A edição de 2023 da SEMINCI foi, como dissemos há dias, um festival de transição. Novo director, uma equipa nova e novas propostas. Pode-se afirmar que o desafio foi superado com sucesso. Muito mais público que nos anos mais recentes (é certo que foram anos de pandemia) com as salas quase sempre cheias Um conjunto de filmes na sua maioria razoavelmente interessantes e uma grande presença de cineastas mulheres.
Mas quanto ao palmarés… Bem, quem faz o palmarés são os júris. E os júris são formados por especialistas que têm critérios que escapam ao comum dos mortais, mesmo à crítica especializada.
Durante todo o festival, e a exemplo do que acontece todos os anos, o diário da cidade, ‘El Norte de Castilla’ publicou uma separata dedicada à SEMINCI. (A propósito refira-se que deixou de haver a revista publicada diariamente pelo Festival. Uma nota negativa para a organização). Mas voltemos à separata do jornal de Valladolid. Na última página, uma classificação dos filmes a concurso elaborada com os votos de sete críticos convidados. Ela aqui está.
Como se poderá verificar no que dizemos mais adiante o júri conseguiu premiar os quatro últimos classificados desta tabela com as principais distinções do certame. E também conseguiu passar ao lado de filmes como Green Border de Agnieszka Holland e Las 4 Hijas (Les Filles d’ Olfa) de Kaouter Ben Hania. E o filme de Ken Loach lá escapou com o Prémio do Público (esse não foi atribuído pelo júri…) e o do melhor actor.
‘Espiga de Ouro’ para “La Imatge Permanent” da catalã Laura Ferrés
Poucos dias depois de Jaione Camborda, realizadora basca (residente na Galiza), ter obtido a ‘Concha de Ouro’ de San Sebastián com “O Corno”, foi agora a vez de outra jovem cineasta espanhola, a catalã Laura Ferrés conquistar a ‘Espiga de Ouro’ da SEMINCI com La Imatge Permanent, filme que esteve em competição no Festival de Locarno. Esta é a primeira longa-metragem de Laura Ferrés que tem na sua filmografia três curtas. Uma delas, ‘Los desheredados’, foi premiada na Semana da Crítica de Cannes e conquistou um Goya. La Imatge Permanent é inspirado no passado da família materna da realizadora e conta, às vezes num registo de humor quase absurdo, a história de uma publicista que quando procura rostos para uma campanha depara com uma mulher, vendedora ambulante, que emigrou para a Catalunha há décadas e com quem estabelece uma relação muito especial.
‘Espiga de Prata’ para “La Chimera” da italiana Alice Rohrwacher
La Chimera, o quarto filme de Alice Rohrwacher, realizadora de ‘O País das Maravilhas’ e ‘Feliz como Lázaro’ (ambos premiados em Cannes, o primeiro com o Grande Prémio do Júri e o segundo com o do melhor argumento) é mais uma incursão da autora na Itália profunda, desta feita com uma história de certo modo ‘felliniana’ centrada nas aventuras de um grupo de ladrões de objectos arquelógicos. Um trabalho relativamente interessante que mistura a realidade com a fantasia e que conta com Isabella Rossellini no elenco.
Outros prémios da secção oficial
O prémio para a melhor realização foi atribuído à alemã Angela Schanelec, por Music, uma adaptação livre, e muito pouco interessante, do mito de Édipo que só terá impressionado os membros do júri. Music foi o pior dos 17 filmes a concurso na opinião do painel de críticos do jornal ‘El Norte de Castilla’. Ainda mais estranha a atribuição a este filme do prémio para a melhor fotografia, do sérvio Ivan Marković.
Segundo o Júrí Oficial a Melhor Nova Realização foi de Molly Manning Walker por How To Have Sex, o 16º sexto classificado entre 17 filmes pelo painel de críticos já citado.
Bem mais merecido o Prémio para a Melhor Montagem para a alemã Gesa Jäger pelo seu trabalho em Sala de Professores, do alemão Ilker Çatak, um dos bons filmes do festival.
Outro dos bons filmes desta SEMINCI, Rapito (O Rapto) do italiano Marco Bellocchio, obteve o prémio para o melhor guião, da autoria do realizador e de Susanna Nicchiarelli, a partir da historia real de um rapaz judeu que é separado da sua família e sequestrado pelo papado de Pio IX em pleno processo da reunificação italiana.
Os prémios de interpretação desta edição da SEMINCI distinguiram a francesa Léa Seydoux pelo seu desempenho em The Beast de Bertrand Bonello e o britânico Dave Turner o principal intérprete do excelente The Old Oak de Ken Loach.
The Old Oak conquistou também o Prémio do Público, um público que ficou rendido perante o discurso desassombrado de Ken Loach e Paul Laverty contra a xenofobia. Queremos acreditar que foi isso que seduziu os espectadores e não a veterania do cineasta inglês como, de forma completamente desastrada, o festival publicou na sua página.
Outros filmes do palmarés
Secção oficial:
- Espiga de Ouro de curta-metragem – Wander to Wonder de Nina Gantz (Países Baixos)
- Espiga de Prata de curta-metragem – Aitana de Marina Alberti (Espanha)
Secção ‘Punto de Encuentro’:
- Melhor longa-metragem – Gasoline Rainbow de Bill Ross iV e Turner Ross (EUA)
- Prémio Especial do júri – Arthur & Diana de Sara Summa(Alemanha)
- Menção especial – Animal de Sofia Exarchou (Grécia, Áustria, Roménia)
- Melhor curta-metragem estrangeira – Nocturnal Burger de Reema Maya (Índia, EUA)
- Menção curta-metragem estrangeira – Hearthbrak Hotel de Emma Axelroud Bernard (França)
- Prémio ‘La Noche del Corto Español’ – Meteoro de Victor Moreno (Espanha)
- Prémio do Público– Muyeres de Marta Lallana (Espanha)
Secção ‘Tiempo de Historia’:
- Primeiro Prémio – Between Revolutions de Vlad Petri (Roménia, Croácia, Qatar, Irão)
- Segundo Prémio – Retratos Fantasmas de Kleber Mendonça Filho (Brasil)
- Prémio curta-metragem – Ours de Morgne Frund (Suíça)
- Prémio do Público– The Mother of All Lies de Asmae El Moudir (Marrocos, Arábia Saudita, Qatar, Egipto)
De referir ainda os prémios seguintes:
- Prémio FIPRESCI – Sobre Todo de Noche de Victor Iriarte (Espanha, França, Portugal)
- Prémio da secção Alquimias – Femme de Sam H. Freeman, Ng Choon Ping (Reino Unido)
- Prémio Doc España – Zinzindurrunkarratz de Oskar Alegria
- Prémio Castilla y León em Corto – El rey de la semana de David Pérez Sañudo
- Espiga Verde – Muyeres de Marta Lallana (Espanha) e menção especial para Trenc D’ Alba de Anna Llargués (Espanha)
- Espiga Arco-Iris – All of us strangers de Andrew Haigh (Reino Unido, EUA)
- Menção Arco-Iris – On the Go de Marie Giséle Royo e Julia de Castro (Espanha)
- Prémio Fundos – A Batalha da Rua Maria Antônia de Vera Egito (Brasil)
- Prémios da SEMINCI JOVEM – La Contadora de Películas de Lone Scherfig (Espanha, França, Chile)