Uma evidência do retrocesso havido no Brasil em relação à condição das mulheres está no fato de que, neste 8 de março, o ponto mais debatido sobre o tema não é o direito ao corpo, a subrepresentação política ou a desigualdade salarial. É a violência contra a mulher, que aumentou substancialmente nos últimos quatro anos.
A pesquisa do Forum Brasileiro de Segurança Pública/Datafolha apurou que no ano passado 18 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência. Que houve um aumento de 4,5% no conjunto das situações de brutalidade: 11,4% delas sofreram violência física, 23,1% violências verbais, 12,4% perseguições, 9% ofensas sexuais, 5,4% sofreram espancamentos, 5,1% agressões com faca ou arma de fogo, 1,6% esfaqueamentos.
Essa pesquisa ainda não fechou o número de feminicídios mas segundo o Monitor da Violência houve um aumento de 5% em 2022. Foram 1,4 mil mortes motivadas pelo gênero, num período em que os assassinatos em geral tiveram queda de 1%.
Segundo o IPEA, os estupros chegam no Brasil a 822 mil por ano, ou 68.500 por dia. Isso é uma selvageria completa.
Os outros problemas enfrentados pelas mulheres não são menos importantes mas a violência é o sinal da involução civilizatória que vivemos. Para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é patente que o bolsonarismo, com os discursos e práticas machistas e misóginos dos últimos quatros, e o desmonte das políticas públicas setoriais, impulsionou a violência contra as mulheres.
Este infortúnio começou no dia 20 de outubro de 2018, uma semana antes do segundo turno que deu a vitória a Jair bolsonaro, quando milhares de mulheres foram às ruas noo movimento “Ele, não”. Outro protesto contra Bolsonaro ocorrera em 29 de setembro mas a última foi a maior manifestação feminina ja realizada no Brasil. Entretanto, os bolsonaristas, através de suas milícias digitais, inundaram o país de fake news sobre a manifestaçao, com mentiras sobre sexo lésbico e defecação nas ruas e todo o tipo de estigmatização do movimento.
A agenda de iniciativas lançada hoje pelo presidente Lula contempla principalmente medidas contra a violência, embora a mais importante delas seja o projeto de lei estabelecendo a igualdade de salários entre homens e mulheres que ocupam a mesma função. Vamos ver se este Congresso conservador o aprova.
E não esqueçamos da subrepresentação política. Para ficar só no Congresso, a bancada da Câmara chegou agora a 91 deputadas, ou 17,7%. Foi um progresso mais ainda estamos muito atrás de quase todos os países de nossa própria região. Lembro-me de quando só havia na Câmara uma mulher, Eunice Michiles. Lembro-me de quando passaram a ser cinco. Lembro Cristina Tavares, a primeira com perfil feminista a chegar à Casa. E de quando chegaram a 26 na Constituinte. Longa é a caminhada.
No Senado, agora elas são 10. Ou apenas 12,3%. Eu me lembro de um Senado sem mulheres.
Mas hoje é, sobretudo, o dia de virar a página dos anos de retrocesso sob o governo de extrema-direita.
Texto original em português do Brasil