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Sábado, Dezembro 21, 2024

Hipátia de Alexandria

Maria do Céu Pires
Maria do Céu Pires
Doutorada em Filosofia. Professora.

Maria do Céu Pires

Na verdade, toda a História da humanidade é atravessada por momentos de erupção da barbárie. Esta não escolhe religiões, nem épocas, nem culturas, nem grau de instrução, pelo contrário, irrompe em qualquer momento e em qualquer lugar. É assim hoje. Foi assim em muitos outros tempos, por exemplo, na transição entre a Antiguidade clássica e a Idade Média.

O bárbaro assassinato de Hipátia de Alexandria (370-415), filósofa, astrónoma e matemática foi um dos episódios mais negros da história do fanatismo religioso. Esta mulher, a única que dirigiu a Academia de Alexandria, manteve viva a chama do pensamento helénico de raiz ateniense numa Alexandria dilacerada pelas lutas religiosas.

O seu brutal assassinato por uma multidão de fanáticos cristãos, marcou o fim do florescimento intelectual de Alexandria e o início de um período de conflitos sangrentos, de ódios e de perseguições. Com refere José Carlos Fernández: “ A Justiça e a Concórdia voltaram aos seus tronos celestes, abandonando as sombrias moradas dos homens que já não se reconheciam como tal, e o ideal de “cidadãos do mundo” que o Império Romano perseguiu e chegou a realizar, em grande parte, converteu-se numa quimera, num sonho impossível.”(1)

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Hipátia era filha de Téon de Alexandria, grande filósofo e matemático, que lhe transmitiu a atitude de curiosidade e de paixão pela procura do conhecimento. Juntos escreveram um Tratado sobre Euclides. Também é conhecida a sua forte ligação a Sinésio de Cirene, seu aluno (filósofo e bispo) com o qual desenvolveu estudos de Álgebra e instrumentos usados em Física e em Astronomia.

Morreu duas vezes: a primeira, quando foi atacada, na rua, por uma multidão de cristãos enfurecidos, arrastada e, posteriormente queimada; a segunda, quando foi, ao longo da história, ignorada, como se não tivesse existência. A história da Filosofia e a história da Ciência (escrita, como toda a História, pelos vencedores) passaram ao lado do seu pensamento, da sua obra e da sua vida. Tornaram-na invisível.

Se é verdade que o horror surge frequentes vezes no decorrer dos tempos, transformando os humanos em bestas ferozes, não é menos verdade que a fecundidade da procura da verdade, da beleza e da justiça nos acompanha igualmente e dá sentido à tarefa de realização da humanidade, em cada ser humano.

A alma inquieta e desperta de Hipátia continua na demanda da harmonia. E permanece viva nos que, hoje, resistem ao fanatismo.

(1) FÉRNANDEZ, José Carlos, Hipátia – Na demanda da alma dois números, Edições Nova Acrópole, 2010, p. 12

 

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