ucranianos e da U.E..

Por incompetência, ou ingenuidade, ou por falta de coragem política os governos europeus, empurrados pela inexperiente Ursula von der Leyen, deixaram-se cair na armadilha. E quando a guerra terminar, a U.E. sairá dela com uma economia enfraquecida e com um retrocesso dramático nas condições de vida dos europeus e, ainda por cima, com o fardo da reconstrução da Ucrânia cujo custo já se diz que ultrapassará os 700.000 milhões € que os europeus terão de pagar durante muitos anos. . A guerra comercial entre o EUA (que não quer perder a hegemonia mundial) e a China vai-se agravar, o que tornará tudo mais caro, a corrida armamentista vai aumentar com efeitos graves para os europeus que a terão de pagar restando menos para o social. Os governos procuram vender a ideia aos europeus que é possível a autossuficiência energética da Europa a curto prazo e um amanhã feliz e de democracia o que não é nem real nem verdadeiro (a realidade é diferente).

 

AFINAL HÁ MUITAS EMPRESAS QUE ESTÃO A APROVEITAR A CRISE PARA OBTER LUCROS ELEVADOS QUE JÁ ULTRAPASSAM OS DE 2019, OU SEJA, ANTES DA PANDEMIA E DA GUERRA, SEGUNDO O PROPRIO INE

No meio desta grave crise política, económica e social, que está a “destruir” não só a U.E., mas muitos outros países e, de uma forma muito violenta, Portugal e a vida dos portugueses, há muitas empresas no nosso país que estão a obter elevados lucros com a crise. É o que mostra o gráfico 2 com dados do INE divulgados em 26/10/2022.

Como revela o gráfico 2, os lucros das empresas não financeiras (não inclui bancos e sociedades financeiras) com o governo PSD/CDS, mesmo numa situação de grave crise económica e social, aumentaram enormemente em 4 anos pois, entre 2011 e 2015, subiram de 7.244 milhões € para 17.916 milhões €, ou seja, em mais 10.690 milhões € (+147,3%). E durante os governos de António Costa, o crescimento dos lucros das empresas não financeiras foi também muito grande pois, entre 2015 e 2021, aumentaram de 17.914 milhões € para 31.939 milhões €, ou seja, em 14.019 milhões € (+78,3%) . Mas a situação surpreendente, que é esclarecedora, é que, embora os lucros tenham caído abruptamente com a pandemia e fecho da economia em 2020 (diminuíram para 19.405 milhões €), em 2021 rapidamente recuperaram sendo muito superiores aos anteriores à crise pois, em 2019, foram 25.082 milhões € e, em 2021, 31.932 milhões € (+64,6% em plena crise).

 

OS LUCROS DOS GRUPOS ECONÓMICOS TÊM AUMENTADO MUITO COM A GRAVE CRISE ECONÓMICA E SOCIAL

Apesar da grave crise económica e social, que enfrentam os portugueses e o país, os lucros dos principais grupos são enormes e não têm parado de aumentar como mostram os exemplos que estão no quadro 1.

Quadro 1 – Lucros líquidos após impostos nos primeiros 9 meses de 2021 e 2022

Apesar da crise causada pela guerra e sanções, e da escalada de preços que provoca, e dos salários e pensões terem perdido muito poder compra, os lucros dos grandes grupos económicos são enormes e não param de crescer (alguns deles são mesmo escandalosos). Sete grupos económicos arrecadaram, nos 9 primeiros meses de 2022, 2.398 milhões € (+54,4% que nos 9 meses de 2021). A maior parte destes lucros, distribuído aos grandes acionistas, nem imposto sobre dividendos pagam em Portugal, pois os seus proprietários têm empresas no estrangeiro para onde transferem os lucros sem pagar impostos no nosso país. Quando é que se põe fim a este escândalo? Um pequeno acionista português paga 28% de imposto sobre os dividendos que recebe.


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