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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

O jogo político agora vai começar

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

Janeiro foi um mês de glória, de susto e muito trabalho para Lula. A posse foi uma consagração, a tentativa de golpe pegou o governo desprevenido e neste mês que pareceu tão longo ele trabalhou muito: enfrentou o mau humor do mercado, a questão militar e a tragédia Yanomami, e colheu frutos com a diplomacia presidencial. Mas é com a posse do novo Congresso, hoje, e a eleição dos presidentes das duas Casas, que o jogo político vai começar para valer, desafiando sua reconhecida habilidade política. Matérias complexas, como a reforma tributária, em breve estarão em pauta.

Ter aliados na presidência da Câmara e do Senado é uma salvaguarda importante para um governo que não tem maioria. O PT conquistou a segunda maior bancada mas a coligação que elegeu Lula tem apenas 135 deputados. Antes da posse, o governo aprovou com facilidade a PEC da transição mas o Congresso era outro. O que toma posse hoje é muito mais conservador e gancioso.

Arhur Lira será eleito hoje presidente da Câmara por quase unanimidde e sua aliança pragmática com Lula deve funcionar. Mas nas últimas horas o receio de uma “zebra” no Senado fez o governo arregaçar as mangas em favor da reeleição de Rodrigo Pacheco. A improvável (mas não impossível) eleição do bolsonarista Rogério Marinho seria um complicador e tanto. Ontem à noite, os governistas contavam 45 votos a favor do atual presidente do Senado. Uma margem apertada, quando são necessários 41. A noite avançou ontem com a luz amarela piscando.

E não é só o bolsonarismo que infla a candidatura de Rogério Marinho. Um outro fator é a insatisfação de alguns senadores com a influência de Davi Alcolumbre na Casa, a quem Pacheco é grato por ter viabilizado sua priemeira eleição. O fato de dois senadores do PSD e dois do PSDB apoiarem o bolsonarista é sintomático. Pacheco deve vencer, mas se Marinho tiver uma votação expressiva, algo mais que 35 votos, será sinal de que o Senado vai dar trabalho.

A disputa no Senado desarrumou até mesmo o jogo na Câmara, onde Lira fechou uma aliança que vai do PT ao PL. Nas negociações finais de ontem para a composição da Mesa, o PT acabou se conformando com a indicação da deputada Maria do Rosario para a segunda secretaria, e não para a primeira vice-presidência ou para a primeira secretaria, como o partido desejava. A garantia da presidência da CCJ para o deputado petista Rui Falcão foi uma vitória mas Lira favoreceu os partidos do Centrão na composição geral da Mesa. Talvez em troca de alguns votos no Senado.  A primeira vice-presidência ficará para Marcos Pereira, (Republicanos-SP), a segunda vice para Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ), a primeira secretaria para Luciano Bivar (União-PE), a terceira para Julio César (PSD-PI) e a quarta para Lucio Mosquini (MDB-RO). A segunda secretaria, como já dito, para a petista Maria do Rosário. Uma Mesa muito conservadora.

Em busca da maioria parlamentar, Lula repartiu o ministério com um grande número de partidos, buscando espelhar a frente ampla que o apoiou. Nele estão, além dos partidos de esquerda, MDB, PSD e União Brasil.  Mas é agora, com o início do jogo, com as primeiras votações, que ele saberá com que base poderá mesmo contar. O MDB não é uno, o PSD também não, e o União Brasil tem dito que será independente.

O desgaste de alguns ministros, como já apontou aqui Luiz Costa Pinto, combinado com o resultado da disputa no Senado, pode exigir mudanças no ministério mais cedo do que o esperado. Mas Lula talvez aguarde o primeiro teste da base em votações para fazer este movimento.

Muito em breve o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve enviar uma proposta e abrir as negociações sobre a reforma tributária. Lira declarou ontem que ela será o primeiro ponto da agenda econômica na Câmara, ficando a definição de uma nova âncora fiscal para o segundo momento. São matérias complexas, às quais se juntam as MPs já editadas por Lula, alterando a estrutura do governo. Dino também apresentará, em breve, o Pacote da Democracia. E outras matérias virão com a dinâmica do governo.

O dia de hoje dará inicio ao jogo entre Governo e Congresso, que pautará, em grande partes, nossos próximos quatro anos.


Texto original em português do Brasil

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