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Quinta-feira, Outubro 31, 2024

Festival de Valladolid chegou ao fim deixando sensações contraditórias

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

69ª SEMINCI – Semana Internacional de Cinema de Valladolid

A SEMINCI/2024 terminou na noite de sábado passado com a gala de distribuição de prémios. Ao fim de nove dias, com mais de cento e cinquenta filmes e muitas dezenas de sessões, os frequentadores mais assíduos do certame deixaram Valladolid com uma mistura de sensações diversas ou até contraditórias.

Por um lado puderam testemunhar um festival em nítido crescimento, com uma afluência às sessões significativamente superior à verificada em anos anteriores e com o consequente aumento de receitas que muito deve ter agradado ao Ayuntamiento de Valladolid, organizador do evento.

Por outro lado uma programação que, apesar de muito baseada em filmes premiados noutros festivais (Berlim, Cannes, Veneza, Locarno, Sundance e outros), esteve longe de suscitar grandes entusiasmos. Um nível médio que não ultrapassou a mediania, um tom geralmente morno apesar de, em tão farta colheita, haver sempre um ou outro título de maior relevância. Poder-se-à dizer que a melhoria dos índices quantitativos não encontrou grande correspondência com a desejada afirmação de qualidade das obras apresentadas.

Em todo o caso, os diferentes júris lá desempenharam os seus papéis (um trabalho obviamente de grande subjectividade), com a habitual e inevitável dose de contestação. Como sempre, algumas decisões surpreendentes premiando alguns filmes que a maioria da crítica e dos espectadores não tinha valorizado e o esquecimento de outras obras a que era atribuído algum favoritismo.

 

‘Espiga de Ouro’ para “Misericorde” de Alain Guiraudie, co-produção com participação portuguesa

O principal prémio da SEMINCI foi para uma co-produção França/Espanha/Portugal, sendo a parte portuguesa da responsabilidade da Rosa Filmes / Joaquim Sapinho e a espanhola de Albert Serra, o vencedor de San Sebastián com o polémico “Tardes de Soledad”.

O filme, passado num ambiente rural, conta a história de um homem jovem que regressa à sua aldeia para assistir ao funeral do padeiro para quem tinha trabalhado e que se instala em casa da viúva, o que suscita as suspeitas do filho do falecido. “Misericorde” foi votado por unanimidade pelo júri que destacou: “A sua leveza esconde um equilíbrio complexo de géneros e tons em que sob a aparência de comédia de suspense provinciana se esconde uma meditação profunda sobre como o desejo e a culpa nos tornam previsíveis e incompreensíveis uns para os outros.”

“Misericorde” foi também distinguido com o Prémio Miguel Delibes para o melhor guião.

 

‘Espigas de Prata’ para um filme de Singapura e outro de Espanha

O ‘segundo prémio’ do festival foi atribuído, ex-aequo, a ‘Stranger Eyes’ de Yeo Siew Hua (Singapura / Taiwan /França / EUA) que “conta uma história absolutamente contemporânea sobre a vida vigiada em Singapura, dotada de uma linguagem cinematográfica moderna e original que mantém a intriga até ao fim, sem ceder à surpresa” e “Polvo Serán”, o filme de abertura do festival, de Carlos Marques-Marcet (Espanha / Suíça / Itália) que “aborda com sensibilidade e até alegria o confronto entre a mortalidade e a vida de família, onde o maximalismo se equilibra com a subtileza e a autenticidade, graças às extraordinárias atuações de autênticas lendas do cinema”. O júri refere-se à dupla de actores espanhóis Angela Molina e Alfredo Castro.

 

“Black Dog” do chinês Guan Huo, distinguido com dois prémios

O vencedor da secção ‘Un Certain Regard’ do Festival de Cannes arrecadou na SEMINCI duas distinções: o prémio para a melhor realização e o da melhor fotografia (de Gao Weizhe).

Segundo o júri, “Black Dog” toma uma simples história de um homem e um cão e constrói à sua volta um universo cinematográfico de múltiplas capas e cheio de intrincados detalhes visuais, locais e narrativos. Se um realizador é o autor de um filme, o criador do seu mundo, o que reúne os seus elementos formais díspares com uma visão forte e envolvente, então o melhor realizador da secção oficial deste ano cumpre o mandato de maneira muito convincente».

 

Prémios de interpretação

O prémio de melhor actriz foi para Laura Weissmahr pelo seu desempenho em “Salve Maria” da catalã Mar Coll e o de melhor actor, ex-aequo para a dupla protagonista do filme norueguês “Sex”, Jan Gunnar Roise e Thorbjorn Harr.

Neste capítulo houve ainda lugar para uma menção especial aos já citados Angela Molina e Alfredo Castro pelo seu desempenho em “Polvo Serán”.

 

Prémio da Melhor Montagem para “Grand Tour” de Miguel Gomes

A distinção foi para Telmo Churro e Pedro Filipe Marques em “Grand Tour” de Miguel Gomes

 

Outros títulos do palmarés

Secção ‘Punto de Encuentro’

  • Prémio ‘Punto de Encuentro’: “Holy Cow” de Louise Courvoisier (França)
  • Prémio Especial Fundos: “Familiar Touch” de Sarah Friedland (EUA)

Secção ‘Alquimias’

  • Grande Prémio ‘Alquimias’ : “La Parra” de Alberto Gracia (Espanha)
  • Menção especial ‘Alquimias’: “Bluish” de Milena Czernovsky e Lilith Kraxner (Áustria)

Secção ‘Tiempo de Historia’

  • Grande Prémio ‘Tiempo de Historia’: “Youth (Hard Times) de Wang Bing (França/Luxemburgo/Países Baixos)
  • Prémio especial ‘Tiempo de Historia’: “Henry Fonda for President” de Alexander Horwath (Áustria / Alemanha)
  • Menção Especial: “A Savana e a Montanha” de Paulo Carneiro (Portugal / Uruguai)

Prémio ‘Pilar Miró’ para a melhor realização espanhola: Elena Manrique por “Fin de Fiesta”

Prémio ‘DOC. España’: “Caja de Resistencia” de Concha Barquero e Alejandro Alvarado

Prémio Seminci Joven: “Hija del Volcán” de Jenifer de la Rosa (Espanha / México)

Prémio do Júri Jovem da Secção Oficial: “Armand” de Halfdan Ullmann Tøndel (Noruega / Países Baixos / Suécia / Alemanha)

Prémio Espiga Arcoíris: “Three Kilometers to the End of World” de Emanuel Pârvu (Roménia)

Prémio Espiga Verde: “Caught by the Tides de Jia Zhang-ke (China)

Prémio FIPRESCI: “Christmas Eve in Miller’s Point” de Tyler Taormina (EUA)

Prémios do Público

  • Secção Oficial: “Bob Trevino Likes It” de Tracie Laymon (EUA)
  • Secção ‘Punto de Encuentro’: “Holy Cow” de Louise Courvoisier (França)

Prémios de Curtas-metragens

  • ‘Espiga de Ouro’: “Baldilocks” de Marthe Peters (Bélgica)
  • ‘Espiga de Prata: “Punter de Jason Adam Maselle (África do Sul / EUA) e “Lluna de Sal” de Mariona Martínez (Espanha)
  • Prémio para a melhor curta-metragem europeia: “O” de Rúnar Rúnarsson (Islândia)
  • Prémio ‘La noche del corto español’: “El Príncep” de Àlex Sardà
  • Menção especial ‘La noche del corto español’: “De Sucre” de Clàudia Cedó
  • Prémio ‘Castilla y León en Corto’: “Solo los Muertos se Quedan” de Alejandro Renedo

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