Lançados em 2010 pelo presidente Obama, estes encontros permitiram uma profícua troca de informações e alguns importantes compromissos voluntários concretos por parte dos países participantes, no sentido de reforçar a protecção dos materiais nucleares.
Entre as suas realizações contam-se a recuperação e/ou destruição de mais de 1500 kilogramas de urânio enriquecido, a criação de centros de formação especializados e o reforço da legislação sobre segurança nuclear na maioria dos países participantes.
Desde o fim da URSS, em 1991, a possibilidade de grupos terroristas poderem ter acesso a instalações nucleares ou materiais radiológicos que permitam o fabrico de armas atómicas tem sido uma das maiores dores de cabeça em termos de segurança no mundo inteiro.
Na altura, um acordo crucial entre os EUA e a Rússia permitiu retirar com eficácia as armas atómicas estacionadas em diferentes repúblicas, desmantelar os silos nucleares e desmontar as ogivas instaladas em bombardeiros e submarinos, reforçando ao mesmo tempo a segurança em torno das instalações nucleares.
Contrariamente ao que se temia, não há notícia de ter desaparecido qualquer arma nuclear soviética, o que é um feito notável se tivermos em conta a profunda crise económica, a grande turbulência política e a agitação social que se viveram nesses anos dramáticos, com quebra drástica no financiamento das estruturas de segurança e a pauperização generalizada, incluindo dos membros das forças armadas.
A cooperação entre os EUA e a Rússia foi também decisiva para se conseguir, em Julho do ano passado, o acordo nuclear com o Irão e, mais recentemente, os entendimentos com vista a terminar a guerra na Síria. Tanto mais estranha é por isso a ausência dos russos do encontro de Washington, agora que se esperava que o bom relacionamento entre os ministros dos negócios estrangeiros dos dois países – Kerry e Lavrov – se pudesse alargar também à Ucrânia.
O embaraçado silêncio de Obama face à reconquista de Palmira pelo exército sírio com a ajuda da aviação militar russa, a maior derrota até agora imposta ao Estado Islâmico, foi, na semana finda, um sinal mais de que as relações entre Washington e Moscovo permanecem muito tensas, o que não augura, pelo menos a curto prazo, boas perspectivas para o desarmamento nuclear.
Pelo contrário, face aos desenvolvimentos dos últimos anos – sobretudo a partir do derrube violento do governo em Kíev e a reanexação da Crimeia pela Rússia que se lhe seguiu, com violentos combates entre tropas ucranianas e milícias pró-russas no leste, onde permanece uma situação indefinida – o que vemos é uma tendência para a escalada no armamento de uma parte e de outra, que pode vir a incluir armas atómicas.
Além disso, uma série de outras questões permanecem em aberto. Por um lado, as potências nucleares resistem em dar garantias de que nunca atacarão os estados sem armas atómicas, ao mesmo tempo que se mostram indisponíveis para desarmar ou sequer reduzir os seus próprios armamentos nucleares, limitando-se a querer impor aos outros a não proliferação, mantendo para si uma espécie de terreno de caça reservado.
Dado que pelo menos mais uma dezena de outros Estados dispõem hoje da tecnologia para fabricar armas nucleares, a situação permanece instável e a tendência – a manter-se o actual quadro – será para se repetirem tentativas, ainda que envoltas em profundo segredo, de entrar nesse clube restrito.
Por outro lado, é insustentável que as medidas de reforço da segurança dos materiais nucleares continuem centradas somente nas áreas civis, quando a maioria desses materiais – mais de 80% – estão no sector militar, onde ninguém entra!
Em resumo – para haver avanços nesta área crucial, da qual depende o próprio futuro do planeta, terá de haver um clima de maior confiança, promovido no quadro das instâncias internacionais apropriadas como a Agência Internacional da Energia Atómica, sediada em Viena. E aí, a Rússia não poderá ser ignorada nem se poderá esquivar das suas próprias responsabilidades.