João Vasconcelos vai ser uma das caras novas do próximo Parlamento. Eleito pelo Bloco de Esquerda, pelo círculo de Faro, tem sido um dos dinamizadores da Comissão de Utentes da A22 (Via do Infante), que luta contra as portagens. Foi nessa condição que, em 6 de Dezembro de 2013, juntamente com mais alguns activistas, subiu as escadarias do Palácio de S. Bento e se dirigiu às galerias para assistir ao debate e votação de propostas da oposição que tinham, exactamente, como objectivo acabar com as portagens na Via do Infante.
As propostas acabaram por ser chumbadas, o grupo algarvio manifestou o seu desagrado e acabou por ser expulso. Quem, na altura, conduzia os trabalhos e ordenou à polícia para evacuar as galerias era a deputada e vice-presidente da Assembleia da República Teresa Caeiro. Curiosamente, Teresa Caeiro foi, nestas eleições, indicada pelo CDS para a lista da PàF pelo Algarve, e acabou, tal como João Vasconcelos, por ser eleita pela região.
João Vasconcelos lembra-se perfeitamente deste episódio e confessa ter falado nele a Teresa Caeiro, no decorrer da campanha. Não se mostra nada arrependido, pelo contrário, está satisfeito por, agora como deputado, poder continuar essa batalha, pelo que garante que a primeira medida que vai tomar é apresentar uma proposta pelo fim das portagens. Com a actual relação de forças existente, diz “esperar que seja aprovada”. É que, tanto PCP como o PS são contra as portagens naquela via de comunicação que une o Algarve, embora os socialistas admitam, numa primeira fase, baixar o seu valor em 50%. Uma ideia de que João Vasconcelos não quer sequer ouvir falar, por entender tratar-se de uma medida injusta para a região, que tem trazido grandes custos, inclusivamente em vidas humanas. Isto, porque para evitar as portagens, os condutores passaram a evitar a Via do Infante e a utilizar a Estrada Nacional 125 (EN 125), que não tem condições para acolher tanto trânsito. Até 17 de Agosto, a GNR já tinha contabilizado 11 mortes naquela estrada, o que iguala o número de vítimas mortais ocorridas ao longo de todo o ano de 2014.
Esta é uma razão de peso para João Vasconcelos continuar a sua luta. Uma luta que tem passado, entre outras iniciativas, por protestos junto à residência de Cavaco Silva, em Albufeira, à casa onde Passos Coelho passa as suas férias de Verão, na Manta Rota, e por marchas-lentas na EN 125. Essas acções têm tido grande destaque na comunicação social, mas daí resultam igualmente algumas consequências menos agradáveis, como, por exemplo, muitas multas de trânsito, o que leva o novo deputado a interrogar-se se “não haverá perseguição” do grupo por parte das autoridades.
Ao chegar ao Parlamento como deputado, João Vasconcelos até pode estar do lado do poder, caso as negociações que decorrem entre PS, PCP e Bloco de Esquerda cheguem a bom porto e seja constituído um Governo de esquerda. O novo deputado algarvio desejava que tal possibilidade se concretizasse, pois “tendo em conta que cerca de três milhões de pessoas votaram nos partidos ditos de esquerda, há uma oportunidade histórica de afastar de vez a direita do poder”. No entanto, é visível que nutre alguma desconfiança pela posição do PS que “se tem encostado demasiado à direita e, como todos sabemos, os seus governos também não têm sido muito abonatórios a favor daqueles que mais precisam”. Mas, como a esperança é a última a morrer, “vamos ver o que isto dá”.