O centro da ação política atual está equilibrado entre vários fatores, notadamente no Governo Federal, sem prejuízo de outros atores e componentes, tais como o Congresso Nacional, o STF, as FFAA, os Governadores no campo institucional, as mídias e entidades empresariais e trabalhistas no terreno da burguesia e do proletariado enquanto antagonistas.
É tarefa primeira, imediata e urgente da conjuntura assegurar a Democracia contra os ataques golpistas em curso e, incontinenti, apoiar o triunfo do programa da Frente Ampla ao nível das políticas públicas e governança, resolvendo as principais mazelas da crise econômica e social do país, a saber o crescimento econômico, o emprego, a renda, a pobreza e a fome.
Nesse processo, repito, as políticas a serem implementadas – sob grandes dificuldades dada a destruição do Estado, a legislação restritiva, a oposição parlamentar e social, o quadro orçamentário e fiscal degradado – serão o esteio para a reconstrução nacional. Cabe, entretanto, um acento sobre o papel das organizações populares na luta em curso e, particularmente, num item onde o fascismo tem logrado grande êxito e vantagem sobre nós: comunicação e construção de discurso e narrativa.
A Intentona Bolsonarista de 8 de Janeiro, já inscrita nas páginas da História do Brasil como sinônimo de vergonha e pusilanimidade, conta com incrível rede de informações que consegue não apenas justificar aos seus – que não são poucos, 58 milhões votaram no fascista – o fato, como disputar na sociedade o discurso e a narração dos acontecimentos.
Há preparo, aporte profissional, recursos, militância, enfim, organização, método e propósito. Os “galinhas verdes” de outrora estão longe de serem um bando de malucos geriátricos desocupados, têm um esquema poderoso por trás desse movimento de massas. Senão vejamos alguns tópicos argumentados pelos golpistas.
A infiltração de militantes de esquerda: segundo os fascistas quem excitou e promoveu a invasão e vandalismo nas sedes dos Três Poderes foram elementos esquerdistas que se misturaram aos “pacíficos” terroristas.
O proposital desguarnecimento de Brasília: há quem diga que o Governo Federal sabia da ação e permitiu o quebra-quebra para poder justificar a intervenção e as medidas repressivas, numa espécie de “contragolpe” ditatorial para impor o temido “comunismo” que sequer esteve em vigor durante treze anos de administração petista.
O “princípio da precaução”: tese semelhante a anteriormente apresentada, porém com o diferencial de querer insinuar incompetência, omissão ou leniência do Governo Federal, responsabilizando-o pelos atos de violência e destruição.
A “ditadura comunista”: outra variante na qual a dita liberdade de expressão e manifestação estaria impedida pelo autoritarismo do Governo. A selvageria registrada é absolutamente ignorada e se foca nos acontecimentos posteriores, como se inocentes fossem os golpistas terroristas fascistas.
A inocência de Bolsonaro: o ex-presidente não teria nenhuma interferência do que aconteceu, tratou-se de um movimento espontâneo de “cidadãos de bem” indignados com a “fraude eleitoral” e com os riscos de implantação do comunismo.
A quem tem pelo menos dois neurônios em sinapse isso tudo é uma simbiose de delírio com mau caratismo, porém no meio dos extremistas fanatizados tudo faz sentido, afinal mesmo o irracionalismo propõe alguma lógica. E a narrativa contempla. Então, quais as saídas, posto que parece uma doença incurável?
Unidade. Amplitude. Ativismo. Vigilância. Combatividade. No apoio ao mandato e governo. Nas ruas. Nas redes. No dia-a-dia. A reconstrução é sempre mais difícil do que a destruição. Um edifício exige projeto e execução demoradas para ficar pronto, mas desmorona em segundos sob dinamite. Fizemos a travessia. Desembarcamos na outra margem em tempo recorde, graças a Lula e a quem entendeu a necessidade e organismo de uma ampla frente contra o fascismo.
Agora é militar nos diversos espaços. E o da comunicação, discurso e narrativa é um deles. A subjetividade precisa ser disputada, seja para convencer, para agregar, para constranger, para denunciar, para enfrentar. Para vencer!
Mãos à obra. Como dizia o Maestro do Canão Sabotage: “uma mentira deles? Dez verdades”. A esperança venceu o medo, o amor venceu o ódio, a militância venceu a grana, então é desse jeito que a verdade vencerá a mentira e a democracia vencerá o fascismo, o terror e o golpe!
Texto em português do Brasil