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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Uma visão sobre a crise económica e social global

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

Parece cada vez mais evidente a ideia que a situação política mundial está crescentemente mais confusa e preocupante.

Contrariamente ao sugerido e prometido, o fim da chamada Guerra Fria não realizou melhorias suficientes; pelo contrário, mergulhou grande parte da população mundial numa crise económica e social sem precedentes e acelerou o empobrecimento geral. O mundo unipolar resultante, liderado pelos EUA e baseado nas teoria monetaristas e neoliberais da livre concorrência e da auto-regulação dos mercados, sustentado na pobreza humana e na destruição do meio ambiente, conduziu as economias a uma situação de colapso e fomentou um desemprego galopante que alimenta clivagens sociais, o racismo e confrontos étnico-religiosos que terminam normalmente em conflitos destrutivos.

Esta crise global está a ser mais devastadora do que a Grande Depressão da década de 1930 e tem implicações geopolíticas de longo alcance, já que as perturbações económicas são acompanhadas por guerras regionais, pela desintegração de Estados-nação e, em alguns casos, pela destruição de países inteiros, podendo até ser percepcionada como a mais grave das crises económicas da era moderna.

Este cenário mostra o fracasso dos governos, mas não são apenas os governantes políticos (suportados, ou não, pelo apoio “popular” ou por outros interesses económico-financeiros) que estão a falhar em toda a linha, nem a omnipresença dos sistemas de mercado livre que outra coisa não têm feito, salvo a concentração da riqueza nas mão de uma elite de mega-ricos. Também nós, cidadãos comuns, falhamos porque somos tão condicionados pela nossa educação tradicional, pelos poderes estabelecidos (políticos, económicos e religiosos) que não conseguimos articular respostas eficientes e, como aconteceu em tantas outras ocasiões da História, continuamos a cair nas seduções de supostas autoridades e a apoiar soluções que são manifestamente desfavoráveis ao interesse-geral.

O mundo continuará a não mudar enquanto cada cidadão não se reconhecer como uma entidade autónoma e responsável e continuar a delegar em políticos e propagandistas a solução dos problemas prementes da humanidade.

A confiabilidade dos governos não é um problema novo, mas nos últimos anos muitos têm sido os postulantes débeis, ignorantes e corruptos que foram elevados a cargos políticos de autoridade no mundo ocidental e o resultado tem sido o regular sancionamento de políticas em benefício dos grandes interesses económicos e financeiros internacionais, em claro detrimento dos justos interesses e da protecção dos segmentos mais fracos e vulneráveis das populações.

A propaganda e a manipulação, facilitadas pela fraca literacia política e pelo crescente desinteresse das populações, têm tido como reflexo a crença na omnisciência da autoridade que conduz inevitavelmente à lealdade a essa mesma autoridade, o que geralmente desencadeia o reflexo da obediência absoluta (que não se lembra ainda do grande logro que foi o argumento da inexistência de alternativa à política de austeridade) e da paralisia da mente, que leva os cidadãos a abdicarem de qualquer pensamento independente, a deixarem de avaliar racionalmente os resultados e a entregarem totalmente o poder de decisão aos políticos profissionais.

O fomentado desinteresse pela “coisa pública” (que entre nós remonta aos tempos do Estado Novo e à salazarenta máxima de que “a minha política é o trabalho”), a par com uma notória falta de formação cívica, tem levado as populações a preferirem ser guiadas por supostas autoridades do que pela sua experiência e razão.

Mas se a História é fundamentalmente uma obra do ser humano, a sua evolução só tem sido alcançada através da Educação e da Informação dos cidadãos e cada vez mais estes precisam perceber que podem tomar o seu destino nas suas próprias mãos e não devem entregar o poder a outrem, sem os devidos cuidados e salvaguardas.

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