Descubra a história de Donald Trump em ‘O Aprendiz’. Um filme angustiante que mostra uma ascensão anti-comunista e com moral duvidosa até a presidência dos EUA.
O novo filme biográfico sobre Donald Trump, O Aprendiz, é uma obra angustiante, mas imperdível para qualquer pessoa minimamente interessada na política americana.
Como história de origem, o filme é um tanto irregular, mas impactante. Ele utiliza desenvolvimento de personagem direto e uma moralidade cortante para traçar a ascensão do empreendedor imobiliário Donald Trump até sua chegada à presidência dos EUA como o 45º presidente.
Somos apresentados a Trump em uma festa em 1973, onde ele conhece aquele que seria seu mentor, Roy Cohn. Escalar Jeremy Strong como Cohn foi um golpe de genialidade. Recém-saído de seu ótimo trabalho na série de televisão Succession, Strong encarna o mal de forma assustadora.
Em uma representação assustadora do futuro conselheiro racista de Trump, Stephen Miller, Strong assegura a Trump que, qualquer coisa que ele faça, será sempre no melhor interesse da América. Claro, o que ele quer dizer com “América” é o capitalismo voraz e sedento de poder que envolve a agenda fascista e anti-comunista do Senador Joe McCarthy e a execução de Julius e Ethel Rosenberg por suposta espionagem soviética.
O palco já está montado para Cohn, já que o jovem Trump é um desenvolvedor ambicioso e fascinado pelo poder, querendo sair da sombra de seu pai, Fred, que também era construtor. Cohn introduz Trump a seus colegas da máfia. O filme perde uma oportunidade aqui ao não explorar mais a fundo o uso de conexões mafiosas por parte de Trump.
Cohn oferece conselhos sábios e conecta Trump à elite governante de direita de Nova York — de George Steinbrenner a Rupert Murdoch. O governo, os liberais, as pessoas de cor e os trabalhadores, por outro lado, são os inimigos. “Sempre mova ações judiciais contra eles”, aconselha o advogado corrupto.
Vencer com base em ataques e ameaças
Cohn ensina suas três regras para vencer:
- Ataque sempre primeiro e incessantemente, usando ameaças, insultos e processos;
- Nunca admita nada, negue tudo;
- Independentemente do que acontecer, seja ganhando ou perdendo, sempre declare vitória. O que importa é ganhar ou passar a impressão de ter ganhado!
Impressionado com a agressividade extrema de Cohn, Trump o mantém como advogado. Juntos, eles derrotam as acusações de racismo da NAACP na seleção e tratamento de inquilinos por Trump.
No filme, vemos Trump avançar com planos de desenvolvimento em Manhattan, transformando o Hotel Commodore no Grand Hyatt, utilizando isenções fiscais obtidas através de intimidação. Contra o conselho de outros, ele tenta replicar Las Vegas em seus projetos de cassino em Atlantic City.
A libido de Trump cresce com a mistura de sucessos e fracassos nos negócios. Ele persegue sua futura esposa Ivana enquanto mantém relacionamentos com outras mulheres e acaba por violentá-la após o casamento, quando ela nega relações sexuais.
A atriz búlgara Maria Bakalova (Borat Subsequent Moviefilm) traz um toque de independência à ambição curiosa de Ivana, ofuscando o algo rígido e incrédulo jovem Trump interpretado pelo romeno Sebastian Stan. Stan parece ganhar energia à medida que o filme avança, especialmente com o vício de Trump em pílulas dietéticas e outras substâncias.
Ainda assim, é Cohn quem estrutura a linha do tempo do filme e reforça sua mensagem. Ao sucumbir à AIDS, negando a doença até o fim, Cohn vê seu pupilo graduar-se.
Trump absorve e ecoa o ethos anti-democrático e anti-comunista da Guerra Fria de Cohn. Ele associa vencer a qualquer custo e seu próprio poder e lucro ao bem do país. Para ter sucesso, está disposto a mentir, trapacear, roubar, enganar, e declarar falência repetidamente.
Como Cohn confidencia a Trump: “Ninguém me lembra tanto de mim quanto você… você vai fazer muitas coisas das quais eu me orgulharia.”
Aguardamos uma possível sequência, *Trump, Os Anos Presidenciais*.
O Aprendiz está atualmente em cartaz nos cinemas.
Veja aqui o trailer de O Aprendiz:
por Michael Berkowitz, veterano nos EUA dos movimentos pelos direitos civis e contra a guerra, é consultor de planejamento de uso da terra para o governo da China há muitos anos | Texto em português do Brasil, com tradução de Luciana Cristina Ruy
Fonte: People’s World
Exclusivo Editorial Rádio Peão Brasil / Tornado