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Sábado, Julho 27, 2024

Alterações climáticas: o problema está a agravar-se

Citando um estudo publicado em finais de Março pela revista Nature, constata-se que o aquecimento global pode vir a derreter a zona ocidental da parte polar da Antárctida em décadas, muito mais rapidamente do que os cientistas previram.

clima2O colapso desta calota polar, combinado com o degelo noutras regiões, poderá causar a subida do nível das águas do mar em 1,82 metros em 2100 – o dobro do que foi apontado no mais negativo dos prognósticos, num estudo levado a cabo por um grupo de especialistas das Nações Unidas há três anos atrás.

Isto significa que cidades costeiras como Nova York, Shangai, Miami, Veneza, Sydney e Hong Kong podem correr um risco real de inundação antes do fim deste século.

Os autores deste estudo (Robert DeConto da Universidade de Massachusetts e David Pollard da Pennsylvania State University) acreditam, porém, que o degelo da Antárctida Ocidental não é inevitável, mas os níveis de redução de emissões tóxicas do Acordo de Paris de 2015 são insuficientes para travar esse fenómeno.

“Não dizemos que isto vai acontecer”, disse Pollard ao New York Times, “mas acho que estamos a chamar a atenção para o perigo que existe, e que deveria merecer mais atenção”.

 

O que aconteceria às populações

A meio de Março, um outro estudo liderado por Deepak Mishra, docente de Geografia na Universidade da Georgia, calculou quantas pessoas poderiam perder as suas casas.

clima1A confirmarem-se os piores cenários de subida do nível das águas marítimas, em cidades costeiras, 13 milhões de norte-americanos estão em risco. Os cientistas analisaram as mudanças no nível das águas do mar até 2100 a partir de cenários do US Oceanic and Atmospheric Administration, no que respeita aos estados costeiros, combinando com tendências de crescimento populacional e projecções em áreas de alto risco.

O estado da Florida é a região que mais risco apresenta, com áreas costeiras densamente populosas: 6 milhões de habitantes estão em risco de ficarem desalojados.

Segue-se o estado do Louisiana com 1,29 milhões de habitantes em risco, o estado da Califórnia com 1 milhão e 901 mil pessoas no estado de Nova York. O estado com menor número de habitantes em risco de desalojamento por inundações, por subida do nível das águas marítimas, é o da Carolina do Norte (298 mil pessoas).

 

Gelo do Mar Ártico com a mais baixa expansão de sempre

Esta afirmação é feita num outro processo de investigação, cujo resultado foi publicado pelo National Snow and Ice Data Center dos EUA que apresentou provas de que o gelo no Mar Ártico teve o seu mais baixo nível de expansão no Inverno passado, desde que os registos começaram a ser feitos há 40 anos.

A NASA anunciou duas missões exploratórias àquela região do globo, para estudar o mar de gelo que está a desaparecer. O cientista da organização, Walt Meier, disse que o fenómeno “está a ser ‘turbo-carregado’ pelo aquecimento no Ártico. Temos visto temperaturas de 10 a 15 graus Fahrenheit (entre 12 a 9 graus negativos Celsius) acima do normal. E temos visto o mar de gelo do Ártico, que se expande no rigor do Inverno, a crescer mais devagar porque está mais calor do que o normal. Além disso, está a cobrir menos área do que o que seria habitual”, explicou o cientista da NASA.

 

Corporação petrolífera sob investigação

Um grupo de procuradores-gerais norte-americanos anunciou um processo de investigação sem precedentes visando corporações petrolíferas. Suspeita-se de que empresas como a ExxonMobil tenham enganado o público no que respeita ao assunto das alterações climáticas.

O New York Times citou os procuradores-gerais do estado do Massachusetts e das Virgin Islands, que anunciaram terem-se juntado ao procurador de Nova York e outros procuradores de quinze estados.

Numa conferência de imprensa, onde esteve presente o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, Eric T. Schneiderman, o procurador-geral de Nova York, anunciou que deu início à investigação em Novembro; a equipa do responsável está a analisar se documentos enviados pela companhia petrolífera a investidores mentiram sobre os riscos climáticos.

petroleoParte do inquérito incide sobre o financiamento da ExxonMobil, durante uma década, por grupos exteriores que negam o fenómeno das alterações climáticas.

Em simultâneo, cientistas da companhia alertavam para as consequências desse fenómeno. É possível que outras companhias petrolíferas venham a ser investigadas, mas nenhum nome foi divulgado até agora.

Vários juristas questionam se as acções da ExxonMobil podem ser constituídas como criminosas e fora das protecções da Primeira Emenda da Constituição dos EUA. Em resposta, o procurador-geral nova-iorquino disse que a Primeira Emenda ”não nos dá o direito de cometer fraudes”; várias leis existem como suporte para o trabalho dos procuradores nos respectivos estados.

Schneiderman chegou a acordo em 2015 com a Peabody Energy, uma companhia de carvão, sobre as contas da companhia e revelações visando as alterações climáticas.

O estado da Califórnia começou, este ano, a sua própria investigação à ExxonMobil, mas só na data da conferência de imprensa outros estados anunciaram apoio a este inquérito. A lei prevê troca de informações entre os estados sob acordos de confidencialidade, e crescem rumores de que Scheiderman vai procurar convencer outros procuradores-gerais para a investigação que lidera.

No ano passado, dois jornais divulgaram artigos da ExxonMobil que descreviam a investigação da companhia sobre os riscos das alterações climáticas.

Isso despoletou a indignação de activistas do ambiente, enquanto que a vice-presidente da ExxonMobil, Suzanne McCarron, disse que as acusações eram “politicamente motivadas e baseadas em relatórios sem crédito de organizações”.

Insiste que a companhia “reconhece os riscos que as alterações climáticas acarretam” e que “as investigações que visam a nossa companhia ameaçam ter um efeito assustador na investigação do sector privado”.

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