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Sexta-feira, Novembro 15, 2024

O hino dos EUA executado por Jimi Hendrix

José Carlos Ruy, em São Paulo
José Carlos Ruy, em São Paulo
Jornalista e escritor.

Star Spangled Banner, executado por Jimi Hendrix no Festival de Woodstock, no auge da guerra do Vietnã, é um monumental retrato sonoro do absurdo e insanidade da agressividade imperialista.


Em 18 de agosto de 1969, no último dia do lendário Festival de Woodstock, Jimi Hendrix presenteou o mundo com um monumento sonoro à luta pela paz e um inequívoco tom antiimperialista: sua execução, em solo de guitarra, do hino nacional dos EUA, seguida pelo blues Purple Haze. O hino e o blues, naquela apresentação, fundiram-se numa peça única que significou o protesto contra a guerra e a antevisão de um mundo harmonioso.

O movimento pacifista crescia então. Em janeiro de 1969 541 mil soldados estadunidenses participavam do auge da agressão contra o Vietnã, num momento em que, simultaneamente, se expandia pelo mundo a luta contra a guerra. Foi em 15 de novembro daquele ano que ocorreu, em Washington, a gigantesca manifestação pela paz que reuniu 500 mil pessoas em frente à Casa Branca; em outras cidades americanas, milhões foram às ruas pelo fim da guerra. Na imprensa explodiam notícias sobre atrocidades praticadas pelas tropas dos EUA, destacando-se a revelação do Massacre de My Lai (uma aldeia vietnamita onde, em março de 1968, centenas de pessoas, na maioria mulheres e crianças, foram assassinadas por soldados dos EUA).

A execução do Star Spangled Banner (como é conhecido o hino dos EUA) foi um genial improviso num show feito sem ensaios; com ela, Hendrix colocou sua maestria na guitarra a serviço da paz.

Como guitarrista, ele levou a extremos ainda não alcançados o uso dos recursos eletrônicos do instrumento, usando distorções, microfonia, o pedal wah-wah, etc. Músico exigente – seu perfeccionismo era lendário -, Hendrix desmonta o hino, acorde a acorde, até transformá-lo num amontado de ruídos que reproduzem o horror da guerra: metralhadoras, tiros, barulho dos aviões que jogam bombas, explosões, etc. Grande parte do ambiente da guerra era a floresta tropical; na execução do Star Spangled Banner é possível ouvir também grilos e outros sons da mata, em meio à barulheira infernal das bombas e tiros.

Nos EUA, aquela foi também a década da luta pelos direitos civis de negros e demais não brancos. Jimi Hendrix, negro mestiço com cherokees, tinha adoração por sua avó descendente daquela nação indígena. Pode-se supor que tenha sido esse orgulho ancestral, que aprendeu com sua avó, que o levou a escolher a canção que, seguindo à execução do hino, ficou como uma espécie de contraparte da peça musical executada naquela tarde de agosto: Purple Haze, um blues, música dos desprezados negros, cuja harmonia e suavidade contrasta com a rude montanha de ruídos de guerra em que ele transformou o hino. É como se dissesse: frente à agressividade e desagregação da América oficial, a América dos negros, pobres, jovens e trabalhadores apontava para um mundo de paz, suavidade e harmonia.

Jimi Hendrix nasceu em Seattle (estado de Washington), em 27 de novembro de 1942. Teria completado, agora, 70 anos de idade. Mas deixou a vida – de forma não esclarecida, tantos anos passados! – em Londres, em 18 de setembro de 1970, quando tinha apenas 27 anos de idade

Sua carreira foi curta, de 1963 a 1970. Sete escassos anos suficientes para que deixasse uma marca forte na história da música, sendo considerado um dos maiores (se não o maior) guitarrista da história. A revista especializada Rolling Stone, por exemplo, em 2003 enumerou os 100 maiores guitarristas de todos os tempos; no primeiro lugar, colocou Jimi Hendrix.

Pode ser. O mais interessante, contudo, é que foi um músico engajado com os desafios de sua arte, que empurrou para frente, e com as contradições de seu tempo. Numa ocasião perguntaram a ele, num programa de televisão, se tinha consciência da polêmica que sua execução do Star Spangled Banner causou. Sua resposta foi simples e coerente: “Eu achei que foi lindo.”

José Carlos Ruy (1950-1921) foi jornalista, escritor e pesquisador.
Matéria publicada no Vermelho em em 30/11/2012

Com informações do portal www.jimihendrix.com.br


Texto em português do Brasil

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