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Sábado, Dezembro 21, 2024

Sem polémica a ‘Concha de Prata’ de San Sebastián para a portuguesa Laura Carreira

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

72º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE SAN SEBASTIÁN

Na noite do passado sábado terminou na cidade basca de San Sebastián, a 72ª edição do Festival Internacional. Mais de quinhentas sessões, muitas dezenas de milhar de espectadores, centenas de profissionais da comunicação e da indústria cinematográfica e um contínuo desfilar de estrelas de várias grandezas fizeram de Donostia a ‘capital do cinema’ durante dez dias.

Com inúmeras secções paralelas a integrar a programação as principais atenções centraram-se, como é natural, na secção oficial. Dezasseis filmes em competição numa selecção com um nível médio bastante aceitável.

Apontada durante o festival como uma das principais candidatas ao prémio máximo do certame “On Falling”, produção luso-britânica realizada pela portuense Laura Carreira, acabou por arrecadar a ‘Concha de Prata’ para a melhor realização, ex aequo com o espanhol “El Llanto” de Pedro Martín-Calero um desinteressante filme de terror classificado em 15º lugar (entre 16) no painel de críticos organizado pelo ‘Diario Vasco’. Pior só o lamentável “Emmanuelle” da francesa Audrey Diwan que mereceu, sabe-se lá porquê, a honra de filme de abertura do Festival.

“On Falling” é um trabalho de apreciável rigor, bem interpretado (bom desempenho de Joana Santos), situado no mundo do trabalho de uma cidade escocesa. Focado na vida dos trabalhadores imigrantes, nos empregos precários e mal remunerados é um belo exemplo de um cinema que toma partido, um cinema comprometido. Não seria de esperar outra coisa de uma produção em que a parte britânica é de uma empresa fundada por Ken Loach.

O filme de Laura Carreira recebeu ainda uma menção do Prémio ‘RTVE – Otra Mirada’.

Algumas das decisões do ‘Júri Oficial’ foram, como é habitual neste e noutros certames congéneres, objecto de crítica e de polémica. Desde logo a ‘Concha de Ouro’ atribuída a “Tardes de Soledad”, incursão do catalão Albert Serra no cinema documental. O filme acompanha o matador de touros peruano Andrés Roca Rey e a sua quadrilha, no quarto do hotel, na carrinha em que se fazem transportar e sobretudo dentro da arena, com inegável mestria técnica na captação do som e das imagens e na escolha dos planos e pontos de vista. O problema é que enquanto uns valorizam o conteúdo estético da ‘obra de arte’ outros não conseguem deixar passar em claro que ela, para além de nunca tomar posição sobre um ‘espectáculo’ que vai sendo banido em Espanha e em Portugal, é feita à custa da tortura e barbárie sobre animais, coisa pouco compaginável com os valores que devem caracterizar uma sociedade evoluída no final do primeiro quartel do século XXI. Ficamos com alguma curiosidade com a passagem do filme na RTP, empresa que há tempos deixou de fazer transmissões de touradas. É que a produção tem o apoio da televisão pública portuguesa.

Entretanto aqui fica o registo dos prémios da secção oficial atribuídos por um júri formado pela cineasta basca Jaione Camborda, pela escritora e jornalista argentina Leila Guerriero, pelo actor e realizador norteamericano Fran Kranz, pelo realizador grego Christos Nikou, pela produtora francesa Carole Scota e pelo cineasta austríaco Ulrich Seidl.

  •  ‘Concha de Ouro’ para o melhor filme (por unanimidade !!!): “Tardes de Soledad’ de Albert Serra (Espanha / França / Portugal);
  • Prémio Especial do Júri: “The Last Showgirl” de Gia Coppola (EUA);
  • ‘Concha de Prata’ para a melhor realização: “On Falling” de Laura Carreira (Reino Unido / Portugal) e “El Llanto” de Pedro Martin-Calero (Espanha / Argentina / França);
  • ‘Concha de Prata’ para a melhor interpretação protagonista: Patricia López Arnaiz em “Los Destellos” de Pilar Palomero (Espanha);
  • ‘Concha de Prata’ para a melhor interpretação secundária: Pierre Lottin pelo seu desempenho em “Quand Vient L’Automne” de François Ozon (França);
  • Prémio do Júri para o melhor guião para François Ozon e Philippe Piazzo por “Quand Vient L’Automne”;
  • Prémio do Júri para a melhor fotografia: Piao Songri em “Bound in Heaven” de Xin Huo (China).

Sem qualquer referência no palmarés ficaram os muito interessantes “Hard Truths” de Mike Leigh e “Le Dernier Soufle” de Costa-Gavras. 

Outros prémios

  • Prémio ‘Novos Directores’: “Bagger Drama”, de Piet Baumgartner (Suíça);
  •  Menção Especial ‘Novos Directores’: “La Guitarra Flamenca de Yerai Cortés” de Antón Álvarez (Espanha);
  • Prémio ‘Horizontes’: “El Jockey” do argentino Luis Ortega;
  • Prémio ‘Zabaltegi/Tabakalera’: “Aprili”, de Dea Kulumbegashvili (Geórgia);
  • Menção Especial da secção ‘Zabaltegi/Tabakalera’: “Monólogo Colectivo” de Jessica Sarah Rinland (Argentina);
  • Prémio ‘Nest’: “El Reinado de Antoine de José Luis Jiménez Gómez (Cuba / República Dominicana);
  • Prémio ‘Culinary Zinema’: “Mugaritz, sin pan ni postre” de Paco Plaza (Espanha);
  • Prémio do Público – Cidade de Donostia / San Sebastián: “En Fanfare” de Emmanuel Courcol (França);
  • Prémio do Público para um filme europeu: “The Seed of the Sacred Fig” de Mohammad Rasoulof (Irão)
  • Prémio Irizar para o cinema basco: “Chaplin – Spirit of the tramp” de Carmen Chaplin (Espanha / Reino Unido / Países Baixos / França);
  • Prémio da Juventude: “Turn me on” de Michael Tyburski (EUA);
  • Prémio ‘Agenda2030’: “Soy Nevenka” de Iciar Bollain (Espanha);
  • Prémio FIPRESCI: “Bound in Heaven” de Xin Huo (China);
  • Prémio SIGNIS: “Los Destellos” de Pilar Palomero (Espanha).

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