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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

O medo de estarmos sempre a perder alguma coisa

Ana Pinto-Coelho
Ana Pinto-Coelho
Aconselhamento em dependências químicas e comportamentais, Investigadora Adiction Counselling

Fear of missing out – conhecido simplesmente como FoMO – é o sentimento de que os outros estão a ter mais do que nós: mais diversão, mais dinheiro, melhor carreira, mais viagens, mais experiência ou, simplesmente, fazem as coisas melhor do que nós.

É um sentimento diferente da inveja, já que esta pode conduzir à raiva, ao ressentimento, fúria, mas não traz a mesma sensação de “vazio” que o FoMO promove.

O medo de se estar a perder alguma coisa está ligado ao sentimento de insatisfação – mais ou menos permanente – e pode levar a estados de ansiedade e até mesmo de depressão.

Como nos explica a Dra. Darlene McLaughlin, especialista em comportamentos, “o FoMO tornou-se galopante na sociedade em que vivemos, já que é mais fácil vermos um nosso semelhante a conseguir ter algo que almejamos”. De alguma maneira, na nossa mente, isso transforma-se num sentimento de perda, como se o que o nosso par conseguiu ter, nos tivesse sido roubado.

O medo de estar a perder algo, manifesta-se em forma de ansiedade ou de tristeza profunda, muitas vezes sem se perceber muito bem porquê. Estamos a observar uma situação feliz, um evento que consideramos importante, e sentimo-nos subitamente tristes. Inconscientemente, queríamos estar ali também. Mas não estamos.

As redes sociais ajudaram a um enorme crescimento deste sentimento nas pessoas: ao ver o que os pares exibem, (a tendência é sempre mostrar momentos felizes, festas, viagens, um mundo quase perfeito), lá vem o FoMO. Não estamos lá, não vivemos aquele evento, não estávamos na festa, em suma, sentimo-nos excluídos de algo a que muito provavelmente nem teríamos escolhido ir, se pudéssemos.

FomoNos adolescentes o sentimento de estar a perder algo é quase permanente. No Instagram, no Facebook, um pouco por todo o lado, os amigos estão a viver muito mais do que eles! O colega que viajou de férias para a Malásia e publica dezenas de  fotografias paradisíacas, o amigo que não passa uma semana sem entrar no Lux e está sempre rodeado de gente famosa, a amiga que consegue ter sempre as roupas mais giras e publica no Instagram verdadeiros desfiles. Tudo pode acontecer e tudo é melhor do que a vida que ele tem.

De repente, cresce a ansiedade. Voltam a tristeza e o vazio. Afinal, porque é que a vida deles é tão melhor do que a minha? Porque é que não estou ali? Porque é que não vivo tanto quanto eles?

Num adulto é igual. Talvez com outro tipo de situações, – “you name it…” – mas aquele nó na garganta, já ninguém lho tira. Afinal, aquele conseguiu promoções no emprego e mostra não ter problemas financeiros, o outro seguiu carreira por conta própria e até já conseguiu franchisar a ideia. O outro foi para fora e vive numa casa absolutamente fantástica, tem uma família feliz e conseguiu fazer-se vingar numa profissão que aqui em Portugal seria impensável. Pois foi… eles conseguiram ir estudar para fora, onde dão valor às boas ideias e a partir daí todas as portas se abriram.

Há quem chame ao FoMO primo direito do YOLO (que significa “You only live once”). Se só se vive uma vez e temos de “carpe diem”, então estamos definitivamente a perder um ror de coisas. Sobretudo se compararmos com o que vemos os outros fazerem nas redes sociais. Afinal, onde é que falhámos?

A verdade é que esta tristeza que se transforma num enorme vazio bate com força e desmoraliza. A auto-estima vem de repente por aí abaixo, os olhos focam o vazio, o desespero apresenta-se nas mais diversas formas e este medo de se estar, constantemente, a perder alguma coisa (importante) instala-se. E pode ser grave.

Por isso é tão importante não só falar-se no FoMO, como também saber o que se pode fazer para o combater.

Podemos começar por aqui:

  • Controlar os pensamentos negativos. Manter um diário de pensamentos negativos pode ajudá-lo a identificar aqueles que não estão mesmo a ajudar.
  • Substituir os pensamentos negativos. Pergunte a si próprio se esses pensamentos são razoáveis e use palavras mais suaves para os descrever, minimizando o poder das palavras que escreveu.
  • Faça cenários e suposições. Por exemplo, pense que aquilo que os seus amigos e colegas publicaram nas redes sociais não é de todo a sua vida real. Existem, com toda a certeza, outras facetas nas suas vidas, muito menos eufóricas e bem-sucedidas.

 

Parte da ansiedade que se vive hoje em dia, a nível social, tem a ver com o medo permanente de se ser julgado e criticado. Existe o embaraço, a vergonha, o desconforto. De quê? Da eventualidade de vir a ser confrontado com algo que o vai fazer sentir embaraçado socialmente – seja no mundo real como no virtual.

Recapitulando: FoMO é uma emoção – impulsionada por pensamentos – que pode criar o medo e ansiedade e que pode levar a um diagnóstico de saúde mental.

É também um sintoma a que se deve prestar muita atenção, ou passaremos a ter problema ainda maior para tratar!

Portanto, se sente que está a perder algo, faça alguma coisa para mudar. Afinal todos temos também sempre algo a agradecer!

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