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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Guerras e as sanções: um maná para os lucros da Galp e de outras petrolíferas

Eugénio Rosa
Eugénio Rosa
Licenciado em economia e doutorado pelo ISEG

As guerras e as sanções estão a ser um maná para os lucros da Galp e de outras petrolíferas, e um pesadelo para os consumidores que têm de pagar preços excessivos pelos combustíveis apesar das remunerações em Portugal serem apenas 53,6% da média dos países da U.E: e 47,8% da Zona Euro

Neste estudo analiso os lucos da GALP antes e depois da guerra da Ucrânia e das sanções, e mostro, utilizando os dados divulgados nos Relatórios e contas da própria GALP, que, em 2020, tinha tido um prejuízo de -551 milhões € e, em 2021, um resultado positivo deprimente de apenas 4 milhões € e que, em 2022 e em 2023, os lucros da GALP dispararam para 1475 milhões € e 1242 milhões €, respetivamente. E que em 2024 ainda serão maiores.

Depois analiso a fonte destes enormes lucros comparando os preços em Portugal da gasolina e do gasóleo sem impostos, pois são estes que revertem na totalidade para as empresas, com os praticados nos países da U.E. e na Zona Euro e também as remunerações em Portugal com a dos países da União Europeia e da Zona Euro tendo concluído que os preços da gasolina e gasóleo sem impostos em Portugal são superiores ou quase iguais à média dos países da U.E. e da Zona Euro, enquanto as remunerações no nosso país correspondem apenas a 53,5% e 47,8% respetivamente da média dos países da U.E. e da Zona Euro.

E termino mostrando como os gestores das empresas petrolíferas têm-se aproveitado desta sobre-exploração dos consumidores portugueses para serem pagos principescamente: E para isso, revelo as remunerações totais recebidas pelos administradores executivos da GALP em 2023 que constam do Relatório societário desta empresa, analisando o seu leque salarial (remuneração máxima / remuneração mínima)  o que leva à conclusão de que existe profunda desigualdade remuneratória na GALP.

 

Estudo

As guerras e as sanções estão a ser um maná para os lucros da Galp e de outras petrolíferas, e um pesadelo para os consumidores que têm de pagar preços excessivos pelos combustíveis apesar das remunerações em Portugal serem apenas 53,6% da média dos países da U.E: e 47,8% da Zona Euro

A GALP, e certamente as outras petrolíferas, estão a obter lucros enormes à custa dos consumidores. Elas têm aproveitado a guerra e as sanções, e a instabilidade e as dificuldades assim criadas, para justificar o aumento brutal dos preços que têm feito. O aumento das dificuldades e mesmo a pobreza de muitos, tem acarretado para um punhado de acionistas enormes lucros e riqueza. O sofrimento de muitos, é a riqueza de poucos. E isto acontece porque o governo e a ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) não fazem qualquer controlo de preços para proteger os consumidores da ganância destas empresas. O gráfico mostra o aumento exponencial dos lucros da GALP.

Os dados do gráfico são dos Relatórios e contas da própria GALP. Nos anos de 2020 e 2021, portanto antes das sanções e da guerra na Ucrânia, a GALP apresentou, a nível de contas consolidados, prejuízos enormes (em 2020, -551 milhões € ) ou resultados deprimentes(em 2021, apenas 4 milhões €). Em 2022, 1º ano da guerra e da multiplicação de sanções pelo chamado “Ocidente alargado”, a que o governo português se submeteu submissamente, causando a redução da oferta, os países que continuaram a poder vender aproveitaram o momento para aumentar os preços do barril de petróleo e do gás. E a GALP apanhou a embalagem para inflacionar os preços o que determinou que os seus lucros aumentassem 369 vezes (passaram de 4 milhões € em 2021 para 1475 milhões € em 2022) . Em 2023 eles continuaram enormes (1242 milhões €). E é de prever que sejam ainda mais elevados em 2024, pois no 1º trimestre deste ano os lucros da GALP atingiram 352 milhões € quando, em igual período de 2023,tinham sido 336 milhões €. Estes resultados permitiram a distribuição de dividendos astronómicos a um punhado reduzido de acionista. Mesmo em 2020, ano em que a GALP apresentou prejuízos de 551 milhões € e, em 2021, em que teve um lucro de apenas 4 milhões €, distribuiu nestes 2 anos aos seus acionistas 705 milhões € de dividendos, endividando-se ainda mais aos bancos. Mas 2022 e 2023, foram anos de fartura para a GALP, pois obteve 2718 milhões € de lucros em apenas 2 anos e distribuiu 847M€.

 

O GOVERNO DA AD QUER REDUZIR A TAXA DE IRC PARA 15% QUANDO A MAIORIA DOS GRANDES ACIONISTAS JÁ NÃO PAGAM IMPOSTOS SOBRE OS ELEVADOS DIVIDENDOS QUE RECEBEM

Numa altura em que o governo da AD pretende reduzir a taxa de o IRC para 15% também das grandes empresas e eliminar a derrama estadual e municipal, é importante esclarecer o que isso causaria. Se estas reduções do governo da AD já estivessem em vigor, isso determinaria que, em relação a 2022 e 2023, portanto em apenas 2 anos, um aumento dos lucros da GALP em mais 742 milhões € a somar aos que teve (2717 milhões €). É importante recordar que os maiores acionistas da GALP, como a AMORIM ENERGIA BV, já não pagam imposto sobre dividendos em Portugal. Para isso criaram empresas no estrangeiro ( na Holanda) e é através delas que recebem os dividendos que assim ficam isento de pagar imposto em Portugal (art.º 51 do CIRC, para estar isento basta deter 10% do Capital). Se for um português ou uma empresa portuguesa que receba os dividendos em Portugal tem de pagar 28% de imposto sobre os dividendos. Na Holanda não há imposto sobre dividendos. A Amorim Energia BV, que detém 35,76% das ações da GALP não paga nada. Só em 4 anos (2020 a 2023) a Amorim Energia, BV não pagou 155 milhões € de impostos sobre dividendos no nosso país. Há muitos outros grandes acionistas que adotaram esta engenharia fiscal para não pagar impostos sobre dividendos (ex.: a Jerónimo Martins). São a estes “patriotas” que o governo da AD quer dar mais benesses, como as que têm já não fossem suficientes. Para compensar aumenta-se o IVA e o IRS.

 

PAÍSES COM REMUNERAÇÕES MUITO SUPERIORES ÀS DE PORTUGAL TÊM PREÇOS DE GASOLINA E DE GASÓLEO SEM IMPOSTOS INFERIORES AOS QUE AS PETROLIFERAS COBRAM EM PORTUGAL E A ERSE E GOVERNO NÃO FAZEM NADA

O quadro 1, com dados da DGEG e do Eurostat, portanto dados oficiais, mostra com clareza por que razão os lucros das petrolíferas, nomeadamente da GALP, são enormes e mesmo ofensivos para uma população com baixos salários

Quadro 1 – Preços médios da gasolina 95 e do gasóleo em mar.2024, e remunerações/ hora em Portugal e na U.E e na Zona Euro

O preço da gasolina e do gasóleo sem impostos é aquele que reverte na totalidade para as empresas que refinam e comercializam os combustíveis. E o que é que revelam os dados da Direção Geral de Energia e Geologia do Ministério da Economia de Portugal e do Eurostat? Como revela o quadro, o preço da gasolina e do gasóleo em Portugal é superior ao da Alemanha, respetivamente em 6,6% e 0,3%, mas o custo hora do trabalho, ou seja, a remuneração do trabalho corresponde apenas a 41,2% do da Alemanha ou, dito de outra forma, a remuneração hora na Alemanha é 2,4 vezes superior à de Portugal, mas os preços são superiores aos alemães. Em relação à média da U.E. e da Zona Euro a situação é semelhante. O preço médio sem impostos da gasolina em Portugal é 3,7% superior à média dos países da U.E. 3,8% da Zona Euro, mas a remunerações em Portugal correspondem apenas em média a 53,5% dos países da União Europeia, e a 47,8% das da Zona Euro. E os exemplos podiam-se multiplicar. Os portugueses ganham muito menos, mas pagam pelos combustíveis muito mais. Eis a fonte dos enormes lucros da GALP.

 

OS PREÇOS LEONINOS DOS COMBUSTIVEIS EM PORTUGAL TÊM PERMITIDO TAMBÉM PAGAR REMUNERAÇÕES MILIONÁRIAS AOS GESTORES DA GALP E DE OUTRAS PETROLIFERAS SENDO ENORME AS DESIGUALDADES REMUNERATÓRIAS

O quadro 2, com as remunerações totais pagas aos administradores executivos da GALP mostra de uma forma clara como também os gestores destas empresas têm aproveitado a sobre exploração a que têm sujeitado os portugueses.

Quadro 2 – Remunerações anuais pagas aos administradores executivos da GALP em 2023


Os comentários parecem desnecessários perante a linguagem fria, mas objetiva dos números. A desigualdade remuneratória é enorme na GALP como mostram os dados do quadro 2.

 


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