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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Tarek Fatah

Paulo Casaca, em Bruxelas
Paulo Casaca, em Bruxelas
Foi deputado no Parlamento Europeu de 1999 a 2009, na Assembleia da República em 1992-1993 e na Assembleia Regional dos Açores em 1990-1991. Foi professor convidado no ISEG 1995-1996, bem como no ISCAL. É autor de alguns livros em economia e relações internacionais.

Uma vida feita de coragem!

‘SOU UM INDIANO NASCIDO NO PAQUISTÃO; um punjabi nascido no Islão; um imigrante no Canadá com consciência muçulmana, alicerçado numa juventude marxista. Sou um dos muitos filhos da meia-noite de Salman Rushdie (…)’ Fatah, 2011, p. XI

Um dos amigos mais próximos da SADF e uma das pessoas mais brilhantes e corajosas que já conheci, Tarek Fatah faleceu na passada segunda-feira, dia 24 de abril, após setenta e três anos de uma vida intensa. Nascido em Karachi, logo após a partilha, numa família muçulmana, Tarek Fatah cresceu como paquistanês e começou a sua carreira como jornalista. (Fatah, 2011)

Tarek Fatah

Preso e proscrito pela ditadura militar paquistanesa, depois de viver na Arábia Saudita, estabeleceu-se no Canadá, onde foi jornalista e, eventualmente, um político eleito. Ele era estruturalmente um esquerdista, preocupado principalmente com a pobreza, a discriminação e ditadura, e continuou focado na forma como esses problemas perduram no seu país natal. A responsabilidade por esse estado de coisas é o que ele chama de “Estado Islâmico”, como se depreende do título do seu livro essencial: “O Paquistão, atrás de uma miragem, a trágica ilusão de um Estado Islâmico” (Fatah, 2011).

Tarek ofereceu-me o seu livro logo depois de eu ter lançado o SADF, e essa obra exerceu uma impressão duradoura em mim. O livro é uma história crítica do Islão, escrita num estilo tipicamente “Tarek”, provocador, contundente, artisticamente brincando com as palavras, e cheia de humor. Ele entre nos detalhes da história, nas realidades do seu país natal e da Arábia Saudita (onde viveu por dez anos), bem como na realidade iraniana, cujo fanatismo do regime ele compreende plenamente, para fazer um manual muçulmano contra o fanatismo facilmente acessível (Fatah, 2011).

O seu livro é dedicado a “Benazir Bhutto e Daniel Pearl, uma muçulmana e um judeu, ambos vítimas do terrorismo” (palavras iniciais, Fatah, 2011, p.VII) e está muito ancorado na luta contra o antissemitismo, antissemitismo que é um traço distintivo do fanatismo islâmico. Por exemplo, Tarek diz-nos que:

“Escrevo como um muçulmano cujos antepassados eram hindus. A minha religião, o Islão, está enraizada no judaísmo, enquanto a minha cultura punjabi está ligada à dos sikhs.” (Fatah, 2011, p. XI)

A admiração por Israel e a sua firme oposição ao antissemitismo – como a todas as outras formas de racismo e discriminação – foi uma das suas credenciais mais óbvias, pois foi a sua denúncia da cooperação ocidental com o islamofascismo, que o levou a ser vilipendiado tanto por organizações abertamente islamistas como por aquelas financiadas pelo establishment político-empresarial ocidental (promovendo a desinformação em favor da agenda islamista,  por exemplo, o ‘EU DisinfoLab’).

Foi há apenas alguns meses, na sua coluna periódica no “Toronto Sun“, que expressou a sua consternação pela nomeação pelas autoridades canadianas de uma ‘mulher que usa a bandeira da Irmandade Muçulmana’ como ‘primeira representante especial para o combate à islamofobia’; (…) ‘A visão de milhares de iranianos exilados que agora chamam o Canadá de sua casa perturbou-a. Que mais poderíamos esperar da nova czarina de Trudeau que, em vez de criticar os ayatollahs do Irão, optou por visar compatriotas muçulmanos que procuram a democracia, a liberdade, a liberdade de consciência e de expressão?’

Tarek Fatah já não está fisicamente entre nós, mas os milhões de muçulmanos que lutam pela liberdade e pela igualdade de direitos, iranianos ou não, estão,  assim como aqueles que no Ocidente apoiam os muçulmanos oprimidos e estão dispostos a enfrentar tanto os islamofascistas como a máquina de desinformação e propaganda que os apoia – o que é, diga-se de passagem,  generosamente financiada por uma máquina político-empresarial cujos verdadeiros motivos estão escondidos em construções opacas de paraísos fiscais.

Parabéns Tarek, pelo trabalho fabuloso que fizeste!


(Adaptação do original em inglês publicado por SADF)

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