Cheias do Mondego, em Coimbra, voltam a invadir o monumento. Situação está a piorar no Baixo Mondego
O Convento de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, foi um dos maiores investimentos de recuperação do Património de que há memória em Portugal, desde que em 1991 se deu início ao ambicioso projecto para recuperar o espaço monacal gótico. Um espaço há séculos desaparecido, enterrado, após as cíclicas inundações do Rio Mondego.
O Convento do século XIII sempre sofreu as habituais invasões das águas do vizinho rio. Uma situação que levou ao abandono total do templo, com as freiras a mudarem-se para o Convento de Santa Clara-a-Nova, por decisão do rei D. João IV.
A recuperação foi uma obra grandiosa, levando anos a secar todo o terreno envolvente do Convento, deixando, finalmente, à vista o claustro do monumento. Uma recuperação notável, que se mostrou sempre imune às cheias do rio, até há um mês atrás quando uma poderosa massa de água invadiu o Convento, pela primeira vez desde a sua recuperação.
Uma situação “muito grave”, que obrigou ao encerramento do monumento ao público. Celeste Amaro, responsável pela Direcção Regional de Cultura do Centro, estimou então os prejuízos em cerca de 450 mil euros. E esperou mesmo que fossem “apuradas responsabilidades”. Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, não hesitou em apontar o dedo à EDP, por ter aberto as comportas da Barragem da Aguieira de forma abrupta, provocando uma enorme cheia nas duas margens do Mondego, bem no centro de Coimbra.
Durante os últimos 30 dias tirou-se a água que invadira o Convento e, na passada Quinta-Feira, Celeste Amaro anunciou que o espaço ainda não estava bem limpo, mas já estava livre de água, pelo que iria ser reaberto ao público. Mas menos de 48 horas depois a chuva intensa abateu-se sobre a região e… o Convento voltou a ser inundado! E, desta feita, a Barragem da Aguieira apenas tem feito descargas controladas.
Abertura de diques ameaça Baixo Mondego
A situação na região de Coimbra agravou-se muito nas últimas 48 horas, obrigando a Comissão Municipal de Protecção Civil de Coimbra a accionar o Plano Especial de Emergência. Foi mesmo registado um débito de água na Ponte Açude de Coimbra de 1200 metros cúbicos por segundo. Uma situação que obrigou à abertura de diques do Baixo Mondego.
Esta situação está a agravar a situação naqueles campos do Mondego, prevendo-se uma cheia de grandes dimensões para o concelho de Montemor-o-Velho, podendo mesmo afectar o centro da vila, como já aconteceu no passado.
A vila de Ereira voltou, esta tarde, a ser uma ilha isolada, como há anos não se via. O presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, Emílio Torrão, face ao cenário de grande cheia, apelou para que “finalmente, sejam acabadas as obras do Baixo-Mondego”.
Mas outros concelhos do distrito, como Soure e Miranda do Corvo, foram invulgarmente afectados pelo mau tempo que se abateu sobre a região.