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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Berlim: Quem vai ganhar o Urso de Ouro?

prémios

‘Fogo no Mar’ e ‘A Comuna’ são os principais favoritos

Existe aqui em Berlim algum consenso relativamente ao documentário do italiano Gianfranco Rosi, Fuocoammare, exibido logo no início do festival.

Um documentário notável, incontornável, sobre a actual crise dos refugiados e que acaba de obter já algum reconhecimento nos prémios independentes.

No entanto, o dinamarquês Kollektivet/The Commune/A Comuna, de Thomas Vinterberg, afirmou-se como candidato pelo tratamento de uma ficção que acaba por traçar os dilemas de uma Europa periclitante e que, tal como no filme, está cercada por elementos que se conjugam e integram uma forma de vida em comum, em plenos anos 70.

No fundo, uma memória que o próprio Vinterberg tem dos seus próprios pais, que viveram uma experiência semelhante, mas que inevitavelmente adquire um sentido alargado. Para além de mostrar saudáveis momentos de partilha, liberdade, sempre temperados com doses de um apurado humor.

Depois temos as duas propostas francesas, L’Avenir, de Mia Hansen-Love, e Quand on a 17 Ans, de André Téchiné, de um lado uma libertação filosófica encabeçada por uma Isabelle Hupert incapaz de nos dar uma prestação abaixo do óptimo, do outro a descoberta da homossexualidade entre dois adolescentes, acabam por trazer alguma densidade temática à selecção oficial, mas claramente abaixo de uma motivação social que auscultasse o pulsar do actual momento da sociedade, salientado no início do festival pelo júri presidido por Meryl Streep como orientação privilegiada.

 

E Cartas da Guerra?

Então e Cartas da Guerra? Segue sendo o nosso filme preferido da competição. Superior mesmo a Fuocoammare, por transmitir a fortíssima presença da memória do drama histórico com todas as implicações que conhecemos, sublinhado ainda pela riquíssima opção narrativa das cartas de um desespero amoroso belíssimo da autoria de António Lobo Antunes, e que constituem o melhor suporte para acompanhar as imagens de uma espera angustiante.

Quem sabe, pode ser que o júri não deixe de levar em conta este brilhante objecto de cinema, mesmo não sendo com o merecido Urso de Ouro, talvez com o prémio de contribuição artística, seguramente justificado pelo magnífico trabalho de fotografia, estilo documental e narrativa.

Seja como for, não podemos deixar de salientar que esta 66ª edição da Berlinale acabou por pecar por defeito.

Uma escolha em que diversos títulos não estiveram à altura ou foram trabalhos menores de autores consagrados.

Ainda ontem vimos o polaco United States of Love, de Tomasz Wasilewski, evocando uma sociedade a acordar para a mudança, logo após a queda do muro de Berlim, num mosaico de histórias femininas de amor desencantado, que fica como um registo interessante, mas pouco mais do que isso. tivemos ainda o um pouco monótono documentário do americano Alex Gibney, Zero Hour, sobre os fantasmas da guerra cibernética, o feel good movido da dupla francesa Benoit Delépine e Gustav Kervern, Saint Amour, exibido fora de competição, como forma de sugestão de um brinde final, com a incursão de um majestoso Gérard Dépardieu e Benoit Poelvoorde numa espécie de jogo da glória da região vinícola francesa.

Ah, sim, não esqueçamos o intrigante filme iraniano com que encerrou a competição, A Dragon Arrives!, de Mani Haghighi, uma espécie de alegoria fantástica sobre os mistérios que circundam a sociedade iraniana.

Bom, convém não esquecer que o ano passado, Táxi do iraniano Jafar Panahi ganhou (de forma previsível) o Urso de Ouro. Será que este ano vamos ter surpresas?

Leia mais sobre o Festival de Cinema de Berlim

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