“Para que serve um ministro da Cultura?”, perguntou o mais velho. “Se a cultura vem do povo, porque tem de ter um chefe?”, acrescentou, entre uma garfada mal dada e um encolher de ombros que, aos 13, não se sabe que é o sinal da retórica.
Não lhe valeu a explicação da rede de cine-teatros ou museus, pouco quis saber dos subsídios: “Se é para dar dinheiro basta o ministro das Finanças”, rematou à minha prolongada resposta. E tudo o resto era dado como perdido.
Um maldito tique de esquerda saltou-me ao coração: a direita é que tem a idade mental dos 13 e por isso nunca dá à Cultura o ministério. Porque não a percebe. Mas assaltado na própria casa pelo meu adolescente privado, confrontado com o óbvio, um homem definha entre a sua esperança e o desassossego de não ter sabido responder. Por isso, Manuel, aqui vai parte da resposta que não te dei, por me ter atrapalhado:
O Ministério da Cultura é o mais importante de todo o Governo e, sim, terás razão quando argumentas que nunca devia andar longe do da Educação. A cultura é, diz-se, tudo o que resta depois do supérfluo ter desaparecido. É o que mais livre o ser humano tem. Não necessita de cultura para o estômago, mas foi através do cérebro que o sapiens sapiens venceu a batalha contra todos os outros predadores. Por isso, é a cultura que nos distingue dos animais irracionais.
Podia haver três ministérios, apenas: o da Alimentação, o do Crime e o da Cultura e Educação. Seriam a base de tudo.
O problema, Manuel, é que os ministérios da Cultura, quando os há, servem exactamente para o que dizes: distribuir dinheiro e fazer obras, com umas excepções pequenitas aqui e ali. Além, naturalmente, de reservar meia dúzia de euros para livros, filmes, uns discos promocionais e um dinheirito para a RTP.
Ora, um ministério da Cultura não pode ser isto porque, como bem afirmas, a cultura vem do povo. Não é a popularucha, eu sei que não defendes (só) a ópera contra o Tony Carreira. Nem sequer contra, porque os dois têm lugar.
O que o Ministério da Cultura deve fazer é muito mais. Mas conto-te isso amanhã, com calma, aqui. Não é coisa que se trate com a simplicidade de uma conversa de jantar.
E acaba lá de comer, senão prometo-te um par de tabefes! [ estava a brincar ;-) ]