Portugal: para a esquerda ou para a direita?
Cavaco delegou na coligação Portugal à Frente (PàF) a tarefa de desenvolver os esforços possíveis para formar “um governo estável e duradouro”. Negociações com os vários partidos estendem-se pela próxima semana.
Depois de uma vitória nas eleições sem maioria absoluta, PSD e CDS tentam agora negociar com os socialistas em prol de uma estabilidade política para os próximos quatro anos. Mas António Costa não descarta, à partida, todas as possibilidades e marcou conversações com os outros dois partidos com maior assento parlamentar (Bloco de Esquerda e CDU) a fim de estudar uma possível coligação à esquerda.
Opiniões dos jovens dividem-se
O Tornado falou com alguns jovens de modo a perceber qual a sua opinião sobre o que seria melhor para o país: um governo PàF com o apoio do Partido Socialista (PS) ou uma coligação de governação à esquerda entre PS, Bloco de Esquerda (BE) e CDU.
Ricardo Belo tem 22 anos e é mestrando em Engenharia Electrotécnica e de Computadores. Refere que o melhor para o país é que a coligação do anterior governo continue à frente do país, com o apoio dos socialistas uma vez que “esta coligação é a mais lógica, mesmo que o PàF e PS não o digam. Têm várias ideias semelhantes e seriam a maior representação democrática do voto português”. Para ele, os programas apresentados por BE e CDU são incompatíveis com as anteriores medidas tomadas por PSD/CDS e sublinha: “É claro que estas coisas na política mudam, e já o vimos na nossa história, mas não penso que seja a melhor altura para experimentar”.
A mesma opinião é partilhada por David Silva, da mesma idade, que relembra o estado em que o anterior governo chegou ao poder: “Em 2011, o país estava à beira da bancarrota e neste momento apesar de debilitado, revela algum crescimento económico em virtude dos estímulos realizados pelo governo. É certo que não estamos bem, mas pelo menos estamos mais próximos do caminho certo”. Para o finalista de um Master em Finanças, um governo esquerdista seria um risco para a estabilidade do país.
Ana Henriques tem uma ideia bem diferente. Para a assistente dentária de 29 anos, deveria ser criada uma nova coligação entre PS, BE e CDU para governar o país. No seu entender, “os partidos à esquerda têm uma maior preocupação com os trabalhadores, como máquina para fazer andar o país, gerar economia, maior apoio e protecção a quem trabalha e quer trabalhar”. O mesmo motivo é apontado por Ana Veiga, de 23 anos, que acrescenta “tendo em conta que se intitula partido de esquerda, o PS deveria fazer corresponder a teoria à prática, uma vez que no último mandato se aproximou na maior parte das vezes do PSD”.
Pedro Coelho tem 24 anos, acredita que “um entendimento à esquerda deverá ter em atenção o que é mais essencial para as pessoas – a retoma da qualidade de vida e a maior justiça nas relações de trabalho – e deverá ser feito de compromissos de parte a parte”. O profissional da área da comunicação afirma: “Não me parece que seja minimamente coerente que o PS apoie a continuidade da coligação PSD/CDS, principalmente tendo em conta a campanha que fez – de denúncia e ataque aos excessos cometidos pela direita nestes 4 anos de governação, muito além da troika”.
Prioridades cruzadas
Nos seus programas, PS e PàF têm alguns pontos em comum. É o caso da segurança social (SS), em que ambos os partidos querem garantir a sustentabilidade, divergindo no modo de o fazer. Se por um lado PSD/CDS continuam com a ideia de corte nas pensões, os socialistas defendem a sua reposição. Para David Silva, a segurança social é o sector mais preocupante que “necessita de uma reforma rápida para atenuar ao máximo possível os efeitos dos fenómenos demográficos”. O acentuado envelhecimento populacional levará, segundo David, à subida da reforma para os 67 anos e a médio-longo prazo para 70 anos, para que se consigam equilibrar as contas entre dinheiro recolhido dos descontos de trabalhadores e dinheiro para pagar as reformas. Ana Henriques também aponta a SS como um sector importante; sublinha que é necessário “melhorar as condições e serviços do Serviço Nacional de Saúde, bem como todo o sistema de beneficiários e contribuintes, apoiando quem trabalha, quem necessita e não prejudicando cada vez mais quem já contribuiu e continua a contribuir”.
Outra das bandeiras dos dois maiores partidos com assento parlamentar é o emprego, que para Ricardo Belo é a prioridade neste momento, afirma que é preciso “criar mais emprego atraindo empresas e parar a fuga de cérebros que estamos a sentir no nosso país”.
Já para Pedro Coelho “a inovação e a ciência necessitam, urgentemente, de ser priorizadas. São elas que fornecerão as ferramentas necessárias para Portugal se tornar competitivo; não será uma política de baixos salários e precarização que resolverá o problema, muito pelo contrário, porque nos esvaziará dos mais qualificados quadros que temos produzido”.