Diário
Director

Independente
João de Sousa

Sábado, Agosto 31, 2024

A classe operária vai ao paraíso

Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Carolina Maria Ruy, em São Paulo
Pesquisadora, coordenadora do Centro de Memória Sindical e jornalista do site Radio Peão Brasil. Escreveu o livro "O mundo do trabalho no cinema", editou o livro de fotos "Arte de Rua" e, em 2017, a revista sobre os 100 anos da Greve Geral de 1917

Subir na carreira, ascender socialmente e almejar pequenas tentações da sociedade de consumo ou arriscar-se na luta por um mundo mais justo? Este impasse ideológico de muitos trabalhadores é o mote de A Classe Operária vai ao Paraíso.

O filme conta a história de Lulu, um metalúrgico tão dedicado que chega a ser adorado por seus patrões e odiado por seus colegas. Considerado alienado e despolitizado, ele não se envolve em protestos sociais e vive sonhando com aquilo que imagina que o dinheiro lhe permitirá consumir. Eis que um acidente reverte esta história. Ao operar sua máquina de trabalho Lulu perde um dedo. Sentindo-se injustiçado, descobre a vida sindical.
Ao se politizar ele ainda tropeça nos desejos pela sociedade de consumo. Neste processo de conscientização política ele se vê entre o radicalismo do movimento estudantil e o pragmatismo do movimento operário, e procura o velho companheiro Militina, operário que enlouquece devido às condições do trabalho na fábrica.

Perder o dedo é um choque de realidade que faz com que Lulu perceba que a vida propagada pelo mercado capitalista não está ao seu alcance. Ele, então, passa a se ver como parte de uma classe social, a classe operária.

Um dos temas principais do filme é o despertar da consciência operária. Ela não ocorre em condições ideais, como muitos imaginam; ocorre devido às contradições concretas do modo de produção capitalista e das mazelas às quais a classe operária é submetida.

O filme mostra o fordismo, sistema técnico organizacional do capital, então dominante nas fábricas e empresas, levado ao seu limite, subordinando os trabalhadores à máquina, com seu séquito de desvalorização da força de trabalho, degradação do trabalhador e a consequente resistência operária.

O filme reflete as profundas mudanças do capitalismo na década de 1970 e a crescente contestação do padrão fordista dominante.

A Classe Operária vai ao Paraíso (La classe operaia va in paradiso)
Itália, 1971
Direção: Elio Petri
Elenco: Gian Maria Volonté, Mariangela Melato, Gino Pernice, Luigi Diberti, Donato Castellaneta


Texto em português do Brasil

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -