O atentado de ontem em Ankara, capital política da Turquia, não é apenas o pior da História do país (95 mortos e quase 200 feridos), é também o 3º num curto espaço de 3 meses.
Em Julho, foi atribuído a suicidas do auto-proclamado “estado islâmico” (“ei”), o ataque que matou 32 voluntários da Juventude Socialista dos Oprimidos, em Suruç, cujo objectivo era o de irem ajudar à reconstrução da cidade síria/curda, de Kobane. A 10 de Agosto, o país vive uma vaga de atentados em vários pontos, sendo que há dois autores distintos para o que aconteceu nesse mesmo dia. Istambul tem duas “explosões”, uma no subúrbio oriental, com um carro armadilhado estacionado junto a uma esquadra de polícia, imagem de marca do braço armado do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e outra, uma tentativa de assalto à mão armada ao Consulado dos Estados Unidos da América, perpetrado por duas militantes do grupo de extrema-esquerda, Frente Armada Revolucionária de Libertação Popular. Ainda a 10 de Agosto, em Silopi, fronteira turco-iraquiana, 4 polícias morreram na explosão de um engenho na berma da estrada. Oficialmente, estas mortes foram atribuídas a “militantes vindos do norte do Iraque”, o que eu leio “curdos”!
Ora o ataque de ontem, tal qual como em Julho, em Suruç, aconteceu no decorrer de uma marcha pacífica, organizada por vários grupos da esquerda política turca, incluindo o Partido Democrático do Povo (HDP), pró-curdo. Em Suruç, como em Ankara, o HDP também estava na organização do evento.
Teoria da Conspiração
As eleições legislativas de 07 de Junho, correram mal ao Governo islamista do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), sobretudo pelo jogo duplo e permissivo que tem tido com o “ei”. Perdeu a maioria absoluta (258 assentos parlamentares, em 550 possíveis, 40,9%), sendo a grande surpresa desta eleição os 80 deputados eleitos (13,12%) pelo Partido Democrático do Povo (HDP), de esquerda e em aliança com o Partido Democrático das Regiões (DBP), pró-curdo. Criado apenas em 2012, o HDP trata-se do braço político do Congresso Democrático do Povo, que resultou do concentrar de todas as forças dispersas de esquerda, laicas e pró-curdas, para conseguirem ultrapassar os 10% de votos necessários para que possam ter assento parlamentar, de acordo com a lei turca.
Ou seja, foi esta coligação que retirou a maioria absoluta ao AKP, tão necessária para a tão desejada Revisão Constitucional que o Presidente Erdogan quer efectuar, para passar a ser o “Novo Sultão Otomano” e com plenos poderes. Para tal, convocou de novo eleições legislativas para 01 de Novembro e os acontecimentos de Julho e Agosto, até fizeram o AKP subir nas intenções de voto, em cerca de 4%.
Ainda ninguém reivindicou o atentado do 10 de Outubro, que talvez ultrapasse já os 100 mortos, mas à semelhança do de Suruç, talvez se venha a atribuir oficialmente o mesmo ao “ei”, enquanto o PKK aponta o dedo ao Presidente e ao Regime, acusando-os de colaborar com os islamistas do califado, no combate aos curdos.
Estaremos atentos às sondagens na Turquia, durante a próxima semana.