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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

A fome de sucesso em um sistema que devasta a humanidade do ser

Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Marcos Aurélio Ruy, em São Paulo
Jornalista, assessor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

Em cartaz na Netflix, o filme tailandês Fome de Sucesso (2023), dirigido por Sitisiri Mongkolsiri, com roteiro de Kongdej Jaturanrasamee, mostra a devastação que o sistema capitalista faz no caráter das pessoas, sobretudo nas formas de se buscar o sucesso.

A protagonista Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying) sai da cozinha do restaurante da família, em um bairro pobre de Bangkok, capital da Tailândia, para participar de um teste na equipe de um chef, Paul (Nopachai Chaiyanam), adorado pela elite pelo seu rigor excessivo e por seus pratos esotéricos.

Tudo para servir a essa elite, como aqueles trabalhadores que conseguem ascender na vida e, para manter o seu status, submetem-se aos mais ricos sem se importar com o que tiverem de fazer para tanto. Mas, como diz Millôr Fernandes: “Quem se curva aos poderosos mostra a bunda aos oprimidos”.

Em sua trajetória, Aoy consegue inclusive rivalizar com Paul, depois de se demitir devido aos exageros do chef para agradar os ricaços. Vindo de uma família humilde, ele é devastador com seus subordinados, ultrapassando, inclusive, o que chamamos de assédio no trabalho. Paul se mostra terrivelmente agressivo e grosseiro, maldoso até; sem limites para agradar seus clientes.

Tal encadeamento nos leva a refletir sobre os motivos de tanta desigualdade, em um sistema que não valoriza o sentimento de humanidade, e de como superar as mazelas da pobreza sem se submeter aos poderosos.

E vai fundo ao enunciar o caráter exterminador e opressor do capitalismo. Sistema no qual quem vive do trabalho vive na corda bamba da sobrevivência. Com tremenda dificuldade, portanto, de atingir o sucesso.

Paul consegue essa façanha, mesmo sendo filho de trabalhadora doméstica, mas pensa ter atingido o topo apenas por seu mérito. Por isso, exige o mesmo de quem trabalha para ele. A sua maneira de se vingar dos riquíssimos é tornar-se desejado por eles com seus pratos inimagináveis.

A gastronomia entra nessa disputa, onde os finos (às vezes nem tão finos) pratos servidos aos ricos destoam totalmente da comida consumida pela maioria. Onde a alimentação passa a ser sinônimo de status.

Lembra o que disse Benjamim Steinbruch, alguns anos atrás: “não precisa de uma hora de almoço, porque o cara não almoça uma hora. Você vai nos Estados Unidos, vê o cara almoçando, comendo sanduíche com a mão esquerda, e operando a máquina com a mão direita”. Tremendamente duvidoso de que o empresário almoce em 15 minutos.

Esse é o debate que Fome de Sucesso nos traz. É a luta de classes em todas as suas nuances. Com visões mais ou um pouco menos opressoras do lado dos patrões e as diversas maneiras de se defender os direitos de quem vive do trabalho.

Aoy escolhe o seu caminho. O caminho da humanidade porque é importante saber tomar partido, de que lado se está. O lado que devasta o sentido de humanidade e a natureza para lucrar, ou o caminho da vida e do bem comum.

Trailer oficial do filme


Texto em português do Brasil

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