Um mundo em mudança, uma nova ordem mundial a surgir, que envolve riscos elevados e a enorme fragilidade económica e social do nosso país agravada pelo corte brutal no investimento público e o reduzido investimento privado numa U.E. em declínio e em perda de relevância
Neste estudo analiso o colapso gradual da globalização capitalista dominada pelos EUA, a divisão do mundo em três grandes blocos, a “NOVA ORDEM MUNDIAL”, que está surgir , as consequências e os riscos que encerra a que muitos continuam cegos e surdos, lembro que ao longo da história quando tal sucedeu – o confronto entre a potência dominante e a potencia em ascensão – só em 4 casos de 16 não acabou em guerra entre ambas. No confronto entre os EUA (a potencia hegemónica) e a China (a potencia em ascensão) ainda não se traduziu por conflito militar direto, mas tem lugar através de intermediários (Rússia/Ucrânia). E depois de fazer esta contextualização analiso, utilizando dados do INE, as consequências para Portugal devido à sua situação frágil causada por um desinvestimento brutal.
Estudo
Um mundo em mudança, uma nova ordem mundial a surgir, que envolve riscos elevados e a enorme fragilidade económica e social do nosso país agravada pelo corte brutal no investimento público e o reduzido investimento privado numa U.E. em declínio e em perda de relevância
Antes de entrar propriamente na análise que nos propomos fazer, interessa ter presente o novo contexto internacional que está a surgir e em que o nosso país se encontra inserido pois ele condicionará o futuro do país e dos portugueses
O CONFRONTO EUA/CHINA,A NOVA ORDEM MUNDIAL EM ASCENSÃO E O DECLINIO E PERDA DE REVELÂNCIA DA U.E.
A globalização capitalista, tal como a conhecemos e vivemos durante os últimos anos após a derrocada da União Soviética, em que a única potencia hegemónica eram os Estados Unidos (um mundo unipolar) , está a ser posta em causa por uma nova potencia em ascensão, que é a China. Graham Allison, ex-secretário adjunto da defesa dos E.U.A. e conselheiro dos secretario da defesa de todos os presidentes americanos desde Reagan a Obama, e professor universitário, no seu livro “DESTINADOS À GUERRA” (EUA e CHINA) lembra, que ao longo da história mundial, em 16 situações em que tal sucedeu, apenas em 4 não levaram a um confronto militar entre a potência dominante e a potência em ascensão. Por sinal, o 1º caso que refere, e que não terminou em guerra foi precisamente o entre Portugal (a potencia dominante no início do sec. XV na construção de um império) e a Espanha (a potencia em ascensão) evitada pela intervenção do papa que “dividiu o mundo em duas partes”: uma para Portugal e outra para Espanha (Tratado de Tordesilhas). É a conhecida “armadilha de Tucídides” em que historiador grego explica por que razão a guerra entre Esparta (a cidade-estado dominante) e Atenas (a cidade-estado em ascensão) era inevitável.
O confronto entre os E.U.A. é CHINA já começou, embora ele ainda não tomou a forma de um conflito militar direto entre as duas maiores potências atuais, mas já está a ter lugar através de intermediários -Rússia/Ucrânia-, a 1ª tem uma aliança estratégica com a China, e a 2ª o apoio do “ocidente alargado” liderado pelos EUA.
O confronto direto EUA/China é já claro para todos no campo económico/comercial, com o aumento das tarifas alfandegárias sobre produtos chineses pelos EUA e a proibição de exportação de determinados produtos vitais para a China, e com a respostas da China, e também no campo tecnológico de que é exemplo a guerra dos chips mais avançados para a IA (ver Chris Miller um professor americano de história internacional) e também por meio da pressão do governo americano sobre os países da U.E. para estes banirem a empresa chinesa Huawei, tecnologicamente a mais avançada a nível mundial no 5G, de poder concorrer (Portugal já se vergou à pressão americana, e a ANACON baniu totalmente o uso de equipamentos do fabricante chinês na rede 5G no nosso país com prejuízos para os prestadores que já tinham feito grandes investimentos), bem como sobre a empresa holandesa ASML Holding NV, a única no mundo especializada na produção de sistemas de litografia por ultravioleta extremo (EUV) cruciais para a fabricação de chips semicondutores com tecnologia avançada, para não vender estas máquinas à China A chamada “Nova Rota da Seda” (One Belt One Road) proposta e apoiada pela China, é uma resposta ao cerco dos EUA, que consiste na realização de grandes investimentos por todo o mundo nomeadamente em portos, sendo Sines para China um dos “pontos críticos” para o desenvolvimento do projeto global Nova Rota da Seda tendo o EUA já manifestado a total oposição à concessão.
Portugal atingido por esta nova estratégia chinesa, através da compra, por empresas chinesas estatais e privadas, de participações qualificadas nas grandes empresas de energia (EDP e REN) na banca (BCP), nos seguros (FIDELIDADE), na saúde (LUZ). Curiosamente estas compras chinesas foram acarinhadas pelo governo de Passos Coelho/Portas.
O mundo globalizado e unipolar dominado pela hegemonia dos EUA está em progressiva desagregação , acelerado pelas guerras Rússia/Ucrânia e Israel/Hamas em que os EUA revelam fragilidades e geram o descrédito. Uma NOVA ORDEM INTERNACIONAL está a surgir, através da formação 3 grandes blocos: (1) China/Rússia/Irão/Coreia do Norte; (2) O chamado “OCIDENTE ALARGADO” liderado pelos EUA que inclui a U.E., o Japão e o Canadá; (3) E o SUL GLOBAL que inclui países como a India, o Brasil, a Turquia, e muitos países da Africa e América Latina. As guerras, as sanções, o disparar dos preços da energia e da inflação, o crescimento económico novamente deprimente em 2024 da U.E. (0,9%), da Zona Euro (0,8%) da Alemanha (0,3%), da França (0,9%), da Espanha (1,7%), os principais parceiros comerciais de Portugal são já o sintoma dessa “Nova Ordem”. O mundo nunca mais voltará a ser o que era. Só os que andam cegos e surdos à mudança global é que pensarão o contrário. Esta nova realidade negada por muitos, habituados a um mundo unipolar dominado pelos EUA, acabará por se impor, quer queiramos ou não, e quem não a tenha em conta este novo contexto internacional dificilmente compreenderá os riscos que mundo corre de uma guerra mais geral que pode levar à destruição da humanidade, nem as dificuldades e desafios que o nosso país enfrenta num estado de extrema fragilidade causada por um largo período de desinvestimento como mostraremos.
O DESIVESTIMENTO PUBLICO ENORME EM PORTUGAL DURANTE OS GOVERNOS DE PASSOS COELHO/PORTAS E COSTA
É neste novo contexto internacional inseguro e difícil que se tem de analisar a situação de Portugal inserido numa U.E. em declínio e perda de relevância, e submissa a estratégia dos EUA. Neste quadro a Administração Publica (SNS, Escola Pública, a Justiça, de Segurança Social, de Transportes Segurança Pública, serviços de gestão do “PRR” e “Portugal 2030, etc.) é a única garantia de assegurar o bem-estar da população e do desenvolvimento do País. Quem não compreender a importância de uma boa Administração Publica a funcionar bem neste contexto dificilmente compreenderá a situação difícil em que se encontra o país pelo enorme desinvestimento feito nela pelos governos PSD/CDS e PS/Costa (q.1).
Quadro 1 – Investimento e desinvestimento público em Portugal no período 2012/2023
Com governo de Passos Coelho/Portas (2012/2015), ou seja, em 4 anos, a FBCFP (investimento publico ) foi inferior ao Consumo de Capital Fixo, portanto aquele desapareceu devido ao uso e à obsolescência (corresponde à amortização a nível de empresas) em -5428 milhões €. E entre 2016 e 2023, com os governos PS/Costa, ou seja, em 8 anos o investimento público foi inferior o que se gastou e desapareceu em -10669 milhões €. Em resumo, no período 2012/2023, o investimento total publico somou 51702 milhões € e o consumo de capital fixo público, ou seja, aquele que desapareceu devido ao uso e obsolescência, atingiu 67800 milhões €. Isto significa que o novo investimento publico nem compensou aquele desapareceu. Neste período verificou-se um forte desinvestimento público calculado em -16098 milhões €, segundo dados do próprio INE. A consequência foi uma profunda degradação dos equipamentos e serviços públicos (400 escolas não reabilitadas, hospitais degradados sem quartos, sem camas e até sem macas para receber doentes, hospitais prometidos há muitos anos que continuam por construir, atrasos no Plano Ferroviário Nacional, no PRR e Portugal 2030, etc.). Tudo em nome do “novo deus das contas certas” de que se gabam Costa/Medina e comentadores.
O REDUZIDO AUMENTO DO INVESTIMENTO PRIVADO QUE NÃO COMPENSOU A QUEBRA DO INVESTIMMENTO PÚBLICO
A gravidade e falta de visão estratégica clara nos dados do INE no quadro 1, não foi compensada pelo investimento privado, sempre dependente do investimento público, como revela o quadro 2 com dados também do INE.
Quadro 2 – Investimento e desinvestimento privado em Portugal no período 2012/2023 – Milhões €
Segundo o INE, durante o governo de Passos Coelho/Portas/Troika (2012/2015), verificou-se um forte desinvestimento do setor privado já que o novo investimento (91033 milhões €) foi inferior as amortizações neste período, ou seja, o que desapareceu devido ao uso e à obsolescência (100231 milhões €) em -9198 milhões €.
Segundo o INE, com os governos de Costa (2016/2023) verificou-se uma inversão já que o novo investimento privado (287509 milhões €) foi superior ao Consumo de capital fixo (271623 milhões €) em +15886 milhões €, mas não foi suficiente para compensar o desinvestimento privado durante o governo do PSD/CDS (-9198 milhões €) e o desinvestimento publico no período 2012/2023 (-16098 milhões €). Este desinvestimento total determinou que o stock de capital fixo por trabalhador quando comparado com a média da União Europeia e da Zona Euro tenha diminuído. Segundo a AMECO (base de dados da Comissão Europeia), em 2012, o stock de capital fixo (investimento em equipamentos, etc.) por trabalhador em Portugal correspondia a 55,9% da média dos países da Zona Euro e a 64,7% dos países da U.E., enquanto em 2023 já era apenas 49,5% da média da Zona Euro e 56% da média da U.E. Em euros o stock de capital fixo por trabalhador em Portugal diminuiu, entre 2012 e 2023, de 122000€ para apenas 109800€.
enquanto na Zona euro aumentou de 218400€ para 221800€ e, na U.E: cresceu de 188500€ para 196100€. Não é desinvestindo em Portugal que se aumenta a produtividade e a criação da riqueza por trabalhador e se prepara o país para enfrentar os desafios, a insegurança e as dificuldades futuras que se avizinham causadas pelo surgimento de uma “Nova Ordem Mundial”. ESTE É TAMBÉM UM DESAFIO QUE SE COLOCA AO NOVO GOVERNO PELO QUAL TAMBÉM TEM DE SER AVALIADO PELOS PORTUGUESES