A realidade económica que irá resultar desta nova etapa na conflituosa relação israelo-palestiniana não deverá constituir outra novidade que não a da continuação das restrições e impedimentos israelitas à actividade económica palestiniana e ao agravamento das vulnerabilidades a que aquelas populações há muito vêm a ser sujeitas, e isto é a opinião do insuspeito Banco Mundial.
O confronto que, há pelo menos três gerações, opõe árabes e judeus continua a inviabilizar qualquer solução, incluindo a da criação de dois Estados (um judeu e outro árabe) que partilhassem o território, mas apesar desta forte limitação e dos desafios acrescidos trazidos pela situação humanitária dos seus territórios, a economia palestiniana registou, em 2022, um crescimento anual do seu PIB real de 3,9%, num sinal de clara tentativa de recuperação após a forte retracção registada em 2020, atribuível à pandemia, que os dados preliminares para o 1º trimestre de 2023, com o crescimento a desacelerar para os 3,1% já não confirmavam… e isto ainda sem os efeitos da recente destruição.
O período de crescimento do PIB poderá ser atribuído a um aumento do consumo originado numa débil e sempre frágil normalização de relações entre judeus e palestinianos que levou a uma subida no número destes que trabalham em Israel e nos assentamentos judaicos, onde os salários deverão corresponder ao dobro do salário médio diário na Cisjordânia, o outro território palestiniano, maior e mais populoso, que permanece sob ocupação militar directa de Israel. A presumida situação de suavização das sistemáticas restrições impostas por Israel terá contribuído para que na Cisjordânia, a economia crescesse mais de 4% no primeiro trimestre do ano, graças ao aumento do comércio a retalho e dos serviços, situação que não se estendeu à Faixa de Gaza, onde uma decisão do governo israelita de restringir a venda de peixe de Gaza na Cisjordânia deverá ter tido um forte impacto na economia daquele território levando-a a contrair mais de 2,5% no primeiro trimestre deste ano.
O emprego, ou sua falta, é outro sinal da grande disparidade entre os territórios da Cisjordânia e de Gaza. Ambos sofrem de condições de trabalho altamente desfavoráveis, apresentando em conjunto uma taxa de desemprego acima dos 25%, que não reflecte as grandes divergências entre os dois territórios que se devem, fundamentalmente, às maiores restrições ao acesso e livre circulação impostas por Israel na Faixa de Gaza.
Neste território, os números (do Banco Mundial) são bastante alarmantes, com quase metade da sua população desempregada (45,3%, originando que, segundo dados da OXFAM, cerca de 80% da população de Gaza dependa da ajuda humanitária para sobreviver), enquanto na Cisjordânia essa taxa será de pouco mais de 13% de uma população que apesar de tudo não tem parado de crescer.
Não se estranhe pois que apesar da regular ajuda humanitária, uma economia que poderia ser, pelo menos, duas vezes maior sem a ocupação israelita, não escape à norma geral de um endividamento crescente…
…que embora não atinja os 10 mil milhões de euros, ainda assim representa cerca de 50% do PIB palestiniano.