O Índice Mundial da Felicidade publicado pela Gallup é talvez o mais importante dos indicadores de satisfação humana, certamente mais importante do que indicadores monetários como o produto interno bruto (PIB). Cobrindo 146 países – o pequeno Estado do Butão, que se notabilizou pela substituição do PIB por um indicador de felicidade, não está infelizmente coberto – o indicador dá-nos uma imagem do mundo que, sendo diferente, coincide, no entanto, largamente com a distribuição monetária da riqueza.
Nos lugares cimeiros temos os países do noroeste europeu, e nos primeiros vinte, a maioria dos chamados países ocidentais, onde se inclui Israel (em nona posição), começando apenas depois disso a situar-se os primeiros países asiáticos e da América do Sul. No último lugar, o Afeganistão e em penúltimo o Líbano são relativamente fáceis de entender, como também são infelizmente fáceis de entender as posições de outros países vizinhos.
Portugal, na quinquagésima sexta posição, tem apenas atrás de si a Grécia e a Bulgária no seio da União Europeia, mas é de salientar que é um dos países que mais positivamente evoluiu nos últimos anos. Desde 2016, Portugal tem melhorado a sua posição todos os anos, passando da 94.a para a actual 56.a posição, o que mostra que a situação tem melhorado substancialmente.
Noutros indicadores não monetários Portugal apresenta-se em melhor posição. Nos índices de desenvolvimento humano (principal alternativa ao PIB, elaborado com base em indicadores objectivos) Portugal está na posição 36, no indicador de diferenças de género na posição 29, no indicador de progresso social em 18 e no ranking mundial da paz em número 6.
Não se trata de ignorar o resto e passar a considerar a felicidade como modelo alternativo, algo que foi tentado, por exemplo, pelo Estado Novo, com as alegorias da casinha portuguesa e dos pobrezinhos, mas honrados, e que de outro modo está também implícito no uso de algumas substâncias psicotrópicas ou mesmo da citação bíblica alusiva aos pobres de espírito.
Trata-se antes de ter uma noção mais equilibrada do que nos rodeia, romper com a obsessão monetária sem por isso perder de vista a importância do dinheiro.
Em conclusão, é tempo de passarmos a inserir este tipo de dados, lado a lado com outros de tipo especificamente macroeconómico ou geralmente políticos, para avaliarmos com horizontes mais largos o que somos e para onde vamos nas apreciações que regularmente fazemos.