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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Os EUA à beira da armadilha da dívida

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

É cada vez mais evidente que os EUA estão a equilibrar-se numa armadilha da dívida paulatinamente construída, porque quando a dívida era baixa, as taxas de juros não agravavam o orçamento do governo, do mesmo modo que um elevado nível de dívida também não sobrecarregava o orçamento público; mas em 2023, não só a dívida (que em 2022 era a quarta maior dos países da OCDE e representava já quase 150% do PIB norte-americano) e as taxas de juro estão elevadas, como deverão continuar a subir.

A situação da dívida tem evoluído de forma muito desfavorável para o governo dos EUA ao longo do tempo (como lembrou a BBC, em Janeiro deste ano, desde 1960, os políticos aumentaram, estenderam ou reviram a definição do limite da dívida em 78 ocasiões – incluindo três apenas nos últimos seis meses), mas até agora, isso parece ter passado despercebido aos economistas, aos políticos, e até mesmo aos “especialistas” de Wall Street, o que poderá estar a mudar pois estes estão a começar a reagir, como se percebe pelas notícias da descida do seu rating e pelo aumento acentuado na taxa de juro da dívida dos EUA, que acaba de atingir o valor de 5,06%, um máximo de três anos.

Com taxas de juros mais altas sobre um grande montante de dívida resultam pagamentos de juros muito elevados, contribuindo para que os pagamentos da dívida dos EUA se transformem rapidamente numa bola de neve fora de qualquer controlo, porque o acréscimo das necessidades do serviço da dívida vai-se traduzir num aumento maior e mais rápido da dívida acumulada…

…arriscando não só a estabilidade orçamental, mas também aquele que é ainda o principal mercado de capitais mundial, o próprio sistema financeiro e, principalmente, a moeda norte-americana.

O enfraquecimento dólar levaria os custos dos empréstimos a dispararem, afectando primeiro o governo e depois as pessoas em geral, na forma de taxas de juros mais altas para os empréstimos imobiliários e as dívidas dos cartões de crédito, algo de inédito para os EUA, que causaria danos generalizados na confiança dos consumidores e na economia, que já se encontra em estado precário.

As situações de sobreendividamento são particularmente difíceis de resolver, seja pelas dependências que o endividamento gera seja porque as habituais receitas neoliberais costumam acarretar dolorosos efeitos colaterais para as populações, mas especialmente para os políticos que acabam sacrificados nas urnas.

Esta crise, de razoável eminência e sem solução evidente no actual quadro político norte-americano, agravado por uma conjuntura internacional pautada pelos conflitos da Ucrânia e do Médio Oriente, pode surgir a qualquer momento e apresenta todo o potencial para fazer com que a crise sistémica de 2009 possa parecer uma brincadeira de crianças.

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