André Singer, analista político e jornalista de São Paulo, falou acerca das suspeitas envolvendo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, no âmbito da Operação Lava Jato.
O antigo porta-voz do primeiro mandato de Lula da Silva no Palácio do Planalto, num artigo intitulado “Solução Manca”, publicado na Folha de São Paulo, comentou o pedido de detenção do antigo chefe de Estado: “talvez objective aumentar a participação nas manifestações de amanhã”, aludindo ao movimento Vem Pra Rua Brasil, que convocou manifestações de âmbito nacional para dia 13 de Março, em protesto contra o governo de Dilma Rousseff.
“Tal como o passo em falso do juiz Sérgio Moro ao autorizar a condução coercitiva do ex-presidente na sexta (dia 4), estimula a gana que determinados sectores de classe média cultivam em relação ao líder popular. Tais iniciativas podem ter êxito imediato, mas os custos futuros serão enormes”, sublinha o autor do artigo.
André Singer faz uma acusação clara
“Está em andamento um gigantesco mecanismo voltado para tirar de cena algumas das suas forças fundamentais. Atenção: constatar a onda que se forma não implica elidir as revelações da Lava Jato. No plano jurídico, cada um terá de explicar e pagar por eventuais erros cometidos. A questão é perceber as consequências de transformar um inquérito republicano em caça às bruxas”.
Os promotores têm como missão e trabalho investigar e proceder a acusações caso se comprovem as suspeitas
Embora o articulista concorde que os promotores têm como missão e trabalho investigar e proceder a acusações caso se comprovem as suspeitas, “há algo de profundamente errado quando as acusações ficam centradas em apenas um dos lados do jogo polar que o partido dos pobres e o partido da classe média disputam no Brasil”.
O analista político acredita que se deve apoiar “investigações técnicas, conduzidas com discrição e equilíbrio”, mas está contra o que chama de “selectividade, atentado aos direitos individuais, a hiper-divulgação de alguns factos em detrimento de outros”, que no seu entender, “ estão transformando o que poderia ser um avanço institucional em ameaça golpista, no sentido de usar truques para eliminar um dos participantes da peleja”.
Opositores do Partido dos Trabalhadores cogitam um possível governo Michel Temer
André Singer afirma que os opositores do Partido dos Trabalhadores (a que pertencem Lula e Dilma) “preparam-se para voltar ao poder. Cogitam um possível governo Michel Temer, em caso de impeachment . Ou um semi-presidencialismo, em que ocupariam o posto de primeiro-ministro sob a presidência de uma Dilma convertida em rainha de Inglaterra”, ironiza o autor, que vai ainda mais longe: “já articulam um programa liberal na economia, com reforma da Previdência e desmontagem da CLT . Propõem também reformas institucionais para diminuir o número de partidos e reintroduzir o financiamento empresarial da campanha. Nesse balaio entrariam todas as correntes (PMDB, PSB, PRB), desde que dispostas a eliminar o lulismo”.
Singer termina com uma reflexão
“Os luminares do PSDB esquecem que a democracia brasileira não funciona sem um forte partido autenticamente popular, o partido dos pobres. Foi assim com o PTB, depois com o MDB e hoje com o PT. Soluções que deixam a base da sociedade sem opção têm voo curto. Será possível que tenham desaprendido essa lição fundamental justamente aqueles que a formularam meio século atrás?”