Onde? Quem? Moro a um quarteirão da PUC, vesti-me e fui para lá.
Triste cena a que vi: um carro de som, um homem que se dizia ex-deputado (PSDB ou PMDB, não me lembro) contando que fora torturado na ditadura e que estávamos ameaçados pela ditadura da Dilma. E que a PUC, como instituição democrática, tinha que lutar, principalmente depois de a Folha ter noticiado que 80% dos brasileiros estão com Moro.
A Ministro Godói já estava fechada por um ou dois carros de polícia. Percebi que havia garrafa de cerveja e sanduíche largados no meio da rua, a turma que costuma fechar a rua (moçada) tinha saído de sopetão. A bagunça de toda noite nos bares estava muda como mudos ou quase mudos estavam os estudantes e professores, espectadores no prédio.
Olhei mendigo nos olhos tristes, olhei camelô nos olhos tristes, olhei uns gatos pingados todos com olhos baixos. Era tristeza.
Uns seis policiais estavam postados de braços cruzados atrás dos manifestantes, que eram poucos, garanto, o barulho que faziam, sim, era muito. Com o coração pesado, concluí que a provocação ficaria naquilo. Porque é muita provocação montar palanque de direita na PUC, é querer sangue!
Continuei vasculhando intenções nas pessoas poucas à minha volta, então vi chegar uma senhora com o filho vestidos com a bandeira do Brasil. Pensei: os manifestantes vão aumentar, os moradores vão aderir, mas não haverá confronto, porque os estudantes estão mudos, em estado de choque, certamente não serão intimidados por esses baderneiros.
Escutei comentários no caminho de que “os baderneiros petistas” estavam nas ruas. Queria explicar que não havia petista na rua e que esquerda não é baderna, mas de que adiantaria?
Fiquei desolada, estudei na PUC, entrei no jornalismo um ano depois da invasão do Erasmo Dias, a universidade vivia a paranóia (justificada) de outra invasão a qualquer momento.
Voltei pra casa. Em choque.
Daí escutei uma notícia na GloboNews. Daí foi pior. Daí vi a mentira encenada, dramatizada por jornalistas. Eles não disseram que os policiais chegaram “antes”, não disseram que os estudantes da PUC se comportaram muito bem até que as provocações e agressões aumentaram.
Se eu fosse um deles (estudante da PUC), partiria para a briga também, com certeza. Como é que um sujeito vem enfiar o dedo na sua cara, dentro da “sua” casa, falando insanidade e você não responde?
Na narração inventada da Globo, foi descrito assim, com poucas palavras e muita imagem violenta: “estudantes se confrontam, polícia teve que intervir dado o extremismo dos petistas”. E mais tarde tive que escutar pessoas comentando a Globo: “você não viu? Os petistas são encrenqueiros, violentos!”
Culpa do Lula, culpa do Moro, culpa da Globo…nada disso. A culpa é da nossa ignorância política. Seguimos a imprensa como o burro segue a cenoura. Vamos todos pagar o preço dos erros dos governos (petistas inclusive), das omissões, da corrupção, da crise econômica mundial, da volta do racismo, do retrocesso na sofrida democracia.
Por que é que defender a democracia é defender a Dilma, me perguntam às vezes. Nunca sei direito como responder, mas vou tentar: porque a Dilma é a primeira grande vítima do golpe e ela é presidente do Brasil.
Já escuto, imaginariamente, a réplica: “Mas eu não gosto da Dilma, só gosto da democracia”.
OK, então prepare-se para se defender sozinho quando a vítima for você porque hoje, você não sabe, mas estão defendendo você!