Enquanto vamos olhando os balões passar, há matérias mais importantes que nos estão seguramente a escapar.
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China
Desde que um balão-espião entrou no final de janeiro em território americano pelo Alasca e acabou por ser abatido apenas depois de atravessar o território americano de lés a lés, ao largo da Carolina do Sul, passámos da era dos ‘Objectos Voadores Não Identificados’ (OVNI) para a dos ‘Objectos Voadores (por vezes mal) Identificados’ (OV(N)I).
A explosão do balão a 4 de fevereiro começou por fazer rebentar consigo a nova estratégia de reaproximação diplomática aos EUA desenhada pela liderança do PC Chinês, depois da retumbante derrota da sua política de controlo social pela pureza sanitária, levando a que o chefe da diplomacia americana cancelasse a sua visita ao país que deveria iniciar-se nesse dia.
Depois vieram as notícias vindas de círculos próximos da administração americana segundo as quais, afinal, já há anos que a China enviava balões-espião para território norte-americano, e que isso se teria mesmo confirmado durante a anterior administração.
Num terceiro tempo, os balões começaram a voar de todo o lado, sendo avistados quer na América do Sul quer de novo na América do Norte, sendo por sua vez as autoridades chinesas a devolver aos EUA a acusação de desenvolver programas de espionagem por balão, nomeadamente no Turquestão Oriental e no Tibete.
Num quarto tempo passámos então à época do ridículo, com a imprensa a descrever em detalhe as conversas no cockpit dos caças americanos a disparar mísseis sobre um presumível balão espião para, finalmente, se concluir que se tratava de um balão recreativo, aparentemente apenas um entre dezenas de um dos muitos clubes que fazem voar OVNI/OVI de inúmeras dimensões à volta da terra.
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Google e os balões
A utilização de balões por agências de informação – nomeadamente pela CIA – data dos anos 1950 e 1960, e como explica no Epoch Times um oficial americano reformado, coronel John Mills, que passou pela Google, a empresa herdou o projecto da CIA e com base nele montou em 2012 o projecto ‘Loon’ onde às tradicionais tecnologias se juntou o conhecimento da empresa em matéria de inteligência artificial.
Aqui, é necessário ter em conta que a Google é uma empresa criada pela CIA, nos finais do século passado e que os laços entre as duas instituições se mantiveram vivos até hoje. Como acontece frequentemente com este tipo de relações – e não só nem necessariamente as que dizem respeito ao que entre nós chamamos de ‘serviços secretos’ – elas não são transparentes e não é possível sequer ter certezas sobre qual o sentido que elas têm.
O que o coronel John Mills nos vem dizer é que ele não entende a razão pela qual o projecto, que tinha excelentes perspectivas comerciais – nomeadamente em países africanos com má cobertura de satélite – foi primeiro abandonado e, mais intrigante ainda, como ele aparentemente reaparece na China.
Ou seja, estamos aqui perante uma corrente de acontecimentos que começa com os interesses da defesa dos EUA e que termina com os interesses do ataque aos EUA.
Não é nada que me surpreenda, dado que tive já a ocasião de observar algo de muito semelhante num cenário no qual o Google, partindo de um aparente pedido da CIA para neutralizar os candidatos presidenciais franceses próximos de Putin em 2017 (e que dos quatro possíveis, eram todos menos Macron) acabou montando uma máquina de desinformação dominada pela Irmandade Muçulmana em conexão com os Guardas Revolucionários Islâmicos, ou seja, acabou trabalhando para os mais estratégicos dos inimigos dos EUA.
Como também tenho defendido, nomeadamente no meu livro sobre desinformação económica, tudo isto é possível na medida em que no Ocidente, e em particular nos EUA, se confundiu respeito pelo mercado com adoração do dinheiro, e que foi apenas para ganhar dinheiro que se deixou que as máquinas islamistas se infiltrassem nos aparelhos de Estado ocidentais.
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A Microsoft e a nova máquina da verdade
A Microsoft tem tido também relações estreitas com o aparelho de informações norte-americano, nomeadamente no quadro do conhecido sistema de espionagem ECHELON, já no século passado, sendo que há bastante evidência sobre a continuação da cooperação depois disso. Em qualquer caso, não poderemos dizer que se trata de uma relação tão próxima quanto a de que disfruta o Google.
A Microsoft foi cofundada o século passado por Bill Gates. Bill Gates deixou há já muito tempo a gestão directa da empresa, da qual ele continua a ser, no entanto, o accionista de referência. Na verdade, a quase totalidade da propriedade da empresa está na mão de fundos de investimento e de outras instituições, mais ainda que no caso de outras empresas tecnológicas, sendo que Bill Gates, apenas com um por cento do capital, é o maior investidor individual com maior poder na empresa.
Um pouco como outro dos personagens do sector que em certa medida lhe copia os passos, Elon Musk, Bill Gates deixou assim o dia a dia da Microsoft para se dedicar à indústria das vacinas. Segundo um vídeo produzido pelo cientista e político americano Shiva Ayyadurai, que entretanto o Youtube fez desaparecer, tratou-se de uma estratégia empresarial aconselhada por consultores de negócios baseada em três factores essenciais, (1) a grande probabilidade de se repetirem pandemias como a gripe SARS do princípio do século; (2) a legislação americana isentar as vacinas, contrariamente a outros produtos sanitários, de normas de responsabilidade estritas e (3) o enorme mercado que é a humanidade inteira.
Esta é talvez a mais credível das afirmações sobre a lógica da actuação do principal personagem na indústria internacional das vacinas, mas a verdade é que não posso garantir da sua veracidade, dado que se trata de um tema envolto numa enorme guerra de informação em que, de parte a parte, se têm esgrimido frequentemente argumentos sem qualquer sentido, e em que tudo tem de ser passado à lupa antes de ser aceite.
O que é seguro é que Bill Gates foi o mais significativo e poderoso partidário da ‘vacinação em massa’ para fazer frente ao COVID e foi também ele que recentemente confessou em declarações públicas que elas funcionam deficientemente, numa afirmação que inacreditavelmente foi passada em branco por toda a imprensa que fez a campanha da sua obrigatoriedade.
E porque razão, é esta questão tão importante neste contexto? Porque não é possível entender a pandemia sem entender as relações sino-americanas, e porque não é possível entender o que está em jogo sem equacionar a máquina de informação com maior potencial disruptor até hoje já produzida: o ChatGPT da Microsoft!
Enquanto vamos olhando os balões passar, há matérias mais importantes que nos estão seguramente a escapar.